Devido ao grande potencial, uma patente de invenção concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) à Universidade Federal de Goiás (UFG) e Universidade Federal de Jataí (UFJ) promete mudar a forma como as pesquisas são feitas no campo. O dispositivo desenvolvido em parceria pelas instituições goianas, e cujo pedido de registro foi deferido ainda em 2021, é chamado de “Plataforma acessória para pulverização”, tendo atualmente o seu uso em pesquisa licenciado, sem exclusividade, para a Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo).
Originalmente, o mecanismo foi concebido para otimizar a condução de pesquisas relacionadas à tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários – controle de pragas em lavouras – nas linhas de pesquisa de fitossanidade da UFG, que contemplava, o então Campus Jataí. O desmembramento dessa Regional foi que deu origem à criação da UFJ, em 2018, motivo pelo qual houve posteriormente a divisão de direitos sobre a patente.
A intenção dos autores do invento, o professor do curso de Agronomia da UFJ Paulo César Timossi e Dieimisson Paulo Almeida, o qual era à época estudante do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Agronomia (PPGA) da antiga Regional Jataí da UFG, era desenvolver uma alternativa aos pulverizadores de pesquisa dióxido de carbono (CO2) do tipo costal manual, predominantes nos estudos que envolvem a aplicação de agrotóxicos.
Muito embora sejam portáteis e mais acessíveis, os pulverizadores de pesquisa CO2 de tipo costal manual requerem profissionais capacitados, e o trabalho decorrente de seu uso pode sofrer variações significativas em razão de quem está fazendo a aplicação e da técnica empregada, além da exposição do operador do equipamento ao risco de contaminação por contato direto com as áreas recém tratadas. “Hoje, cerca de 90% das pesquisas usam equipamentos desse padrão”, lembra Timossi.
Plataforma
Visto que o controle de qualidade das aplicações é fundamental para as pesquisas envolvendo produtos fitossanitários, foi necessário desenvolver outro arranjo capaz de contornar essas dificuldades. O resultado foi a criação da plataforma, a partir da qual a aplicação adquire como características principais a uniformidade de desempenho, o maior rendimento operacional e a menor dependência de esforço humano, suplantando justamente as principais deficiências dos pulverizadores de pesquisa tradicionais.
Ao estimar o potencial impacto da novidade, o professor Paulo César argumenta que a propulsão por gás carbônico (CO2) tornou-se indispensável para a aplicação de pequenos volumes de produtos fitossanitários, mas tem alto custo financeiro, fazendo seu uso viável apenas em atividades de pesquisa. A plataforma, portanto, surge como uma alternativa capaz de oferecer maior eficiência nesse tipo de operação. Para se ter uma ideia, enquanto o terrestre costal manual realiza aplicações com velocidade máxima de 5 quilômetros por hora (km/h), a plataforma acessória para pulverização faz o mesmo processo com até 20 km/h.
Outro diferencial bastante relevante está na possibilidade de a ferramenta realizar estudos com culturas de diversas espécies e estaturas de plantas, por conta do ajuste de altura de barras que pode variar de 0,5 a 2,5 metros de altura. Não é à toa que a Comigo, uma das cinco maiores cooperativas do agronegócio do Brasil, com faturamento superior a R$ 15 bilhões em 2023, manifestou interesse na tecnologia ainda em 2018, a ponto de construir, validar e utilizar a plataforma em suas atividades de pesquisa desde então.
O pesquisador agronômico Guilherme Braz, que atua no Centro Tecnológico Comigo (CTC), reforça que o uso da plataforma trouxe maior agilidade e, sobretudo, precisão ao processo de pulverização. “A possibilidade de regular as velocidades de aplicação é algo que não seria possível de replicar com mão de obra totalmente humana, e, para os estudos que desenvolvemos, essa maior segurança nos dados gerados é super importante”.
Dieimisson, que também passou pela Comigo, narra que a experiência foi a oportunidade de responder às próprias inquietações. “Em meu cotidiano na lavoura, percebi a necessidade de ampliar a eficiência da aplicação de produtos fitossanitários. A partir disso, foi elaborado meu projeto de pós-graduação e, durante a pesquisa, chegamos à conclusão de que era possível utilizar estratégias de ganho em várias frentes. Foi assim que decidimos desenvolver o equipamento”, recorda.
Agora doutor em Produção Vegetal pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Jaboticabal), o egresso do Câmpus Jataí destaca o papel da pesquisa nas universidades para a sociedade.
“Temos orgulho do fruto da nossa pesquisa ser utilizável. A universidade é uma das titulares da patente e desfruta do valor que ela agrega. Não é algo que foi feito apenas para gerar pontos em currículos ou para desenvolver os produtos finais de meu mestrado e doutorado. Trata-se de uma pesquisa que traz vários benefícios ao setor produtivo”, conclui.
Benefícios
Além do licenciamento da plataforma acessória para pulverização gerar ganho em visibilidade, outro benefício para as instituições titulares do invento diz respeito a um dos compromissos feitos pela Comigo, que é o de custear a manutenção das anuidades da Carta Patente da tecnologia durante a vigência do contrato, o que torna o acordo ainda mais interessante. Essas anuidades são taxas pagas anualmente ao Inpi com a finalidade de assegurar a garantia e manutenção dos direitos conferidos após a concessão da patente.
O próximo passo é difundir os diferenciais do equipamento, cujo custo de construção está estimado em cerca de R$ 20 mil, despertando, em outras universidades e instituições de pesquisa Brasil afora, o interesse de celebrar um Contrato de Transferência de Tecnologia. O processo é totalmente mediado pelo Setor de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia (Spitt/UFG), vinculado à Agência UFG de Inovação da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI/UFG), em parceria com o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT/UFJ), vinculado à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação da UFJ (PRPI/UFJ).
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