Uma pesquisa do Ibope, realizada no ano passado, sobre a relação que os brasileiros têm com o lixo que geram revelou que 88% das pessoas ouvidas consideram os cuidados com o meio ambiente uma das maiores preocupações da atualidade. Porém, a mesma pesquisa apontou que 66% dos entrevistados disseram saber pouco ou nada sobre coleta seletiva e reciclagem, e 76% admite não fazer qualquer separação de resíduos em suas residências. O estudo ouviu 1.816 pessoas em todos os estados e no Distrito Federal.
Os números da pesquisa mostram uma clara discordância entre o que pregam as pessoas e suas reais práticas em favor do meio ambiente. Uma das explicações de muitos especialistas para o problema é que no Brasil, apesar da existência de uma Política Nacional do Resíduos Sólidos que prevê a implantação da coleta seletiva em todo o País, criada em 2010, a prática sustentável é pouco incentivada. Segundo relatório da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), cada brasileiro gerou 378 quilos de resíduos no ano de 2017, um volume que daria para cobrir um campo e meio de futebol. Outro estudo, porém, o Cempre Review 2019, realizado pela associação Compromisso Empresarial para Reciclagem, revela que somente 17% da população brasileira tem acesso a programas municipais para separação do lixo e sua devida reciclagem.
Neste ano, a coleta seletiva porta a porta completa dez anos em Goiânia. O município é ainda uma dos poucos no País que têm esse serviço em todos seus bairros. A meta para a capital goiana, estabelecida no Plano Nacional de Resíduos Sólidos, é de que um mínimo de 15% dos resíduos recicláveis seja reaproveitado, ainda sim a cidade trata apenas 5% desse material. Mas aqui mesmo em Goiânia, projetos da iniciativa privada podem servir de exemplo para o poder público, como o que é feito no Condomínio Aldeia do Vale, na região leste da cidade.
Concepção ecológica
Com uma concepção ecológica, o empreendimento residencial possui o serviço de coleta seletiva desde a inauguração de sua primeira etapa no fim dos anos de 1990. De acordo com o supervisor do núcleo de conservação, limpeza e meio ambiente do condomínio, Eustáquio Teixeira Júnior, os moradores fazem a separação do lixo orgânico, reciclável e sanitário diariamente, gerando um volume mensal de aproximadamente 70 toneladas de lixo orgânico e 11 toneladas de lixo reciclável. “A ação acaba gerando economia para o condomínio, já que temos que arcar com a quantia de R$ 142,00 por tonelada de resíduos, quando enviamos o material descartável para o aterro sanitário”, revela.
O supervisor afirma que a iniciativa, além de orientar o morador para o descarte consciente e correto, informa os cidadãos sobre a quantidade de materiais reaproveitáveis e a importância de diminuir o volume de resíduos enviados ao aterro sanitário da cidade. “O volume do lixo separado aumentou consideravelmente nos últimos dez anos. E para acelerar o processo, o condomínio prevê a contratação de um agente ambiental para intensificar as ações de orientação e conscientização”, diz.
A coleta seletiva no condomínio é feita diariamente no período da manhã, sendo que de segunda a sexta, ela é voltada para resíduos maiores, como eletrodomésticos e móveis velhos. A seleção do material é realizada todos os dias no período da tarde, quando plástico, vidro, papelão e metal são devidamente separados para, posteriormente, serem comercializados com cooperativas específicas. O supervisor aponta que o trabalho conta com cinco colaboradores e resulta numa renda mensal de aproximadamente R$ 2,5 mil. “Mas é possível economizar ainda mais e gerar mais renda. Só depende do morador”, antecipa.
Estudos científicos apontam que a reciclagem poderia evitar o lançamento de 7,02 milhões de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera e gerar uma economia R$ 1,1 milhão por dia em nível nacional. Em Goiânia, quinze cooperativas conveniadas ao programa municipal são apoiadas com espaços, materiais e recursos. Todo o lixo recolhido pelos caminhões da prefeitura é doado a esses grupos.