Fim do rentismo

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*** Marcos Freitas Pereira

Nas últimas décadas, uma das principais causas que inibiram o crescimento da economia brasileira foi a adoção de altas taxas de juros reais pelas políticas econômicas adotadas, sejam liberais (FHC e Temer), sejam progressivas (PT). O setor financeiro cresceu de forma significativa neste período, enquanto a economia real patinou nos seus “vôos de galinha”, vendo sua taxa de investimentos em relação ao PIB, ‘minguar”.  O setor financeiro foi responsável pelo crescimento da riqueza financeira e principalmente pelo agravamento da desigualdade social.

Na história recente do Brasil as taxas de juros foram usadas para reduzir a demanda agregada através da redução do consumo com objetivo de reduzir a inflação, prática utilizada no Plano Real. Foi também utilizada para atrair capital estrangeiro para financiamento da balança de serviços e consequentemente recuperar as reservas internacionais, após o colapso do balanço de pagamento de 1998.

Assim ocorreu nos governos Fernando Henrique, Lula, Dilma e início do governo Temer. As altas taxas de juros reais da economia tiveram efeitos devastadores no setor produtivo, além de inibir o consumo agregado, inibiu os investimentos dos empresários e pior de tudo foi o principal responsável pelo crescimento da dívida bruta interna do país.

A taxa de juros reais do Brasil começou reduzir a partir do governo Temer, 2016 para 2017. Esta redução deveu-se a fatores externos à economia brasileira. No combate à crise de 2008 o mundo todo passou a ter taxas de juros reais negativas em função da alta liquidez do mercado financeiro. O Brasil demorou mais de 10 anos para perceber este movimento, provavelmente, em função da resistência dos rentistas, investir em títulos do governo, durante muitos anos foi mais rentável e seguro do que investir em empresas, no setor produtivo, além disso, a política econômica percebeu tarde que a taxa de juros reais altas não tinham mais efeitos sobre o combate à inflação.

Portanto, no mundo, não houve, após mais de 10 anos, nem aumento de inflação e nem aumento nas taxas de juros, pelo contrário, alguns países sofrem da ameaça da deflação e as taxas de juros reais praticadas são negativas até hoje. Isto demonstra uma mudança nas políticas monetárias adotadas após 2007 e 2008.

Mesmo tarde, o Brasil começou a seguir a tendência mundial iniciada na crise 2008, na última reunião do COPOM, dia 17 de junho, o Banco Central reduziu a taxa referencial de juros para 2,25% ao ano, a taxa mais baixa da história.

Como a previsão para a inflação dos próximos 12 meses é de 3,25%, conforme pesquisa Focus, Banco Central do Brasil, divulgada no dia 15 de junho de 2020, a Selic de 2,25% resulta em uma previsão de juros reais negativos de 0,98%, inédito na história recente econômica do país.

Portanto, encerra-se uma era de juros reais altos no Brasil e encerra-se uma era de ganhos financeiros maiores do que os ganhos na economia real. Espera-se com isso, após a pandemia, que a economia volte a focar nos investimentos produtivos como forma de melhor remuneração do capital, bem como, investimentos financeiros em ativos reais, imóveis e bolsa de valores. Por outro lado, juros negativos no Brasil contribuirá para a estabilidade da dívida pública/PIB nos próximos anos e reduzirá a pressão para obtenção de superávits primários excessivos.

Infelizmente este momento não poderá ser presenciado pelo ex-vice-presidente da República José Alencar, um empresário, ferrenho crítico à prática das altas taxas de juros no Brasil. O dia chegou sr. vice-presidente, resta agora manter.

Viva a economia real!

** Natural de São Paulo, Marcos Freitas Pereira (marcos.freitas@wambrasil.com) acumula mais de 25 anos de experiência de mercado. Doze destes anos foram como administrador em cargos de comando na Pousada do Rio Quente Resorts. Exerceu as funções de Gerente de Orçamento e Finanças, Controller, Diretor Estatutário Administrativo Financeiro e Diretor de Relações com o Mercado. Além disso, dois anos como Diretor Superintendente, principal executivo da empresa.

Mestre em Finanças pela Universidade Alcalá – Espanha – 2011, MBA Executivo Internacional – Unip e Universidade de Alcalá – 2011, graduado em Economia pela PUC-SP 1988, pós-graduado na Universidade Corporativa do Grupo Algar, e doutorando em Turismo. Atualmente atua como Sócio da WAM Brasil.

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