Indústria brasileira, uma década de derrotas

 Edwal Portilho 'Tchequinho'

Presidente-executivo da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial de Goiás (ADIAL) e ADIAL-LOG.
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(Imagem: Pixabay)

A indústria no Brasil vive o pesadelo de não encontrar o rumo, não ter uma política industrial nacional específica há praticamente uma década, fora outras três décadas de equívocos no planejamento estratégico para o setor no País.

Estar de pé hoje, produzindo e ativo, pode ser considerada uma anormalidade. Um agente econômico que, sufocado, luta para sobreviver. Depois das fortes recessões em 2009/10 e 2014/15, o setor ensaiou se recuperar (2017 e 2018), com frágil crescimento de 3,5% acumulados em dois anos, e tombou de novo em 2019 e, bem provável, em 2020 – quando se encontra, para variar, dentro de um novo ciclo recessivo.

De todas décadas perdidas para a indústria nacional, a atual é a mais violenta. Pode-se considerar que são três recessões pesadas. Como, em regra, uma recessão demora um ano para passar e, pelo menos mais 18 meses estagnada, para retomar o ritmo anterior, temos um processo natural de início ao fim de um ciclo recessivo, em média, de dois ano e meio. Com três recessões, passamos, na década, entre 2010 e 2020, 75% do tempo com nossa indústria escolhendo ou estagnada.

Para se ter uma ideia, hoje, em outubro de 2020, segundo dados do Iedi/IBGE, estamos mais de 10% abaixo do nível de produção anterior à recessão de 2014. De lá para cá, encolhemos tanto que não conseguimos voltar ao antigo patamar. Caímos no poço, ao fundo, e mais de seis anos depois, não voltamos à superfície.

A indústria brasileira não consegue acompanhar o desenvolvimento industrial ao redor do mundo. Estamos encolhendo e perdendo espaço para economias bem menores que a brasileira, mas que valorizam sua industrialização. Antes, nas décadas anteriores, crescemos aos trancos e barrancos, mas crescemos. O quadro atual é crítico e não há qualquer movimento governamental para revalorizar a produção industrial doméstica. Muito pelo contrário, o olhar é enviesado para o industrial.

E falta de tudo. Organização setorial, políticas públicas de médio e longo prazos, investimentos privados, segurança jurídica, políticas fiscais transparentes e sólidas, infraestrutura, mão de obra qualificada, proteção contra produtos importados que desindustrializam setores de base, entre outras dezenas de descuidos com um setor que é estratégico em qualquer lugar do mundo, menos no Brasil.

Passou tanto da hora que precisamos mais do que uma política industrial, mas de um plano de salvamento da indústria brasileira. E não falo por Goiás, que tem, em todo este ciclo recessivo, um comportamento minimamente diferenciado e conseguiu resultados sempre superiores à media brasileira.

Mas não tem como desgrudar da crise. Goiás poderia ter crescido muito mais se a indústria nacional não tivesse tombado tanto. Hoje, no Estado, por exemplo, o setor tem a segunda maior representatividade em empregos formais, atrás do setor de serviços, que tem a indústria como um dos seus principais contratantes. Goiás, que luta para se manter entre as 10 maiores economias estaduais do País, já tem o sétimo maior parque industrial.

A indústria brasileira reponde hoje por 20% do PIB. No entanto, já representou 45% do PIB em meados dos anos 1980. Sabe a representatividade da indústria no PIB chinês? Isso mesmo, 45%. A indústria chinesa não cabe na China, hoje ela é mundial. E o contrário ocorre no Brasil.

Sem rumo, nossa indústria vai se recolhendo ao mercado doméstico, isolada, e, aos poucos, sendo engolida por produtos importados. Nossa indústria não é competitiva, tem baixa capacitação e investimento, inovação precária e uma dinâmica comprometida por uma política tributária que tem foco em salvar as contas públicas. Perdemos boa parte do tempo tentando desamarrar a indústria dos transtornos causados pelo setor público. Mais tempo fazendo isso do que desenvolvendo nosso parque fabril e nossa produção – essa sim, se deslanchasse, salvaria as contas públicas.

Atualmente, estamos despreparados para concorrer com estrangeiros, mesmo em nosso território, em mais de 75% dos setores. Estamos no risco. Na parte de insumos industriais, parte do que se produzia aqui fechou e, hoje, dependemos de importação. Isso, traduzindo, é a desindustrialização chegando.

Hoje, no campo industrial, o Brasil joga para perder. Não se movimenta, não reage e não está incomodado. Enquanto a dor do industrial e do trabalhador da indústria não for a dor de todos brasileiros, vamos destruir silenciosamente este gigante ativo econômico. E os chineses, vietnamitas, sul-coreanos, paraguaios, entre outros que apostam na industrialização, nos agradecem.

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