O PIB do Brasil em 2020 traz vários traços do vírus covid-19. No entanto, o gosto amargo de uma economia que já acumulava alguns quatro anos de ciclos de recessão, paralisação e baixo crescimento traz traumas maiores. O número do IBGE do ano passado para o PIB, que muitos chamam de PIBinho, um tombo de 4,1%, é a maior queda desde o início desta atual metodologia da pesquisa, em 1996.
Com este número, consolidamos fortemente mais uma década perdida. Uma sina da economia brasileira, que desde os anos 1980, vem acumulando voos de galinha a cada década, sem deslanchar – não consegue ter duas décadas seguidas com bom desempenho. Só para registrar: Os números mostram que PIB do Brasil tem pior década em 120 anos – segundo avaliação do próprio IBGE comparando dados históricos.
Para ampliar a avalição do resultado desta catástrofe, dois agravantes.
Primeiro, o ano foi marcado por tragédia pessoais, familiares e que vai marcar o País (o mundo) por gerações. A pandemia, iniciada em março de 2020 e sem previsão de acabar, vai reescrever a história da humanidade e mudar comportamentos. Para o Brasil, as consequências podem ser maiores, pois a saída pode ser mais traumática, com maior custo para contas públicas e maior impacto para carga tributária e nova sobrecarga para contribuintes.
Em segundo lugar, o setor de infraestrutura, base e determinante para qualquer expectativa mínima de uma futura retomada da economia, está se desestruturando. Como o País não cresce – desaprendeu a crescer – quando for rodar um forte crescimento seguido, cinco anos seguidos de expansão acima de 5% (algo natural para a economia entrar nos eixos novamente, mas excepcionalidade que o Brasil nem lembra mais quando ocorreu aqui), será que a infraestrutura suporta. Estradas aguentam? Energia? Aeroportos? Mão de obra?
E, por este raciocínio, situação preocupa muito: o Investimento em infraestrutura está no menor nível desde 1947 – e deve cair mais. Segundo especialistas do setor, o realizado não foi suficiente sequer para fazer a manutenção do que já existe, e o previsto não vai melhorar, expandir ou criar novas estradas, aeroportos ou hidrelétricas. Ou seja, o País precisa ser repensado com urgência. Mas como repensar um País se a urgência que estamos hoje é o caos sanitário em meio a covid-19? Com o risco de se tornar a vergonha do mundo nesta pandemia, onde o mínimo que se espera de um país que tem se não a maior, uma das maiores cargas tributárias do mundo.