O uso da impressão 3D a serviço da medicina em Goiás deu um importante passo para a redução dos riscos e aumento da precisão de resultados em cranioplastias e cirurgias na coluna cervical. Por meio da produção de biomodelos e formas prototipadas, a Adtiva 3D – Laboratório de Anatomia Específica, tem oferecido aos cirurgiões um novo universo de preparação para procedimentos delicados.
A iniciativa surgiu com o neurocirurgião Bernardo Drummond Braga enquanto ele estudava o treinamento com simulação para cirurgias para a tese de seu doutorado. A partir dessa experiência, o especialista decidiu se aprofundar nos benefícios que a tecnologia poderia trazer para a medicina.
“A simulação pode ser feita com a ajuda da impressão 3D para cada paciente. Cada um tem uma anatomia diferente e isso permite ao cirurgião fazer uma peça com o tamanho milimetricamente igual ao do seu paciente”, destaca.
Na União Europeia, um projeto financiado pelo bloco conhecido como “The Spine of the Future” beneficiou 75 mil pacientes com produtos desenvolvidos através de impressão 3D em 2019.
Os benefícios da impressão 3D a serviço da medicina
As vantagens de usar a impressão 3D na preparação para cirurgias são numerosas. Segundo Bernardo, a possibilidade de simular o procedimento antes de realizá-lo no paciente permite ao profissional analisar relações anatômicas, avaliar riscos, definir os equipamentos e materiais ideiais para a intervenção e mais.
Contudo, não foi uma tarefa simples chegar a um processo que pudesse de fato atender às necessidades médicas. A criação de biomodelos capazes de replicar o local a ser operado para serem inclusive levados para dentro do centro cirúrgico exigiu união entre tecnologia e experiência médica.
“Comprei a primeira impressora há uns quatro anos e sofri em busca de software. O processo de impressão para a medicina como um todo era mais complexo do que eu imaginava e demandava tempo. Busquei ajuda de outras pessoas e montamos uma empresa na garagem da casa do meu pai”, conta o médico Bernardo.
Um processo cuidadoso
Foi a partir da junção desse conhecimento de profissionais da área da saúde com a expertise de empresários com uma longa trajetória na distribuição de equipamentos cirúrgicos e hospitalares que a Adtiva 3D definitivamente ganhou corpo. Esse mesmo cuidado e atenção aos detalhes que cercou a consolidação da empresa também é aplicado à produção dos biomodelos e demais produtos da impressão 3D oferecidos.
Como explica o sócio Douglas Di Bellis, o processo é feito a partir de um estudo meticuloso dos casos de cada paciente. “Nossos produtos são desenvolvidos por impressoras 3D que usam PLA e outros materiais injetáveis em sua essência. O tempo de produção varia de acordo com o biomodelo que será produzido, pois eles são criados por meio do exame dos pacientes (ressonância e tomografia) para então serem transferidos para um software que faz o processo de impressão”, ilustra.
Precisão em procedimentos delicados
Dentre as intervenções cirúrgicas auxiliadas pelo uso da tecnologia desenvolvida pelo laboratório de anatomia específica estão procedimentos delicados que realmente demandam o máximo de precisão do profissional como a fratura de Jefferson.
O neurocirurgião Bernardo recorreu à tecnologia da impressão 3D como um suporte importante para recuperar com segurança uma paciente que havia sofrido esse tipo de lesão. “A paciente de 26 anos sofreu um capotamento e fraturou a primeira vértebra cervical além de lesionar o ligamento transverso e o trauma fechou a artéria vertebral esquerda. No Tocantins foi indicada uma fixação crânio-cervical, cirurgia que iria comprometer grande parte do movimento do pescoço. A simulação com o biomodelo permitiu planejar uma cirurgia mais curta e mais segura, sem fixação ao crânio, o que diminui as chances de lesão da única artéria vertebral remanescente que poderia causar um AVC”, explica.
Além dos procedimentos envolvendo a coluna cervical, a Adtiva 3D também tem se dedicado ao desenvolvimento de formas prototipadas que melhoram os resultados de cirurgias de cranioplastia.