O mercado de ações não é um bicho de sete cabeças

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Por Gibran Estephan*

Falar em Bolsa de Valores para os brasileiros em geral ainda causa um certo desconforto. Algumas razões fundamentam essa sensação: a falta de educação financeira, de uma cultura de aplicações de risco e a ausência de visão de investimentos de longo prazo. Os arrepios que a bolsa causa, pelo o sobe e desce das ações, resultantes da valorização e desvalorização, faz com que muita gente passe longe de investir seu dinheiro neste tipo de modalidade. Há uma visão negativa predominante no Brasil sobre o risco e uma postura imediatista quando se fala em retorno de aplicação.

Em 2019, tivemos uma boa notícia. A Bolsa de Valores, hoje conhecida como B3, anunciou recentemente que atingiu a marca de um milhão de investidores pessoa física. É um marco importante, que mostra um avanço – ainda que pequeno, porém relevante – de que o mercado financeiro está despertando o interesse das pessoas, principalmente no cenário econômico que vivemos atualmente. Há 10 anos, o presidente da BMF & Bovespa – nomenclatura da bolsa de valores de São Paulo na época – acreditava que neste ano essa marca chegaria a cinco milhões, o que mostra o quanto ainda temos que caminhar para o amadurecimento desse mercado.

Com a taxa Selic na casa dos 6,5%, as aplicações mais conservadoras como os fundos DI e a poupança estão com os rendimentos muito abaixo do esperado – elas já não rendem grandes lucros – o que tem feito muita gente sair da zona de conforto e se arriscar em aplicações um pouco mais agressivas.

De forma enraizada, o brasileiro é adepto da cultura do baixo risco, da baixa perda. Ele se acostumou a receber 1% de rentabilidade ao ano, enquanto o patamar da Selic conseguia entregar esse rendimento. Mas, com a descida da taxa ladeira abaixo – de mais de 14% para a média de 6% – esse índice não passa de 0,6%, tornando essas alternativas menos atrativas. Isso fez com as pessoas deixassem o medo de lado e, de forma gradativa, começassem a ir para o mundo das ações.

Porém, a falta de conhecimento sobre como funciona o mercado financeiro ainda deixa muita gente de fora da realidade do universo das ações. Nas gerações anteriores, a dificuldade de acesso às informações sobre como aplicar na bolsa e seu mecanismo de funcionamento era maior. Era preciso ter um conhecimento muito especializado para operar, o que acabou limitando a entrada de mais pessoas no mercado financeiro.

Mas esse cenário está bem distante da realidade dos Millenials e até mesmo da geração Z, cujo acesso à informação se tornou abundante por conta da internet. Além de encontrarmos tudo o que quisermos sobre o assunto, temos ainda os canais de educação financeira no YouTube, que hoje são bastante populares e ajudam as pessoas a darem seu primeiro passo para se tornarem investidores. Hoje é possível movimentar as carteiras de ações pelo celular, sem precisar sair de casa.

Para ingressar no mercado financeiro, os brasileiros mais ressabiados escolhem os caminhos de risco moderado, escolhendo produtos menos voláteis, como é o caso dos fundos de investimentos imobiliários, modalidade que vem crescendo significativamente nos últimos anos, por serem produtos mais estáveis e sofrem menos oscilações. Um gestor fica responsável por cuidar da gestão dos ativos, auxiliando quem não tem tempo de cuidar disso. Seu trabalho é entregar o melhor retorno.

Voltando lá em 2009, na fala do ex-presidente da antiga BMF&Bovespa sobre os cinco milhões de investidores, eu acredito que essa marca será possível de ser atingida. Vamos pensar em 2029, porém o caminho será longo para chegarmos nessa marca. Se não houver estímulos para promover a educação financeira desde a base e a taxa de juros voltar a atingir dois dígitos, os brasileiros voltam correndo para as aplicações conservadoras e fogem do risco, perdendo a oportunidade de rentabilizar melhor o seu dinheiro e ter um futuro mais próspero. Conhecimento é um bem que faz a diferença.

*Gibran Estephan é diretor da TG Core

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