Mesmo em cenário de inflação, forte volatilidade e juros altos, no mês de julho de 2022 o panorama econômico no Brasil mostrou uma movimentação dos fundos de private equity, em busca de ações mais baratas na Bolsa de Valores (B3). Os alvos foram empresas com ações menos valorizadas, mas que apresentam bons fundamentos econômicos – uma janela de oportunidade para quem quer vender uma empresa e também para investidores.
Mas como tornar sua empresa um alvo, objeto bem visto, por esses investidores? Apresentar números e fundamentos de gestão bem estruturados são um diferencial atrativo nas oportunidades de novos negócios. É o que aponta Max Schaefer, head da Smart Boss, empresa que atua com consultoria para estruturação estratégica de performance, e na assessoria para compra e venda de empresas (M&A).
Para Max, os investidores estão atentos aos produtos que tenham alto valor agregado, tanto em margem de contribuição, como em escala. A questão de segurança, a solidez da empresa, do ponto de vista de finanças é fundamental, vão garantir a potencial compra e venda, ou mesmo o recebimento de aporte de um possível investidor.
Segundo o head da Smart Boss, os empresários devem buscar bons fundamentos para trazer a empresa ao ambiente de gestão, mantendo consistência no faturamento, gerenciamento de custos e qualidade de resultado. Entre esses fundamentos, ele indica a auditoria com critérios contábeis confiáveis, com balanços e informações financeira da empresa.
A auditoria também é apontada pelo head Institucional e Jurídico da Russell Bedford Brasil, Luis Felipe Barros, como fator fundamental para o início de processos de compra e venda de empresa, pois, segundo ele, é a partir da auditoria contábil e financeira que será possível enxergar a saúde econômica da empresa.
De acordo com Luis Felipe, a auditoria permitirá verificar, entre outros pontos, a existência de tributos – se foram pagos corretamente, a existência do caixa contundente e de passivos. Ele afirma que a auditoria contábil se mostra como uma das melhores ferramentas existentes para essa finalidade.
“Não tem como adquirir uma empresa sem fazer uma auditoria, pelo menos, do balanço patrimonial, para ver se este é verossímil. O empresário pode, por exemplo, apresentar demonstrações contábeis extremamente consistentes, e na verdade, na prática, nos fatos, os números não existirem. Portanto, vem a auditoria, verifica as contas, os pagamentos, toda essa questão contábil, financeira, e confirma ou não os documentos, para informar se a empresa está apta. Olhamos se não há nada que pese contrário à empresa, questões tributárias, fiscais, previdenciárias e econômicas. É impossível pensar que alguém vai comprar, adquirir uma empresa sem verificar se aquilo que está sendo apresentado efetivamente existe, na prática”, ressalta.
Governança
Ainda sobre o processo de compra e venda de empresas, o head da Smart Boss, Max Schaefer, chama a atenção para o fato de que, mesmo que o negócio seja familiar, é preciso ter cuidados com a governança para que seja atrativa aos investidores. Entre eles, gerar relatórios de administração para apresentar uma relação de transparência do negócio, o que também facilitará a operação de venda.
Independentemente do tamanho da empresa, Max detalha que a governança contribuirá para que o ambiente empresarial não esteja 100% centralizado na “mão do dono” e para que o patrimônio da empresa esteja separado do patrimônio do proprietário. Também para apresentar a prática de precificação com base no mercado, mostrar boa gestão de compra de mercadorias, de estoque, de despesa administrativa, para alcançar responsabilidade corporativa e agir dentro dos preceitos legais e sociais.
Alinhado com esses pontos elencados acima, o head da Smart Boss também aplica a consultoria de Valuation – processo para estimar o valor de uma empresa, de forma sistematizada, com a premissa de analisar o seu valor futuro. Nesse ponto, Max destaca a importância de as empresas terem um planejamento estratégico, que aponte o caminho a seguir. “O documento precisa estar projetado com base nos números da organização, para trazer confiança ao possível investidor, porque quando você traz uma ideia de futuro, você precisa ter um projeto que traga consistência, de acordo com esse futuro desenhado”, explica.
Após o Valuation, existiria outra etapa, a de Due Diligence, consistindo em uma verificação refinada de todos os itens apurados, não somente no Valuation, mas uma análise detalhada dos principais pontos sobre tributos, funcionários, fornecedores, matéria-prima, do aspecto trabalhista e cível. “Tudo para evitar surpresas desagradáveis no decorrer da compra”, ressalta.
Pontos de atenção
Max Schaefer destaca mais dois cuidados que devem ser tomados ao comprar e vender uma empresa: atenção à legislação de sucessão, artigo 1.146 do Código Civil, e precaução aos prováveis parcelamentos para pagamento da compra. Ele ressalta que, dependendo de cada caso, o direito à sucessão hereditária pode perdurar por até dois anos, de forma trabalhista e cível, o que pode interferir diretamente no futuro das empresas.
Sobre os parcelamentos, ele destaca que é importante conhecer o comprador, analisar como serão os parcelamentos e verificar se terão uma garantia viável. “No momento que passa a empresa, você transfere a posse do seu negócio. E se torna mais complexa uma devolução. O comprador não pode ser, por exemplo, uma pessoa alheia ao seu negócio. São fatores que devem ser observados de maneira condizente”, alerta.