O Corredor Bioceânico, rota rodoviária que possibilitará a conexão viária do Centro-Oeste brasileiro aos portos chilenos, vai proporcionar mais competitividade no escoamento da produção agrícola e industrial. Além de reduzir o tempo de viagem em ao menos 12 dias para a China, por exemplo, em comparação ao trajeto pelo Porto de Santos (SP). O corredor também proporcionará redução do custo do transporte rodoviário para exportações e importações, conforme dados da Empresa de Planejamento e Logística (EPL).
O trajeto passará por cidades do Brasil, do Chile, da Argentina e do Paraguai, e ocasionará impactos para a população e para o desenvolvimento das regiões alcançadas pelo traçado internacional. Dessa forma, novos mercados e a integração da região do entorno do trajeto nos quatro países poderá se consolidar.
Para o ministro da carreira diplomática do Ministério das Relações Exteriores João Carlos Parkinson, é nesse contexto que o projeto do Corredor Rodoviário Bioceânico deve ser visto. Trata-se de um esforço coordenado do Itamaraty, do Ministério de Infraestrutura, do governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB) e das lideranças do estado, como o senador Nelson Trad Filho, que somaram forças para tornar realidade à ligação de Porto Murtinho (MS) aos portos do Norte do Chile, passando pela região paraguaia do Chaco e as cidades de Salta e Jujuy, na Argentina.
Contexto
Atualmente, o transporte de carga entre o Brasil e seus principais parceiros comerciais da América do Sul é amplamente dominado pelo modal marítimo, seguido pelo rodoviário e, por último, pelo hidroviário. Sendo que, no plano doméstico, a dependência externa do transporte marítimo se transfere para o modal rodoviário, que há anos domina a matriz nacional de transporte (63%). Embora haja recorrentes esforços governamentais, as participações dos modais ferroviários ainda são tímidas, atingindo 21%, enquanto o hidroviário obtém 13% no movimento de carga dentro do país.
Consequentemente, para manter-se competitivo o produtor e o operador comercial brasileiro, quando desejam explorar o mercado externo, são obrigados a produzir, transportar e ainda superar os custos portuários e tributários. Além disso, o produtor nacional também enfrenta longos trechos rodoviários e onerosas esperas nos terminais marítimos para poder embarcar sua carga devido à baixa integração digital. Isso resulta na perda de grande parte da vantagem tarifária assegurada pelos acordos comerciais bilaterais e multilaterais.
O ritmo de crescimento da produção agrícola brasileira tem sido superior à expansão da capacidade portuária nacional, nos últimos anos. Além de apontar o aumento da pressão para a abertura de terminais portuários privados e a melhoria da acessibilidade aos portos brasileiros. Embora o estudo aponte que importantes avanços foram realizados, o escoamento da produção ainda onera demasiadamente o produtor nacional.
Corredor Rodoviário Bioceânico
Com a implantação do Corredor Rodoviário Bioceânico, o objetivo é oferecer aos operadores comerciais de Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins uma alternativa logística à passagem pelo Canal do Panamá e ao ingresso rodoviário pelo sul do país.
Ou seja, a mercadoria exportada por terra via corredor, sairia pelos portos do Chile. Em sentido inverso, ingressaria diretamente no Brasil pelo Centro-Oeste, percorrendo no total 1.966 km, distância entre Antofagasta (no Chile) e Porto Murtinho (MS). Dessa forma, evitam-se, assim, a passagem pelo Canal do Panamá, a concentração de carga nos portos de Santos e Paranaguá e a cobrança dos elevados custos da intermediação.
Ao adotar o corredor, a economia pode ser de US$ 450.000, valor que as autoridades panamenhas cobram regularmente para que uma embarcação de 5.000 TEUS possa usar as eclusas. Além de reduz o tempo de trânsito em 12 dias.
Outro exemplo é o da exportação de carne de Campo Grande para Santiago, quando transportada por terra, tem, hoje, um custo médio de transporte de US$ 229/t. Por ser escoada por São Borja (RS), a carga é obrigada a percorrer 4.274 km. Graças ao corredor, o custo médio cairá para US$ 174/t além de reduzir o tempo de trânsito.
Como resultado, o produtor e exportador do Centro-Oeste serão beneficiados com a implantação do Corredor Bioceânico, pois, ao encurtar distâncias, reduzem-se automaticamente custos e tempos, o que é fundamental para a comercialização de produtos perecíveis e o desenvolvimento das cadeias de abastecimento.
Assim sendo, criam-se condições de gerar novos fluxos de comércio e atrair mais investimentos para a região; estimula-se a internacionalização das PMEs locais e a capacitação da mão de obra jovem; incentiva-se a formação de parcerias produtivas regionais e a importação de insumos mais baratos, induzindo à formação de cadeias regionais de valor e à ampliação da base industrial.
Ademais, o Corredor também permitirá a integração de territórios que atualmente se encontram um tanto afastados, estimulando uma interação muito mais frequente e profunda entre os atores públicos e privados dos quatro países.
O impacto nas relações comerciais regionais será expressivo. Segundo estudo da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), se um empresário local decidir importar diretamente trigo da Argentina (Tucumán) e destiná-lo à cidade de Palmas (TO), caso opte por utilizar a rota do Corredor, obterá uma redução de custos logísticos da ordem de 20%. Como esse percentual não contempla a incidência tributária decorrente da utilização das rotas tradicionais (ingresso por São Borja e Uruguaiana) nem leva em conta a margem cobrada pelos intermediários, a redução total de custo tende a ser ainda mais expressiva do que a sugerida pela EPL.
O Corredor Rodoviário Bioceânico, ao criar vantagens comparativas, induzirá à criação de “tradings” no Estado de Mato Grosso do Sul e à realização de investimentos em armazéns, silos, pátios de estacionamento, centros de distribuição de carga, portos secos e polos de integração logística, elementos facilitadores da redução de custos e das distâncias entre o local de produção e o de consumo. Com o Corredor e os investimentos resultantes, Mato Grosso do Sul poderá se transformar num centro de distribuição de carga nacional e regional, tornando o terminal multimodal de Campo Grande um relevante “hub” logístico do País. Com essas mudanças, a diversificação das parcerias e o aumento dos fluxos comerciais contribuirão para ampliar o leque de oportunidades, atualmente concentradas na China, responsável por 40% das exportações de Mato Grosso do Sul (as recentes dificuldades do Brasil para importar os tão necessitados respiradores para a luta contra o covid-19 demonstram a vulnerabilidade degenerada por concentrações elevadas).
Graças ao Corredor Rodoviário Bioceânico, o produtor nacional terá também acesso em condições mais competitivas aos mercados da China, Índia e Sudeste Asiático. Poderá, portando, exportar ou importar produtos ou insumos a preços mais baratos, o que pode se revelar transformador, na medida em que estimulará a agregação local de valor e o desenvolvimento de uma base industrial em Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins, áreas produtoras basicamente de commodities. Com a novidade, os operadores comerciais do Centro-Oeste poderão importar partes ou componentes eletrônicos da Índia com uma redução média de custos da ordem de 23%, montar um produto acabado e comercializá-lo localmente ou nas cidades dentro da área de influencia do Corredor.
Esse cenário não está muito distante e os empresários do Centro-Oeste precisam preparar-se desde agora para as mudanças que virão. Uma atitude passiva que simples espera das transformações pode representar perda de oportunidades para outros grupos empresariais, nacionais e estrangeiros.
Mais benefícios
A pandemia da Covid-19 intensificou a digitalização da economia ao ampliar e aprofundar o comércio eletrônico e o serviço de delivery. Pode-se constatar, porém, que a brecha digital no Pais ainda é ampla e preocupante. Contudo, ela é ainda maior no plano regional. Para que o Corredor possa proporcionar aos usuários todos os benefícios esperados, faz-se necessário promover a integração digital aduaneira, evitando-se longas filas e paradas nas fronteiras. Estima-se em R$ 3.373 reais o custo de um caminhão parado 72 horas na fronteira à espera da autorização para cruzar a aduana. Com o avanço da digitalização, os empresários deverão otimizar as rotas de escoamento da produção, melhorar o serviço de entrega na última milha, otimizar a capacidade dos armazéns, monitorar o movimento da carga desde o centro de produção até o porto e evitar e violação de contêineres.
Em suma, com a redução dos custos logísticos e tempos de viagem, Mato Grosso do Sul deve deixar de ser o destino final e passar a intermediar as operações comerciais, uma vez que se tornará um “hub” logístico nacional. O acesso facilitado de produtos asiáticos ao Centro-Oeste possibilitará o fomento de uma base industrial e a inserção nas cadeias globais de valor.
Com informações da TVon – mídia e comunicação integrada