Por Luciana Padovez Cualheta
Falta de apoio do cônjuge, dificuldade para conciliar o tempo, necessidade de se dividir entre a família e o trabalho, sentimento de culpa, falta de confiança e problemas com autoridade. Esses são alguns dos empecilhos enfrentados pelas mulheres que possuem ou pretendem abrir seu próprio negócio.
As pesquisas demonstram que muitas mulheres consideram o simples fato de ser mulher um ônus a mais no processo de empreender. Não é novidade que elas enfrentam dificuldades para garantir seu espaço no mercado de trabalho, seja em empresas existentes ou criando seu próprio negócio. Mas, ficam cada vez mais claros os problemas que elas enfrentam nesse processo.
Muitas não conseguem o apoio de seu cônjuge e a cobrança pode chegar a níveis tão intensos que são uma das causas de divórcios. Outras têm dificuldade para conciliar o tempo entre trabalho e cuidado com os filhos, principalmente em fase de amamentação ou quando são as responsáveis por levá-los e buscá-los na escola. Esses fatores aumentam os níveis de estresse e sofrimento que são mais elevados entre empreendedoras mulheres do que em homens e que ficaram ainda mais evidentes durante a pandemia da covid-19.
Segundo relatórios do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), as mulheres recebem menos de 10% do total de investimentos, são donas de apenas 7% das empresas da Fortune 500 e apenas 4% das empresas gerenciadas por mulheres faturam mais de 1 milhão de dólares. A maioria dos negócios conduzidos por mulheres são pequenos, financiadas por economia própria ou empréstimo de familiares, dificultando o seu crescimento. Ainda, muitas delas relatam que sofrem mais preconceito quando são jovens, têm dificuldades para exercer autoridade e que precisam esconder seus sentimentos para não demonstrar fragilidade. Esses problemas são ainda mais intensos em setores da economia tradicionalmente masculinos, como em empresas de engenharia e postos de combustível.
Apesar disso, existem cerca de 24 milhões de mulheres empreendedoras no Brasil e, de acordo com uma pesquisa feita pelo Sebrae com a FGV, os pequenos negócios liderados por mulheres foram o grande motor do empreendedorismo durante a pandemia. O estudo apontou que 71% dos negócios femininos inovaram no período de crise. Um relatório Global (Mastercard Index of Women Entrepreneurs, 2020) identificou que 42% das mulheres transformaram seus negócios em digitais e 34% delas identificaram novas oportunidades de negócios durante a pandemia.
Em Goiás, segundo pesquisa feita pela Universidade Federal de Goiás em parceria com o Sebrae em 2020, 32% das mulheres são empreendedoras empregadoras, com idade média de 44 anos, em sua maioria com ensino médio e superior completo, 49% delas são casadas e 63% possuem filhos. A renda média das mulheres empregadoras é de R$3479, enquanto a dos homens empregadores em Goiás é de R$4602. As pesquisas científicas demonstram que os principais motivos que levam as mulheres a empreender são atuar de forma alinhada aos valores pessoais, trabalhar com maior autonomia, seguir a carreira dos sonhos, a necessidade de profissionalizar um hobby, de complementar sua renda, de ocupar seu tempo ocioso, ou porque são forçadas a buscar formas de se sustentar após a morte do marido ou divórcio.
As empreendedoras mais bem-sucedidas apresentam altos níveis de confiança e originalidade. Como têm mais barreiras para superar, costumam ser mais criativas e criar produtos e serviços com uma elevada dose de identidade própria e afetividade. As pesquisas demonstram ainda que as mulheres têm maior foco no atendimento ao cliente, na geração de experiências agradáveis ao consumidor e são mais eficientes para motivar sua equipe, adotando estilos de gestão colaborativos.
Todos esses fatores demonstram que a mulher tem um grande potencial para inovar, se diferenciar no mercado, criando negócios com mais afetividade e que gerem melhores experiências aos consumidores. Além disso, a força para superar as adversidades as tornam mais persistentes e resilientes, fatores fundamentais para o sucesso do negócio. Criar negócios baseados em suas experiências anteriores e gostos pessoais também são fatores que aumentam a competividade.
Sem dúvidas a mulher conquistou seu espaço e não vai abrir mão dele. Precisam elevar seus níveis de autoestima e acreditar que são tão (ou até mais) capazes que os homens para conduzir seus negócios, não tendo medo de investir e solicitar empréstimos para que a empresa possa crescer. Grupos de networking também podem ser úteis para compartilhar os problemas e estratégias para solucioná-los.
Cada mulher sabe a dor e a delícia de empreender. Entender qual é seu propósito, o que te leva a querer ter o próprio negócio e, principalmente, o que te realiza como pessoa é fundamental. O equilíbrio entre a família e o trabalho são necessários para sua felicidade e tranquilidade emocional. Os desafios são enormes, mas os benefícios também. Sem dúvidas as mulheres podem transformar para melhor a economia de nosso país.
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Luciana Padovez Cualheta é Fundadora e diretora da Sempreende. PhD em Administração, com foco em Empreendedorismo. Mestre em Empreendedorismo e Inovação pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Pós-graduada em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).Facilitadora certificada da metodologia Lego®️ Serious Play®️. Experiência de mercado como empreendedora no ramo de alimentação e consultora na Shell Brasil. Revisora da Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas.