Localizado a 270 km de Goiânia, Montes Claros de Goiás será o primeiro município da região Centro-Oeste a explorar jazida de potássio para a produção de fertilizante potássico natural. O adubo poderá ser utilizado em larga escala, principalmente na atividade agropecuária, e será obtido a partir da extração e moagem de rochas ricas em potássio. A jazida foi descoberta pela EDEM Agrominerais, por meio de diversas pesquisas geológicas realizadas a partir de levantamento aero geofísico da Agência Nacional de Mineração (ANM), que apontou, nas terras da Fazenda Carolina, em Montes Claros de Goiás, um perfil de solo com potencial geológico.
Na cidade, o potássio encontra-se em alta concentração na forma de rocha, sendo um composto 100% natural, sem nenhum tipo de enriquecimento químico artificial. Isso possibilita um processo simples de extração, no qual apenas a moagem da pedra e seu transporte são necessários. Não há a necessidade de barragem ou lavagem dos insumos, ou seja, não há necessidade de consumo de água na produção.
Após a descoberta, a EDEM Agrominerais partiu para o estudo da viabilidade produtiva e econômica da jazida. O próximo passo foi o desenvolvimento do projeto de exploração sustentável do potássio no local. É o Projeto KMC, com previsão de produção inicial de 80 mil toneladas/ano.
Com localização estratégica, a jazida tem excepcional condição logística e de infraestrutura. Está às margens da rodovia federal BR-070, com oferta local de energia trifásica e facilidades de acesso a diversas regiões produtoras. O geólogo e sócio da EDEM Agrominerais, Luiz Vessani, explica que as reservas de potássio na jazida, já avaliadas e oficialmente aprovadas pela ANM, alcançam 207 milhões de toneladas, com elevado teor de K2O (10%) e riqueza de macro e micronutrientes essenciais ao crescimento das plantas e importantes para a manutenção da fertilidade dos solos.
Dependência externa
O coordenador-técnico de hortifrúti do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Alexandro Alves dos Santos, salienta que, em 2019, de acordo com dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), a produção nacional de fertilizantes no Brasil foi de 2,6 milhões de toneladas e o consumo total desses nutrientes, abrangendo nitrogênio, fósforo e potássio, foi de 15,5 milhões de toneladas.
“Nós importamos 97,7% do total de fertilizantes que nós consumimos hoje no Brasil. Em Goiás, o consumo de fertilizantes, em 2019, foi de 1,6 milhão de tonelada, lembrando que, atualmente, o estado produz apenas fósforo”, afirma.
Ainda analisando os números de 2019, Alexandro Alves destaca que a produção total de potássio no Brasil correspondeu a 3,9% do total comercializado. Isso significa que o país importou 96,1% desse fertilizante, com o preço médio de U$ 588/ tonelada.
“Olhando para a realidade de Goiás em relação à dependência externa de fertilizantes, é preciso dizer que o início da exploração de jazida de potássio em Goiás é algo extremamente positivo não só para o estado, mas para o Centro-Oeste como um todo, que consome quase 40% do potássio entregue no Brasil, graças à expressiva produção de grãos e cana-de-açúcar na região. A exploração da jazida será fundamental para diminuir os custos para os produtos, principalmente por estarmos com o câmbio desfavorável para importação de insumos. Sem falar da facilitação que trará para a questão logística, que não é muito favorável para nossos produtores, por estarmos longe dos portos”, afirma.
O geólogo e também sócio da EDEM Agrominerais, Lincoln Gambier, acrescenta que, neste cenário de dependência, a disponibilidade de um fertilizante natural próximo às fontes consumidoras torna-se relevante para a segurança, a economicidade e a sustentabilidade do agronegócio regional. “A jazida descoberta é um importante trunfo econômico para a atividade agropecuária de Goiás, notadamente para as regiões Sudoeste e Noroeste do estado, polos significativos de produção de soja, milho, tomate, eucalipto e também da indústria sucroalcooleira. A exploração do fertilizante atenderá ainda a demanda das regiões Sudeste e Nordeste de Mato Grosso, destaques na produção agrícola nacional”, explica o geólogo.
Licenças e certificações aprovadas
A Licença Ambiental de Instalação já foi emitida pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad), o Relatório Final de Pesquisa foi aprovado pela Agência Nacional de Mineração (ANM) e o Guia de Utilização para a lavra de 80 mil toneladas/ano encontra-se em fase final de aprovação também na ANM. A produção para teste terá início em março do ano que vem e a produção em escala industrial, no mês de novembro. A previsão é de que o produto comece a chegar ao mercado no primeiro semestre de 2021.
Ensaios agronômicos do potássio de Montes Claros foram concluídos com sucesso na Universidade Federal de Goiás (UFG). O estudo contemplou cultivos de milheto, soja e feijão, com resultados amplamente favoráveis, comprovando a possibilidade da utilização do KMC como fertilizante natural alternativo. Novos ensaios contratados com consultorias conceituadas e produtores locais estão em andamento e já projetam perspectivas otimistas para o uso do KMC em lavouras de soja, milho e cana de açúcar. Experimento agronômico realizado na Fazenda Carolina, município de Montes Claros de Goiás, safra 19/20, compreendeu o plantio de soja em terrenos já cultivados, com resultados de colheita animadores.
Características do potássio de Montes Claros (KMC)
É isento de cloro e metais pesados;
Não agride o meio ambiente;
Baixo teor de sódio;
Livre de fitotóxicos e sais que agridem a planta, favorecendo o desenvolvimento das raízes;
De fácil aplicação: pode ser aplicado a granel, de uma só vez;
Tem liberação gradual e efeito cumulativo;
Pode ser aplicado em diversas culturas, como de soja, milho, cana, café, fruticultura, seringueira, plantio de eucalipto e, principalmente nos cultivos orgânicos;
Rico em micronutrientes que favorecem a biologia do solo;
Promove o aumento do CTC (Capacidade de Troca de Cátions), importante para solos arenosos.
Vantagens do potássio de Montes Claros
Responsável pela coordenação dos testes do KMC, o geólogo da EDEM Agrominerais, Gustavo Guerra, explica que os agromineraissilicáticos, como o KMC, além da disponibilização dos nutrientes que promovem o rejuvenescimento e o equilíbrio da fertilidade do solo, também podem disponibilizar o silício, elemento altamente benéfico, cuja aplicação tem mostrado aumento na produtividade e resistência contra pragas, doenças e estresses abióticos.
Além do silício, uma gama variada de macro/micronutrientes (cálcio, magnésio, cobre, manganês, cobalto, molibdênio e zinco) contribui para remineralizar o solo esgotado no decorrer de vários anos de cultivo, estimulam a atividade biológica das plantas cultivadas e aumentam a capacidade de retenção de água. A vida no solo, favorecida pelo uso do fertilizante potássico natural, contribui para o aumento do sistema radicular das plantas, além de fixar o nitrogênio via biológica.
Ao contrário do KCl (cloreto de potássio) – principal fertilizante químico utilizado na produção agrícola, altamente solúvel, lixiviável e responsável pelos efeitos negativos da salinização do solo – o potássio de Montes Claros é de liberação lenta e progressiva, capaz de fornecer os nutrientes de acordo com a necessidade de cada fase dos cultivos, reduzindo perdas por lixiviação.
“O potássio de Montes Claros favorece a formação de um ‘banco de macronutrientes’ residual no solo, que gradualmente é disponibilizado às plantas em cultivos sucessivos de até cinco anos”, destaca Gustavo Guerra.
Vantagens Ambientais
O uso de fertilizantes naturais faz parte de uma evolução tecnológica da agricultura brasileira – a chamada agricultura verde. Tanto é que estudos de desenvolvimento desses novos materiais e insumos têm tido o intenso apoio da Embrapa e da ANM.
“Para que o Brasil continue a ser o celeiro do mundo, é preciso olharmos a produção pela ótica da sustentabilidade ambiental. Para reduzirmos a pressão pela abertura de novas terras de produtividade agrícola, é preciso recuperar os solos degradados pela intensa atividade agrícola tradicional. Nesse sentido, as ciências agrícolas e geológicas precisam caminhar juntas, a fim de buscarem soluções estratégicas que alavanquem a produtividade e que, ao mesmo tempo, cuidem do meio ambiente, por meio de estudos e desenvolvimento de novos produtos agrominerais”, afirma o geólogo Luiz Vessani.
Nesse contexto de sustentabilidade, o geólogo Gustavo Guerra ressalta as vantagens ambientais do potássio de Montes Claros. De acordo com ele, pelo fato de ser uma mineração de baixo impacto, a produção do KMC não gera resíduos sólidos, não gera contaminantes e não usa água. A proximidade com o produtor é outro ponto positivo, pois significa a redução das emissões de CO2 relacionadas ao transporte. O geólogo diz também que, pelo fato de a área de lavra estar localizada em pastagem, a produção não vai alterar a vegetação nativa da região. Partindo para a propriedade do fertilizante, Gustavo Guerra enumera os diferenciais. “O KMC tem baixo teor de sódio e é isento de cloro, dois elementos que podem impactar negativamente a microbiota do solo.
O geólogo Lincoln Gambier acrescenta ainda outros impactos positivos para o meio ambiente. “A vida no solo, favorecida pelo uso do fertilizante potássico natural, provoca o aumento do sistema radicular das plantas, além de fixar o nitrogêneo via biológica. O sequestro do carbono da atmosfera por meio dos micro-organismos do solo, associado ao aumento de matéria orgânica, é um poderoso aliado na diminuição do carbono na atmosfera.”, conclui.
Potássio na agricultura
O potássio é um rico alimento para o solo e um dos nutrientes mais utilizados pelas plantas, perdendo apenas para o nitrogênio e o fósforo. Com isso, altos rendimentos na produção significam maior necessidade de potássio. Enquanto o adubo industrial apenas alimenta a planta, o adubo orgânico, como o potássio natural, alimenta o solo e cria uma dinâmica de retroalimentação. É responsável pelo balanço iônico nas células vegetais. Ele não tem função estrutural nem aparece na composição (não é exportado para os grãos), mas é o catalisador de um grande número de reações. A eficiente síntese de carboidrato e proteína depende do potássio, que afeta diretamente a fotossíntese.
O Brasil tem importante papel na segurança alimentar mundial, mas as terras cultiváveis são limitadas.
“O uso eficiente de fertilizantes que ajudam no aumento da produtividade agrícola é fundamental quando olhamos para as características do solo brasileiro, que é naturalmente pobre, em decorrência da alta lixiviação natural, que ocorre, principalmente, no Cerrado, bem como da exaustão de nutrientes pelo cultivo intensivo. Além disso, existe uma grande pressão ambiental no país com relação a novas terras cultiváveis”, afirma Luiz Vessani.
Com informações da Comunicação do Sistema Faeg/Senar (especial para a Revista Campo)