A recuperação do setor energético diante da pandemia de Covid-19 deveria estar acelerada, mas o cenário do segundo semestre de 2021 é desanimador e mostra que, não só no Brasil, mas mundialmente, a reabilitação está, na verdade, em desaceleração. A Agência Internacional de Energia (IEA) apontou, neste mês de outubro, que a crise energética é global, deve aumentar a demanda por petróleo e impulsionar a inflação.
Os preços de energia têm subido para níveis recordes diante do aumento do petróleo e do gás natural que dispararam recentemente. Na China, uma crescente crise no fornecimento de energia está forçando as fábricas a cortar a produção, ameaça desacelerar a vasta economia daquele País e coloca pressão nas cadeias de fornecimento do mundo todo.
No Brasil, a crise energética acompanha a escassez hídrica, classificada como a pior em mais de nove décadas. Relacionada à falta de chuvas, às mudanças climáticas, o que levam aos níveis baixos dos reservatórios de usinas hidrelétricas.
Na tentativa de compensar a baixa produção, as usinas termelétricas estão sendo acionadas com custo alto de operação, o que faz com que os preços das contas de energia disparem em momento em que buscaríamos a recuperação da economia e que muitas vezes seria necessária uma alta no consumo de energia.
Em análise de segmento, percebemos o impacto direto da crise energética nas prestadoras de serviço das concessionárias de energia. O abastecimento de materiais para as empresas que atuam na área está afetado. Falta material elétrico, insumos de produção, e em médio prazo, poderá prejudicar o fornecimento de energia. Vivemos um risco de apagão, um colapso do setor se não tiver um olhar diferenciado das agências reguladoras e uma compreensão das próprias concessionárias – não adianta, em período de escassez, usar do rigor extremo nas exigências, se mesmo elas não conseguem disponibilidade dos itens de manutenção do setor. É preciso visão estratégica e cooperação para não prejudicar o sistema elétrico e o consumidor final.
Esse desabastecimento foi inicialmente causado pela interrupção da produção da indústria durante o isolamento em virtude da pandemia de Covid-19. Depois deste período, a demanda disparou e até hoje as prestadoras de serviço disputam o estoque industrial disponível. Que, destaca-se, é insuficiente.
Além das perdas significativas relacionadas ao fornecimento de energia, os prejuízos trazidas às empresas prestadoras de serviços energéticos podem significar indiretamente cortes em investimentos e pessoal.
As empresas enfrentam diariamente atrasos causados pela escassez e problemas no transporte global trazidos com a crise energética. Fornecedores nacionais e internacionais tentam se preparar para mais impactos. As expectativas de crescimento caem drasticamente.
Essa não é a primeira e não será a última crise energética no Brasil e no mundo. Mas a falta de planejamento de longo prazo tem sido uma constante. Não é possível mais buscar soluções somente quando uma nova crise aparece.
É natural que as empresas sempre busquem produtividade e redução de custos de modo geral. Mas o cenário da crise energética somado à inflação e ao desabastecimento, impactando os orçamentos atuais, faz urgir a necessidade de dar passos além, ter um visão mais coletiva do que uma visão burocrática e protocolar.