A contínua evolução tecnológica nos dias de hoje, além de mudar drasticamente o comportamento de consumo das pessoas, tem feito com que a qualquer momento uma nova revolução atinja determinado setor, estabelecendo novas práticas ou até mesmo criando novos mercados. Foi assim com o serviço de táxi, após a chegada do Uber e outros aplicativos de transporte; com a indústria fonográfica, que precisou se reinventar depois dos serviços streaming de música; e tem sido assim com os bancos, que começam a ver sua hegemonia em risco com o crescimento das fintechs, termo criado a partir da junção das palavras, em inglês, “financial” (financeiro) e “technology” (tecnologia).
“Essas startups estão revolucionando esse setor de serviços bancários e financeiros, fazendo com que pessoas e empresas de qualquer lugar e à qualquer hora do dia, saquem dinheiro, paguem contas e faturas, usem cartão de crédito, façam depósitos e transferências sem colocar os pés numa agência bancária”, explica Marcelo Camorim, consultor empresarial e especialista em governança corporativa.
Ele explica que as fintechs são majoritariamente startups que atuam com o objetivo de otimizar os serviços do sistema financeiro. Elas possuem custos operacionais muito menores, comparados aos que são oferecidos pelas instituições bancárias convencionais, o que as tornam muito atraentes para clientes tradicionais, que querem fugir das altas taxas, e para as novas gerações, que já chegam ao mercado acostumadas com essas inovações.
Grandes bancos varejistas do Brasil já começam a reagir a essas mudanças impostas pelas fintechs. Recentemente, o Banco Itaú – um dos principais do País – anunciou a seus acionistas medidas drásticas de contenção de custos, entre elas, o lançamento do programa de demissão voluntária e o fechamento de agências. A medida adotada pelo banco visa fazer frente aos baixos custos trazidos pelas startup financeiras. Esse movimento pela sobrevivência dos grandes bancos ocorre mundo afora, ou seja, estão tentando evitar o inevitável. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma grande rede bancária já está financiando fintechs com o objetivo de fazer parte desse novo e promissor mercado.
Segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mais da metade das transações bancárias no Brasil já é feita pela Web – 36% por meio de dispositivos móveis e 22% por Internet Banking; somente 8% são realizadas nas agências físicas, que, desde 2016, vêm fechando as portas e reduzindo, em média, 4% ao ano. De 2013 a 2017, o número de usuários de serviços bancários digitais cresceu 32% ao ano, alcançando 118 milhões de clientes.
Diferencial
Para o empresário goiano e CEO da loja âncora de confecção República da Moda, Peterson Demes, o uso das fintechs não é uma novidade. Ele é cliente da Nubank, aplicativo bancário lançado em 2014. Com sede na cidade de São Paulo – a fintech brasileira é pioneira no setor de serviços financeiros, e começou inovando como operadora de cartões de crédito sem cobrar qualquer tipo de taxa. Mesmo sem ter nenhuma agência física, a empresa recentemente chegou à marca de 10 milhões de clientes no Brasil, entre possuidores de contas digitais e cartões de crédito.
“O grande diferencial das fintechs é o fato de você fazer todas as suas operações sem ter que falar com um gerente ou ir a uma agência, isto é, todas operações podem ser feitas via celular”, afirma Peterson. Na sua opinião, esse novo modelo de negócio veio para ficar, pelo menos até uma próxima inovação no setor. Há quatro anos, o número de fintechs no Brasil não chegava a 90, hoje já são 550, segundo estudo feito pela Distrito, uma holding de negócios voltados à inovação.
Peterson ressalta que as vantagens de utilizar o Nubank é a inexistência de qualquer tipo de taxa, o fato de o dinheiro depositado render automaticamente um valor acima do pago pela poupança, além da facilidade de resolver qualquer problema referente ao cartão via aplicativo. “Se precisar, resolvo tudo via chat”, conta.
Ruptura
De acordo com o consultor em gestão e especialista em governança corporativa, Marcelo Camorim, marcas como UBER, Rappi, Spotify, AirBnB e a fintech Nubank entre outras, trouxeram uma ruptura em vários modelos de negócios. Segundo ele, ancoradas nas novas ferramentas tecnológicas, essas empresas mudaram de maneira rápida e profunda mercados consolidados e que não se adaptaram às mudanças, como é o caso dos taxistas.
“A maioria dos motoristas de táxi não imaginava, que no início das atividades do Uber em março de 2009, na cidade de São Francisco, Califórnia (EUA), o quanto a realidade deste negócio iria mudar”, pontua Camorim. “Chamar um Uber nos dias de hoje, ou um dos aplicativos concorrentes, se tornou mera rotina, com custos muito mais baixos que o tradicional ‘carro de praça’ – como eram chamados o táxis no tempo de nossos avós”, comenta o especialista.
Segundo Camorim, a revolução que chegou aos serviços de transporte privado é fruto dessa tecnologia disruptiva nos dias de hoje, “que rompe, inova e acaba substituindo o que já existe, por algo muitas vezes mais barato e eficiente”.