Durante as reuniões empresariais e sindicatos rurais, nos anos 1980 e 1990, se debatia ativamente com agregar valor à produção agropecuária de Goiás. Tínhamos bons números na produção primária, com fortes safras de grãos, principalmente, e de carnes, mas pífios na secundária, que é parte industrial do processo. O volume da produção agropecuária era até modesta se comparada ao que temos atualmente – mas já era suficiente para fomentar o debate.
E, naquele momento, Goiás começava a compreender o seu papel industrializador e os ganhos reais para a sociedade com sua implantação. Até então, grande parte da produção agrícola e pecuária era embarcada em um caminhão e transportada até uma indústria em São Paulo, Minas Gerais ou outros Estados e países mundo afora. Esse era nosso papel, quase colonial, de só produzir a matéria-prima. Bem pouco era industrializado aqui.
Dos debates para a realidade. A expressão ‘agregar valor à produção’ foi ganhando força, com expansão dos programas de incentivos fiscais para as indústrias locais e a atração de empresas. Goiás saltou de uma indústria incipiente até meados dos anos 1980 para o 7º maior parque fabril do País, e de um arrecadação pífia do setor indústria, no início dos anos 1980, para mais de R$ 300 milhões por mês – mesmo com a pandemia Covid-19 e sem contabilizar a este montante o valor arrecadado pela indústria da construção, pelas usinas do setor sucroalcooleiro e pelo setor de produção de energia, que são contabilizados setorialmente pelo Fisco.
Este cenário é suficiente para fazer um recorte e compreender que a evolução da industrialização em Goiás é puxada pela força das empresas incentivadas, e que ocorrem em paralelo e são os motores do setor industrial, respondendo por entre 65% e 70% da receita tributária da indústria.
Se os números da indústria se multiplicaram exponencialmente, os da agropecuária seguiram também no mesmo rumo. A vocação econômica de Goiás favoreceu e muito, mas a ação conjunta dos setores em busca de maior produtividade, com investimento em novas tecnologias e convergência entre produtores, agregados, fornecedores e industriais, fez do agronegócio no Estado líder vários segmentos da agricultura e pecuária.
Goiás aparece em pelo menos dez culturas agrícolas e processamento de proteína entre os cinco mais produtivos do País, liderando em vários. Essa atuação só ocorre quando ambos, setores primário e secundário, trabalham pelo mesmo propósito, com uma cultura empreendedora estabelecida e planejamento.
Em grande parte dos casos, ação do poder público com órgãos da área de pesquisa agrícola e sanitária, além de forte envolvimento da academia, com destaque da atuação por décadas da UFG, acompanhada por outras instituições de ensino, com destaque as atuações da rede de Escolas Agrotécnicas (IF Goiano), EMGOPA e ESUCARV ( UNIRV).
Posso falar muito bem deste tema pois já estive de todos os lados do balcão, como produtor rural, com histórico familiar sempre mantive essa relação e convivência direta produtor rural, também sou técnico em Agropecuária e Zootecniata; ex-secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Rio Verde, no começo da minha carreira profissional; em seguida, pela indústria, contratado como primeiro funcionário da Perdigão em Goiás, para atuar diretamente na implantação e na execução o projeto – que hoje integra a plataforma de negócios da BRF no Estado; e, atualmente,
como presidente-executivo de uma entidade da linha de frente das lideranças privadas estaduais, a ADIAL, que congrega e debate diariamente a produção e transformação de matéria-prima em produto final. Um histórico que vivenciou toda essa metamorfose da agroindústria, seja na visão agropecuária seja na visão industrial.
Por isso, reforço sempre minha admiração ao produtor rural, parceiro incondicional de todo dia da indústria, e dedico tempo que for necessário para estudar, entender, defender e posicionar a favor desta categoria, seja em qual segmento do agronegócio, pois são os responsáveis diretos não apenas pelo alimento farto que as famílias recebem diariamente ou que as indústria processam, mas são um grupo social, muito bem representado pela Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg) e seus sindicatos rurais, de alto nível de conhecimento, responsabilidade e dedicação.
Chego a afirmar que são os produtores rurais uma das categorias menos vistas pela população, mas uma das mais laborais e realizadoras dentre todas. Que dia faltou comida na sua casa? Essa pergunta resume nossa reverência ao setor. Conheço de perto a realidade e,em nome da indústria da transformação goiana, os felicito e dedico aos produtores rurais esta reflexão e homenagem.