Pandemia, bancarização e tecnologia

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Alberto Barbo*

Até o ano passado, estimava-se que cerca de 48 milhões de brasileiros não tinham conta em uma instituição financeira. Isso significa que 1 em cada 10 adultos no país estava fora do sistema bancário. É um contingente do tamanho da população da Espanha. Este cenário, porém, está sendo drasticamente alterado em 2020 em função dos efeitos gerados pela pandemia de Covid-19 em todo mundo.

O isolamento social trouxe uma expansão na quantidade de contas digitais para instituições financeiras. Na esteira desse movimento, os bancos tiveram que se ajustar rapidamente à maior demanda por serviços prestados em plataforma digitais e relacionados a cartão de crédito.

Entre a população mais carente, a bancarização de milhões de brasileiros ocorreu em função do pagamento do Auxílio Emergencial do Governo Federal, o que obrigou os bancos públicos a abrirem contas digitais para pessoas que sempre foram invisíveis para o sistema financeiro.

Este cenário trouxe também uma nova realidade para milhões de brasileiros: a inclusão digital. Sem poder ir aos bancos, brasileiros tiveram que usar apps para fazer consultas, transferências e até pagamentos por meio de cartão virtual ou QR Code, aproximando o celular das maquininhas dos estabelecimentos comerciais. Também levou milhares de pessoas a buscarem carteiras virtuais para poderem sacar o dinheiro do benefício.

Este novo contexto de mundo virtual está cada vez mais introduzido na rotina das famílias. Esta foi inclusive uma das tônicas da primeira versão digital da Campus Party, realizado este mês, com o tema Reboot the World (reiniciar o mundo), do qual a Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg) participou.

As equipes selecionadas durante o Campus Party pensaram e desenvolveram seus projetos com foco na simplificação da rotina das pessoas, com o uso de inovação e tecnologia, aumentando vendas, evitando contato entre pessoas, fortalecendo a economia circular e ainda diminuindo riscos de fraudes.

Em todas as soluções discutidas, o ponto comum foi o meio de pagamento. As fintechs, startups financeiras totalmente digitais, nas quais o uso da tecnologia é o principal diferencial em relação às empresas tradicionais do setor, estão ocupando espaço e exigindo que os bancos tradicionais se reinventem. Fintechs desenvolvem parte das demandas de rotinas financeiras para bancos, como as carteiras digitais e, em alguns casos, oferece a solução completa como Nubank, C6 e Inter.

A pandemia acabou acelerando o que já era uma tendência. Apenas cinco bancos concentram os maiores lucros e criam um padrão de desigualdade do ponto de vista competitivo. É um sistema fechado em que o banco se considera dono da informação de cada cliente, inviabilizando que ele tenha acesso a produtos e serviços mais baratos.

A entrada em vigor do open bank, que começa a ser implementado este ano no Brasil, será um grande avanço para o mercado financeiro nacional e trará benefícios para o consumidor, como aumentar a competitividade e permitir que novos tipos de negócio entrem com força no mercado.

O sistema vai facilitar o compartilhamento de informações financeiras de clientes entre as instituições e, consequentemente, movimentar o setor para oferecer melhores serviços e preços. Quem quiser permanecer no mercado terá que mostrar diferencial e a tecnologia será preponderante.

Ao participar do Campus Party, juntamente com dois outros diretores da ACIEG, Pedro Renan e Cláudio Ávila, contribuímos com outras entidades (FIEG, FAEG, Sebrae, Fapeg, UFG, Governo de Goiás) na promoção do ambiente de inovação em Goiás. O resultado demonstrou não estarmos apenas em uma região consumidora de tecnologia e inovação, mas também geradora.

Fato que ficou estampado na motivação empreendedora e de liderança demonstradas na rotina do Hackaton, que é uma maratona dentro do Campus Party de programação na qual hackers se reúnem por horas, dias ou até semanas, a fim de explorar dados abertos, desvendar códigos e sistemas lógicos, discutir novas ideias e desenvolver projetos de software ou mesmo de hardware.

Faz parte da essência da mais antiga entidade classista de Goiás, a ACIEG, promover, provocar e apoiar estas iniciativas ricas de ideias e motivadas para que a maior beneficiada seja a sociedade.

*Alberto Barbo é CEO do Astana Pay e Head de Inovação da ACIEG

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