Impactos econômicos da Covid-19: Riscos & Oportunidades

No momento você está vendo Impactos econômicos da Covid-19: Riscos & Oportunidades

*** Por Dov Gilvanci Levi Najman Sousa

 Contexto

Apesar de ser impossível assegurar o real impacto econômico do covid-19 na economia global, é consenso entre os economistas de que haverá severo dano na economia de todos os países impactados pela pandemia. Desde quando a OMS elevou o status do vírus para pandemia, os mercados de ações globais sofreram quedas dramáticas devido ao surto, superiores a 30%. A maioria das grandes economias perderá pelo menos 2,4% do valor do seu produto interno bruto (PIB) ao longo de 2020, levando os economistas a reduzir suas previsões de crescimento econômico global para 2020 em torno de 3,0 para 2,4 por cento. Para colocar esse número em perspectiva, o PIB global foi estimado em cerca de 86,6 trilhões de dólares em 2019 – o que significa que apenas uma queda de 0,4% no crescimento econômico equivale a quase 350 bilhões de dólares em perda de produção econômica.

O dano econômico causado pela pandemia do covid-19 se dá principalmente por uma forte queda na demanda, o que significa que não há consumidores para comprar os bens e serviços disponíveis na economia global. Essa dinâmica pode ser vista claramente em setores fortemente afetados, como viagens e turismo, além do varejo físico. Com o lockdown imposto pelos Governos, várias atividades foram afetadas, impactando a indústria, o comércio e os serviços que não podem ser prestados remotamente.

A medida que as empresas começam a reduzir a força de trabalho pra compensar a perda de receita, isso aumentará o desemprego e logo, afetará a demanda pós-lockdown.

Nos EUA, na semana que terminou em 18 de abril o avanço da taxa de desemprego foi de 11,0%. A preocupação é que isso crie uma espiral econômica em declínio, quando esses trabalhadores recém-desempregados não puderem mais comprar bens e serviços não afetados. Para usar o varejo como exemplo, um aumento no desemprego agravará a redução nas vendas que ocorreram com o fechamento das lojas. É essa dinâmica que os economistas ponderam se a pandemia do covid-19 pode levar a uma recessão global, em escala igual ou superior a da Grande Depressão de 1929.

Apesar do claro perigo em que a economia global se encontra, também há razões para ter esperança de que esse pior cenário possa ser evitado. Os governos aprenderam com crises anteriores, que os efeitos de uma recessão impulsionada pela demanda, podem ser combatidos com um pacote de gastos. Consequentemente, muitos governos estão aumentando os gastos públicos, visando ajudar as pessoas e empresas ao proverem os recursos necessários para manter seu pessoal empregado durante toda a pandemia. Além disso, a natureza específica dessa crise significa que alguns setores podem se beneficiar, como comércio eletrônico, varejo de alimentos e setor de saúde – proporcionando pelo menos algum crescimento econômico para compensar os danos. Por fim, existe o fato de que a crise pode ter uma data final clara, quando todas as restrições ao movimento forem levantadas, por exemplo, no momento em que uma vacina estiver disponível. Ou seja, é possível que a economia global sofra uma recuperação acelerada assim que a pandemia terminar. Ainda existem muitas variáveis que podem afetar essa recuperação econômica como por exemplo a oferta reduzida de bens e serviços para atender a uma demanda menor, poderá criar escassez e aumento de preços no médio prazo. Mas existem algumas razões para pensar que com a combinação certa de respostas governamentais adequadas, algumas das previsões mais apocalípticas podem não acontecer.

Segundo o World Economic Forum, a fortaleza de uma empresa durante a crise do covid-19 depende significativamente de sua própria preparação e resiliência do setor, como a extensão das práticas de trabalho digital. Com base nisso, o estudo Talent Trends mostra que o progresso na experiência digital parou nos últimos anos: apenas duas em cada cinco empresas dizem que são na maior parte ou totalmente digitais, um número que não se move desde 2018. Isso importa porque a digitalização transforma a forma como as organizações alavancam talentos, ajudando-os a formar forças de trabalho diversas, melhorando a formação de equipes, analisando o desempenho e no contexto atual, adotando o trabalho flexível via home office. Dessa forma, é possível identificar a capacidade de adaptação do mundo corporativo atual, uma vez que empresas com DNA digital, possuem melhores condições de alavancar talentos, melhorando a produtividade e flexibilizando processos de negócio.

Globalmente, destaca-se os setores que experimentam um impacto significativo das paralisações tais como saúde (56%), varejo (56%), mineração (55%), manufatura (46%) e indústria automotiva (43%). Claramente são modelos de negócios ainda pouco inseridos na realidade digital, altamente dependentes de pessoas ou que dependem muito de cadeias de suprimentos globais. Por outro lado, os setores menos afetados são serviços profissionais (4%), alta tecnologia (5%), educação (9%), seguros (10%) e telecomunicações (12%).

Essa pandemia deve elevar significativamente a desigualdade social globalmente.

Com   a    pandemia   chegando   em    áreas   pobres,    como    alertou recentemente a Organização Mundial de Saúde, o pior ainda pode estar por vir. Países pobres que são geralmente desiguais, devem ser os mais atingidos porque neles o choque é duplo: além do acesso ao sistema de saúde ser precário, uma parcela significativa da população tem empregos informais e perde renda durante a quarentena. Especialistas alertam que sem políticas de transferência direta de recursos para a população, a crise deixará um mundo ainda mais desigual com mais de 500 milhões de pobres, sendo aproximadamente 30 milhões na América Latina. Um reflexo desta situação pode ser inferido pela pesquisa da Boa Vista SCPC mostrando que a maioria das famílias do Brasil tem pouco fôlego financeiro:

Novos comportamentos

Segundo a Accenture, a pandemia trouxe novas tendências comportamentais. Um primeiro passo essencial, é entender as implicações prováveis do covid-19 na experiência humana e começar a responder hoje. Há três importantes implicações esperadas do comportamento das pessoas agora e no futuro próximo, que provavelmente moldarão uma nova experiência humana.

  • O século digital

A mudança forçada durante a pandemia para o trabalho virtual, promoveu uma impulsão do consumo e da socialização, impactando atividades virtuais. Isso afetará as formas de comunicação através da aprendizagem, trabalho, transação e consumo. A adoção do digital por quem ainda não o fez, será acelerada, principalmente pela redução dos obstáculos à virtualização para qualquer tipo de experiência. Os vencedores serão aqueles que testarem e explorarem todas as possibilidades criativas associadas.

  • Toda empresa é uma empresa de saúde

As pessoas estão concluindo que não podem confiar nas estruturas de saúde existentes (sistemas de saúde seja público ou privado), abandonando o sentimento individualista de obtenção de todos os recursos de proteção unicamente para si. Além disso, as preocupações com a saúde ampliadas durante a crise, não diminuirão depois que esta terminar. Pelo contrário, a saúde apresentará uma ampla expansão, através de uma sociedade de novos hábitos de higiene e novas práticas de saúde. Uma economia da saúde emergirá com oportunidades para todos se conectarem. As empresas precisarão entender como podem fazer parte de um novo ecossistema de saúde, que dominará o centro de atenção do cidadão, aumentando consequentemente a preparação de nossa sociedade para enfrentar ameaças semelhantes ao covid-19.

  • Quarentena

A quarentena significa um retorno em massa, com o lar como epicentro da vida e da experiência. No auge da crise muitos passam mais tempo em casa. Após o período de lockdown, esse padrão permanecerá. Haverá um aumento nos gastos domésticos e no entretenimento do lar.

Melhoria no cenário (vacina) e consequências do distanciamento social

A expectativa de uma vacina para conter as mortes causadas pelo covid-19 vem trazendo certo ânimo ao mercado financeiro e a Saiba Biotech, laboratório suíco, que reúne cerca de 50 pesquisadores em seu projeto, espera ser o primeiro a produzir a vacina e inocular grande parte da população suiça. Martin Bachmann, um dos fundadores do laboratório e chefe de imunologia da Universidade de Berna, aponta as chances reais de a vacina ser bem sucedida, uma vez que utiliza partículas semelhantes ao vírus, injetando um vírus sintético não infecioso para o homem e proporciona uma boa resposta imunológica. Um protótipo foi desenvolvido em fevereiro, poucas semanas depois de identificado o coronavírus na China e teve sucesso nos testes em ratos de laboratório, quando o soro neutralizou o vírus.

Dia 28/04/20 a americana Pfizer informou que pode ter uma vacina contra o coronavírus pronta para uso em caráter emergencial no outono (Hemisfério Norte), caso seja aprovada nos testes de segurança. Outros dois laboratórios dos EUA, Moderna e Inovio, começaram testes clínicos com tecnologia envolvendo material genético modificado e na China está em teste uma vacina preparada pela Academia de Ciências medicas Militares e pela companhia CanSino, listada na bolsa de Hong Kong.

Destaque-se a pesquisa da MCM Consultores que mediu a eficácia do isolamento social:

Desafios para as empresas sobreviverem à essa crise

Para ajudar a gerenciar a situação atual e a se preparar para o que poderá acontecer nos próximos meses, as empresas deverão se organizar criando planos e linhas de responsabilidade e capacitando os tomadores de decisão para agir em momentos que exigem adequação, com olhar atento no gerenciamento de crise, cuidados com as pessoas, cadeia de suprimentos, tributos incidentes sobre os negócios e finanças/liquidez.

*** Dov Gilvanci Levi Najman Sousa, ex-conselheiro do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) do Ministério da Fazenda, Conselheiro Tributário da Confederação Nacional da Industria-CONTRIF/CNI, CIO da Zahav Investments BVI e CEO da Gennesys Outsourcing Services.

Deixe um comentário