A Constituição Federal diz que os trabalhadores têm direito a cinco dias corridos de licença-paternidade, contando desde o dia do nascimento da criança ou o início do convívio familiar. Mas a regra estabelecida em 1988, além de ir contra a igualdade de gênero, é totalmente inadequada para as configurações familiares atuais, que incluem pais solteiros e casais homoafetivos.
Para atender a demanda de funcionários e as exigências por maior diversidade, algumas empresas vêm adotando uma licença parental estendida, com o período de até quatro meses, mais próximo da licença-maternidade. É o caso da Merck, que passou a oferecer 60 dias de afastamento a partir do início deste ano.
“O objetivo é reforçar a presença dos pais ou do segundo cuidador nas famílias, o que é fundamental para o desenvolvimento do bebê”, diz Edise Toreta, head de Recursos Humanos da Merck Brasil e América Latina. “Inovar e crescer como empresa é valorizar o diferente, a diversidade, a inclusão e a equidade.”
Outra empresa que disponibiliza globalmente o benefício é a Meta (ex-Facebook). Na companhia criada por Mark Zuckerberg, o funcionário tem direito a quatro meses e ainda pode escolher o melhor período para tirá-los: após o nascimento ou adoção, ele tira os cinco dias previstos por lei e o restante pode ser dividido ao longo dos 12 meses seguintes.
“Assim, o homem pode dar apoio à sua parceira ou parceiro e participar melhor da fase inicial da vida do bebê”, comenta Thais Mingardo, head de Remuneração e Benefícios da Meta para a América Latina.
“Um núcleo familiar feliz é um passo fundamental para termos profissionais mais dispostos e criativos.”
Segundo a executiva, a Meta se esforça para criar um ambiente em que os funcionários se sintam seguros em sair de licença. “Ainda é comum que trabalhadores se sintam receosos em aproveitar benefícios, por achar que podem gerar impactos em sua carreira.”
Além de favorecer casais homoafetivos e pais solteiros, o benefício contempla a igualdade de gênero, partindo do princípio que tanto mãe quanto pai precisam de tempo junto dos recém-nascidos. “Cuidar dos filhos é uma missão que deveria ser dos dois”, afirma Graziella Di Battista D’Enfeldt, VP de Gente do Grupo Boticário.
No segundo semestre de 2021, o grupo se tornou uma das primeiras empresas brasileiras a oferecer licença parental remunerada de quatro meses aos seus 12 mil colaboradores. Até o fim do ano, 60 pais já haviam desfrutado do benefício.
“Quanto mais pessoas tiverem o suporte para essa missão nobre de ter um filho, melhor será a educação do país”, diz Graziella.
Além de gerar mais engajamento na equipe, a novidade gerou histórias como a de Douglas Gutierres, especialista em privacidade de dados do Grupo Boticário, que foi contratado no nono mês de gravidez da parceira e passou os primeiros 120 dias de emprego afastado da empresa. “É um círculo virtuoso: ao ser generoso com o colaborador, ele volta muito melhor, mais conectado conosco”, afirma a executiva.
Com informações Época Negócios