Com uma alta de 83% acumulada nos últimos 12 meses nos produtos que compõem o cardápio da Páscoa, algumas tradições da festividade religiosa podem estar comprometidas. Os índices de inflação apontam que a maré não está para bacalhau, uma vez que o produto teve uma alta de 6,26%.
Além do peixe, o chocolate, que faz a alegria de crianças e adultos, registrou aumento médio de 10,74%. Usado no preparo de outras sobremesas típicas da época, como canjicas, o açúcar refinado teve variação de preço de 43,77%.
O economista e professor da Estácio, José Valmir Pedro, faz uma análise do atual cenário econômico, explicando que em primeiro lugar é preciso entender a alta de 83% e quais seriam seus vilões, sendo os principais a guerra na Ucrânia, que desencadeou forte crise nos transportes (combustíveis) e na agricultura (adubos e demais insumos) atingindo também as plantações de cacau; e a inflação, que teve sua previsão para 7,1% em 2022 (ficará acima da meta).
“Esta elevação de preços atingiu diversos componentes na economia como produtos do agronegócio (açúcar, carnes, alimentos em geral), aço e muitos outros e produtos derivados do petróleo, que é a principal força motriz do nosso modal rodoviário. Internamente, apesar do crescimento, nossa economia ainda não conseguiu ajustar-se frente a todos os problemas que têm acontecido e que vem desde heranças de governos anteriores até a pandemia e a guerra na Ucrânia”, avalia, salientando que esses problemas vêm acontecendo sob a forma de um efeito cascata, não permitindo uma reabilitação econômica consistente e, com isso, as flutuações fazem sentir-se nos preços.
Analisando o mercado nacional e internacional de um dos subprodutos dos ovos de Páscoa, que é o açúcar, José Valmir Pedro diz que o Brasil está cada vez mais forte no setor de agronegócio, além de ter uma produção fantástica no campo, mas duas coisas vêm ocorrendo para elevar os preços ao consumidor.
“Uma delas é a destinação de boa parte da matéria-prima para o setor de combustíveis (produção de álcool), que está apresentando uma excelente rentabilidade no cenário atual. A outra se trata da contenção da produção para a elevação dos preços no mercado internacional, pois o Brasil inundou esses mercados de açúcar e esse excesso de oferta fez com que os preços internacionais caíssem. Com isso, nossos produtores resolveram segurar a produção, com previsão até 2023, para fazer com que os preços internacionais subam e eles possam vender a preços mais competitivos”, comenta.
O economista salienta que estes movimentos causam uma redução da oferta do açúcar no mercado e novamente a lei da oferta e da procura se faz presente, pois com a oferta menor a causa consequente é o aumento de preços e seu repasse à indústria de chocolate e de outros produtos que têm como base os açúcares.
Dicas para uma Páscoa mais econômica
O professor da Estácio aponta ainda que vários outros componentes como leite, ovos, parafina, produtos de embalagem, sofreram influências tanto no mercado interno quanto do mercado externo, o que fez com que essa transferência de custo de produção fosse repassada ao consumidor final.
“Muita coisa aconteceu e o preço de produtos tradicionais se tornaram extremamente “salgados” em plena época de doçura, então nos resta pesquisar antes de comprar, tanto no comércio físico quanto virtual. Recomendo também os produtos substitutos como, por exemplo, a barra de chocolate no lugar do ovo de Páscoa, pois um ovo de 200 ou 300 gramas está custando em média R$ 43,90, quase no mesmo preço que uma barra de 1kg de chocolate (R$41,00 em média)”.
Outra dica do professor para reduzir os custos nessa época é trocar o bacalhau pela tainha ou merluza.
“Também pode pesquisar vinhos, azeites e demais alimentos mais baratos em vários locais. E claro, sempre se lembrar do objetivo real da Páscoa!”