Negociar contrato de aluguel é saída para enfrentar crise

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(Crédito da imagem: iStock)

Para aliviar o impacto da crise causada pela pandemia da Covid-19, o mercado imobiliário em todo o país viu crescer o volume de pedidos de negociação de contratos de locação de propriedades residenciais e comerciais em 2020. Entre as principais justificativas para solicitar um acordo entre inquilinos e proprietários estavam o receio de sofrer uma demissão ou a possibilidade de redução do salário por conta do fechamento do comércio, além da paralisação temporária e indefinida do próprio negócio por conta dos decretos. 

Em 2020, os meses de abril e maio foram os que registraram uma maior procura pela revisão de contratos e de valores, de acordo com a Desenrola, plataforma digital de aluguel e venda de imóveis residenciais e comerciais em Goiânia, São Paulo e Cuiabá. 65% dos clientes de locação da empresa solicitaram algum tipo de negociação no aluguel. Levantamento da consultoria Consumoteca, realizado em maio do ano passado com duas mil pessoas apontou que 20% perderam o emprego e 15% se endividaram durante a pandemia. Diante da dificuldade para acertar as contas do mês, 26% priorizariam o pagamento do aluguel ou financiamento imobiliário. 

De acordo com o gerente de Marketing da Desenrola, Thiago Ciaciare, a população ficou bastante assustada diante do cenário de incertezas econômicas e consequências de decretos de lockdown ou funcionamento parcial do comércio.

“Recebemos muitas ligações, pedidos por e-mail e WhatsApp solicitando uma carência do pagamento do aluguel, no caso de imóveis comerciais, que o proprietário abrisse mão do aluguel porque tiveram que fechar as portas do seu negócio, como foi o caso de restaurantes”, destaca.  

Entendendo a situação, a maioria dos proprietários contatados ofereceram um desconto no valor mensal cobrado pelo imóvel. Em propriedades comerciais, esse desconto chegou a 50%, numa média de 30% no geral. Thiago aponta que os donos dos imóveis foram muito compreensíveis e receptíveis aos pedidos. “Eles preferiram oferecer um desconto do que perder o inquilino. Se o local ficasse desocupado seria pior. Ouvimos muito a frase ‘Tá todo mundo apertado, todo mundo na mesma situação'”, lembra. 

Nos principais acordos em aluguéis realizados pela Desenrola, proprietários deram descontos em um mês e, conforme era o cenário de evolução da pandemia, a ação era prorrogável para os meses subsequentes. “Tivemos clientes que conseguiram quatro meses com descontos mensais de 30%, por exemplo”, comenta. Em outra situação, o proprietário oferecia desconto e parcelava os valores que estavam atrasados. E, por último, inquilinos que tiveram desconto de 10% no mês após negociação intermediada pela imobiliária.  

O psicólogo Lucas Craveiro Zenon possui imóveis comerciais locados e, desde o início da pandemia, diante do cenário de incertezas e da duração do lockdown, decidiu adotar a conversa com todos os inquilinos, analisando de perto a realidade de cada um.

“Todos me procuraram e, juntos, chegamos a um consenso bom para ambos os lados. Procurei considerar a situação de cada locatária, desde o pequeno comerciante, que trabalha sozinho, até aquele que possui um negócio maior, com mais lojas abertas”, explica. 

Lucas concedeu descontos aos inquilinos que o procuraram, índice que chegou a 50% nos primeiros meses da pandemia, sem contar ajudas extras oferecidas em caso de um inquilino que, quando o comércio foi retomado, acabou contraindo a Covid-19 e teve que permanecer ainda de portas fechadas. “Ele trabalhava sozinho e não tinha muito o que fazer. Antes ajudar nestes casos do que ter o contrato rescindido e o imóvel em vacância, sem perspectiva de locação em um momento como este”, pondera. “Foi uma situação bastante complicada, pois a renda de quem aluga também cai e não contamos com qualquer ajuda do governo federal para aliviar a situação”, reclama.  

A Desenrola também fez sua parte para ajudar a aliviar o bolso dos inquilinos e minimizar a inadimplência, como reduzir o percentual cobrado pela administração do imóvel. “Em alguns casos, quando o proprietário ofertava um desconto relevante e se ele tivesse uma taxa mais alta, também baixávamos o valor. Nosso principal objetivo era evitar a desocupação do imóvel, o que traria um cenário pior ainda, de prejuízo para todo mundo”, pondera Thiago, que lembra que muitos locadores também abriram mão de multas e juros. 

A primeira dica para buscar uma negociação é fazer uma comunicação não violenta, ou seja, escutar, sempre entender, saber quais são os motivos que estão levando aquele inquilino a pedir desconto ou entender o proprietário a negar o desconto. O melhor momento é logo no início da crise.  

“No momento em que o inquilino pedia desconto, tínhamos que entrar em contato o mais rápido possível com o proprietário. Deixar essa situação para próximo ao vencimento ou acumular aluguéis em aberto vão gerar um valor mais alto e complicar ainda mais a situação para todos. Desempenhamos um papel mesmo de orientação e em busca da melhor saída para ambos os lados”, afirma o gerente de Marketing da Desenrola. 

Intermediação 

Nem sempre a conversa com o proprietário significa uma resolução para a situação. Analista de Serviços ao Cliente da Desenrola, Alaor Cubas Júnior comenta que algumas situações de locação de imóveis comerciais, mesmo com negociação de desconto, não conseguiram se manter e tiveram o contrato rescindido. “Em contrapartida tivemos grandes alegrias em manter locatários que estavam à beira da desocupação e conseguimos reverter a situação por meio das negociações junto aos proprietários”, comemora.  

Um caso que ele lembra é de um casal de locatários que acabou de ter um filho e estava em situação bastante complicada. “Em contato com o locador, este foi bastante solícito e autorizou um desconto no valor do aluguel que ajudou muito a manter essa família no imóvel”, relata. “A Desenrola funcionou como intermediadora do processo de negociação. Em um primeiro momento, recebemos o contato do locatário solicitando negociação de desconto. Depois falamos com o proprietário e, após a conversa, era dado o devido retorno ao locatário com o parecer. Em alguns casos ainda ocorriam novas tentativas com locador caso não fosse autorizado nas primeiras tratativas ou caso o locatário solicitasse uma nova margem de desconto”, aponta Alaor.  

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