O acumulado das chuvas de janeiro de 2020 é o maior registro para o mês dos últimos três anos em Goiânia, segundo o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas do Estado de Goiás (Cimehgo). Água que, infelizmente, causa um cenário de enchentes, árvores caídas, asfalto corroído, casas em situação risco e pontes comprometidas. Isso acontece devido à construção de moradias, rodovias e outras obras que interferem na drenagem. Apesar da legislação vigente no município para prevenir a situação, há necessidade de medidas para ampliar a permeabilidade do solo e tornar a drenagem mais eficiente, uma vez que climatologistas afirmam que devemos esperar mais tempestades extremas no futuro.
Novas tecnologias de captação de água das chuvas vêm sendo implementadas nos empreendimentos para mitigar esses efeitos. Um exemplo está no Órion Business & Health Complex, que possui um sistema com capacidade de reter e armazenar 35.700 litros de água. O volume equivale a 35.700 milímetros de chuva, que deixaram de ser lançados nas galerias pluviais. Implantado no edifício de 191 metros de altura, o sistema capta a água da chuva através das lajes impermeabilizadas e direciona esse material para os gigantescos tanques.
O engenheiro civil e diretor do Órion Complex, Frank Guimarães, explica que é mais que uma economia de recursos naturais, a capital é beneficiada nesses momentos onde a natureza é implacável. “Além evitar que um grande volume de água chegue de forma abrupta nas galerias da cidade, quando os tanque ficam cheios, com água sobrando, o volume excedente é direcionado para o chamado tanque de infiltração, que faz com que a água chegue lentamente ao lençol freático”, revela. Reduzir essa velocidade é uma das medidas para se evitar que rios transbordem nas metrópoles.
O reservatório que recebe a água reutilizável está instalado no sétimo pavimento do prédio e possui filtros para retirar as impurezas da água. No quinto andar há um segundo tanque de 16.800 litros, responsável por reduzir a velocidade com que a água desce para chegar a um terceiro tanque, o de infiltração que está instalado no subsolo. Neste tanque, parte da água vai para o lençol freático e o excedente é destinado para as galerias pluviais, o que acontece somente após a tempestade ter passado, devido ao tempo para encher cada compartimento.
De acordo com o Perfil dos Municípios Brasileiros (Munic) 2017, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), das 5.570 cidades do País, mais da metade (59,4%) não contavam com instrumentos de planejamento e gerenciamento de riscos. Apenas 25% tinham Plano Diretor contemplando prevenção de enchentes e enxurradas e 23% declararam ter Lei de Uso e Ocupação do Solo prevendo essas situações. Ainda segundo o estudo, dos municípios com mais de 500 mil habitantes, 93% foram atingidos por alagamentos e 62% por deslizamentos.
Goiânia está entre as cidades que possuem legislação acerca da drenagem do solo. Lei de 2014, incorporada ao Plano Diretor da capital, estabelece que os projetos de loteamentos do solo e os projetos urbanísticos a serem aprovados pelos órgãos da administração pública municipal deverão apresentar projeto complementar de drenagem pluvial, visando garantir a condição sustentável de descarga pluvial de sua respectiva área por meio da implantação de estruturas de retenção e/ou detenção e infiltração. De acordo com o Secretário de Planejamento de Goiânia, Henrique Alves, o atual Plano Diretor da capital, em revisão, prevê incentivo para medidas sustentáveis, como o reaproveitamento de água nos empreendimentos.
Economia
Segundo o engenheiro civil Leopoldo Gouthier Oliveira, síndico do Órion Complex, a manutenção dos jardins e da limpeza utiliza toda capacidade de armazenamento em apenas dois dias, por isso, o sistema é tão importante. A captação da água pode gerar até 35% de economia do consumo que viria da rede de abastecimento oficial. “Nesse período chuvoso, a economia com água foi de aproximadamente R$ 13 mil”, revela sobre o empreendimento que conta com hotel, shopping, hospital e torre com 674 salas comerciais, a maioria com clínicas médicas
Outra forma de reaproveitamento implantada pelo Órion Complex, e de maneira inédita em Goiânia, é a captação da água que goteja nos drenos dos aparelhos da central de ar-condicionado, a qual também é armazenada nos reservatórios, somando-se à água da chuva. Frank Guimarães calcula que, apenas da central de ar, poderão ser captados 20 mil litros (20 m³), considerando o empreendimento funcionando em sua plenitude.
“Com isso, mesmo em época de seca, o reservatório contribuirá com a sustentabilidade de recursos e redução de custos”, diz Frank. A economia com água no prédio, considerando a captação do ar-condicionado e da chuva, pode atingir até 25% ou 30% da necessidade total, dependendo da estação do ano. Os tanques são fechados, evitando que se tornem criadouros para o mosquito da dengue.
** Na foto: Ralos por onde escoam as águas na chuva no topo do Órion Complex (Crédito: Lorena Lázaro/Divulgação)