Com funcionamento suspenso para evitar a propagação do coronavírus, o segundo maior polo de confecção do país, a região da Rua 44, Centro de Goiânia, busca alternativas para contornar a situação e evitar impacto nos negócios. A saída encontrada pelos empreendedores locais no momento é concentrar energias e estratégias nas vendas online.
De acordo com dados do Compre e Confie, empresa de inteligência de mercado focada em e-commerce, a alta das vendas totais foi de 40% nos primeiros 15 dias de março no País. “A tendência é que o cenário continue dessa forma, com consumidores mais engajados nas compras à distância e movimentando o consumo de categorias relacionadas às necessidades básicas do dia a dia e de prevenção da covid-19”, afirma o diretor executivo do Compre&Confie André Dias, que também é coordenador do Comitê de Métricas da camara-e.net, principal entidade multissetorial da América Latina.
Empresária no Shopping Gallo, Sharlla Sousa, 32, atua no segmento de moda feminina há 13 anos e possui três lojas na região da 44. Ela, que começou a investir nas vendas online há três anos, percebeu aumento considerável de 30% nas negociações virtuais desde o final do Carnaval até o início da segunda quinzena do mês de março. A procura veio tanto de clientes antigos quanto de novos consumidores.
Sharlla atende clientes de Goiânia, de outros estados e de países como Flórida, Portugal, Estados Unidos e África. “Estamos trabalhando de forma remota, com as vendedoras a postos para atender aos pedidos e despachá-los via Correios ou entrega na Capital”, destaca. Em uma das lojas, por exemplo, vários pedidos aguardam a reabertura do negócio para serem retomados, a pedido dos clientes e de cuidados da própria empresária.
Após a pandemia, a empresária revela que os planos incluem realizar investimento maior nas vendas virtuais para atrair nova clientela no exterior. “As vendas online hoje representam cerca de 50% do total de vendas, e a outra metade pertence às lojas físicas”, calcula.
O atendimento oferecido em todas as vendas, física ou online, é o diferencial do negócio. Em média, seu negócio atende cerca de 200 clientes que realizam compras por meio dos canais online, todos os meses. “Temos clientes que preferem se dirigir até a loja, conferir o produto de perto e somente depois aderem ao virtual. Temos clientes que não nos visitam há mais de oito meses e cliente na Flórida que nunca veio pessoalmente até o meu negócio.”
A empresária Sabrina Alves da Costa, que também atua no segmento de moda feminina há 3 anos e abriu uma loja no Shopping Gallo após fechar outra instalada na região, conta que sua empresa sempre manteve um canal de comunicação para vendas online com o cliente, além de um site de e-commerce com delivery grátis para Goiânia e Aparecida de Goiânia e envio de mercadorias para todo o Brasil e exterior. O que antes era apenas uma maneira de agradar e levar comodidade aos clientes, agora é uma alternativa utilizada para manter as vendas. “A cada venda feita é uma grande alegria, pois na atual realidade, as clientes de atacado e de varejo estão com receio de comprar”, frisa. Para atrair a clientela, a empresária realiza promoções e também reduziu a quantidade exigida de peças por atacado.
Sabrina calcula que a queda nas vendas chega a mais de 80%. “Geralmente, quando postamos alguma peça nas nossas redes sociais, as clientes nos chamam para conversar, procuram saber mais sobre os detalhes do produto, especificações, preço de atacado e varejo, mas não são todas as negociações que se fecham. Porém estamos conquistando novos seguidores, que estão conhecendo nossa marca e procurando pelo nosso produto”, destaca. A procura está vindo de consumidores dos estados do Tocantins, Amapá e Pará, e de municípios do entorno de Goiânia, como Senador Canedo e Trindade.
Hoje, as mercadorias são despachadas pelos Correios para evitar atrasos na entrega, como vinha acontecendo com as transportadoras. “Mesmo sendo uma situação difícil para todos nós, precisamos pensar que isso vai passar, respeitar a quarentena e ficar em casa. Eu quero muito que tudo volte ao normal e penso que podemos controlar essa pandemia, o mais rápido possível. E que os nossos representantes possam olhar por todos os comerciantes e todos os trabalhadores que, assim como eu, dependem do trabalho para levar sustento para suas famílias”, ressalta.
A empresária Bruna de Oliveira Mendes atua no segmento de moda feminina há 5 anos, apenas com vendas online, e abriu sua loja física junto com a inauguração do Shopping Gallo, no final de novembro de 2019. As redes sociais e o WhatsApp têm sido as ferramentas principais do seu negócio neste momento. “Nossas vendas tiveram uma queda significativa, em torno de 60%. Os clientes estão tentando se adaptar, mas é bem diferente. Acredito que muitos estão inseguros, muitas fronteiras fechadas também, dessa forma impossibilita o envio de mercadorias”, explica.
No entanto, apesar da suspensão do funcionamento da sua loja, a procura de nova clientela está aumentando. “Fizemos um alto investimento em marketing. E também mantivemos o valor do produto com oferta de frete grátis. Os seis funcionários continuam trabalhando no atendimento online aos clientes. “Sou muito otimista, somos brasileiros e nunca desistimos. Vamos continuar lutando como sempre. Desistir jamais!”, frisa.
Marketplace
A proposta de incentivo à venda online integra o planejamento estratégico do Shopping Gallo desde a sua abertura. “Diante do decreto do Governo de Goiás de fechar os empreendimentos, conseguimos acelerar bastante essa plataforma e, logo, todos os lojistas terão acesso ao marketplace, onde cada um terá o seu e-commerce”, explica o superintendente do mall, Célio Abba.
Quando finalizado, a expectativa é alcançar todo o Brasil de forma digital para que o lojista conte com mais esse canal de vendas. “E que será potencializado com o atual momento do país, onde a venda digital se tornou de fundamental importância para sobrevivência de cada empresário”, destaca Célio.
O Shopping Gallo também tem proporcionado aos lojistas um ambiente de muita interação, inclusive pelas redes sociais, com programações de lives e treinamentos. “Estamos oferecendo todo o nosso apoio para reduzir o impacto de cada negócio diante desses dias de fechamento do comércio. E, em março, no que tange à locação, o lojista terá isenção dos dias em que o shopping permanecer fechado”, conta.