O comércio exterior como uma ferramenta de recuperação econômica pós-COVID

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***Por Marcelo Gomes

Desde o fim de 2019, o mundo tem assistido ao avanço da pandemia do novo coronavírus. Com os primeiros casos sendo registrados em território chinês, a doença logo se espalhou pela Ásia. A globalização e sua decorrente interconectividade, o intenso fluxo de pessoas e viagens tornou praticamente incontrolável a dispersão do vírus em escala global. Países logo trataram de suspender voos, a entrada de estrangeiros e mesmo viagens internas. Em pleno século XXI, a sociedade da informação caracterizada por seus fluxos rápidos de informação, bens, serviços e pessoas se viu de volta ao cenário apocalíptico descrito em A Peste, pelo nobel de literatura Albert Camus, em 1947.

Apesar da velocidade de transmissão e a amplitude geográfica da contaminação, o vírus tem se espalhado de maneira assimétrica tanto no tempo quanto no espaço. A Ásia, inicialmente afetada pelo vírus, hoje se vê livre de maiores complicações. A Europa comoveu o mundo com seu alto índice de casos, ultrapassando os números da China, mas hoje flexibiliza o isolamento e já nem exige mais o uso de máscaras em vias públicas, como é o caso de Paris. Os Estados Unidos dão indícios de terem atingido uma estabilidade que, como mostraram os demais países, tende a decrescer com o tempo até um possível retorno à normalidade.

A América Latina foi uma das últimas regiões afetadas pela crise causada pelo Covid-19. Por aqui, os estudos sugerem que ainda não atingimos o pico de infecções, mas já sentimos o peso do luto e da contração econômica que as medidas de isolamento provocam. Apesar da indescritível tragédia que nos abala, é preciso que nos prepararemos e nos antecipemos com relação à próxima crise: a econômica.

O combate à doença é fundamental e a ênfase em salvar vidas deve ser mantida. No entanto, assim como os profissionais da saúde estão na linha de frente no combate ao vírus, uma parcela da sociedade deve se mobilizar para evitar o prolongamento dos efeitos danosos quando a questão sanitária estiver controlada. O setor produtivo deve liderar o movimento de retomada econômica e se antecipar para que possamos atenuar seus efeitos na sociedade, refletindo sobre as soluções que nos permitirão reconstruir nossas vidas depois deste infeliz período.

Frente à crise que se alastra a passos largos, uma oportunidade surge: as assimetrias geográficas e temporais do coronavírus permitem que diversifiquemos nossos mercados e, desta forma, salvemos vidas e empregos. Não é preciso mencionar, nesta relação, o que é mais importante. A todos nós cabem os esforços para lutar contra a doença e cabe ao setor produtivo mobilizar-se em busca de soluções para atenuar a crise econômica que nos aflige.

Enquanto o Brasil ainda está mergulhado no combate ao vírus e tem dificuldades na manutenção do comércio e dos serviços por conta do distanciamento social, grande parte dos mercados asiáticos e europeus retomam a normalidade. Esta configura uma oportunidade para que a produção brasileira diversifique seus mercados e não se mantenha refém do mercado nacional em recessão. A conjuntura atual com a alta do dólar, as baixas vendas internas e as facilidades oferecidas pelas tecnologias de comunicação propicia um cenário promissor para o aprofundamento das exportações brasileiras. Por um lado, devemos incentivar as empresas exportadoras a aprofundar sua produção para o mercado externo e, por outro, encorajar empresas a se integrarem ao mercado global, iniciando seu processo de internacionalização.

Cabe às entidades, profissionais da área e dos governos, em todos os níveis, atuar para facilitar o escoamento de nossas produções e, mais do que nunca, facilitar nossa inserção internacional lutando contra as barreiras comerciais tarifárias e não-tarifárias. As isenções fiscais, a facilitação do comércio e a remuneração em moeda estrangeira constituem importantes incentivos para que o setor empresarial abrace, de vez, este projeto.

O Brasil enfrenta um dos momentos mais difíceis, tristes e delicados de sua história. É preciso a união de todas as forças para enfrentarmos os desafios da doença e suas externalidades, principalmente no campo econômico para que não prolonguemos ainda mais o sofrimento que nos assola. Juntos e integrados ao mercado global seremos mais fortes para vencermos a doença e a crise.

*** Marcelo Gomes é mestre em Inovação e Sustentabilidade, fundador da Rede Goiás Internacional e coordenador de Relações Internacionais da Confederação Nacional de Jovens Empresários (CONAJE).

Crédito da imagem de capa: Reprodução/Avigator Fortuner, Shutterstock

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