Pesquisa divulgada pela Faeg mostra que Goiás se consolida como um dos maiores produtores de citros no País

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O produtor rural e engenheiro agrônomo João Ricioli Neto, de 28 anos, produz grãos, cana-de-açúcar e laranja, na Fazenda Santo Antônio, localizada na zona rural do município de Goiatuba. A diversificação, conforme explica, se dá na tentativa de minimizar riscos e tornar a propriedade mais rentável. “Aqui, costumamos variar na produção, uma vez que o setor agropecuário é rentável, mas também cheio de riscos econômicos e climáticos. Então, a intenção é evitar qualquer tipo de prejuízo ao diversificar na produção agrícola e também atuar na pecuária”, explica o engenheiro agrônomo que administra a propriedade de sua família há cinco anos.

A propriedade existe desde 1978. Segundo Ricioli, com a nova gestão a partir deste ano, o desafio é conseguir triplicar a produção de laranja da variedade mesa. “Compramos 60 hectares de terra com cultivo da laranja e observamos que a citricultura é um setor rentável”, destaca. “Decidimos investir na citricultura ao perceber que é um mercado que está em pleno crescimento no Estado”.

Segundo o agrônomo e produtor rural, os últimos resultados da safra de laranja alcançados pela propriedade têm sido satisfatórios. “Estou de olho no solo, no maquinário, nos implementos e no combate de pragas e doenças. A recompensa vem ao final da safra e, no último ano, foi positiva, principalmente no cultivo da laranja”, avalia.

O bom momento vivenciado na safra da laranja da Fazenda Santo Antônio é compartilhado por diversos produtores do Estado de Goiás, que apostam na citricultura como atividade econômica, conforme apontam dados divulgados pelo Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), referentes ao ano de 2019. Segundo o Instituto, a citricultura goiana alcança quase 13 mil hectares, representa uma produção de cerca de 226 mil toneladas e quase R$ 200 milhões, em Valor Bruto da Produção (VBP) – o que situa Goiás na sétima colocação no ranking nacional.

Os dados sinalizam que a citricultura no Estado contribui de forma significativa na economia, uma vez que proporciona alta rentabilidade ao produtor, gera renda e emprego e, ainda, consegue abastecer o mercado interno e externo. “Os resultados positivos vêm por meio do esforço de toda cadeia produtiva da citricultura, principalmente dos produtores rurais que investem em um setor em expansão, mas que ainda precisa de incentivo e investimento”, avalia Ricioli.

Para o analista técnico do Ifag, Alexandro Santos, os dados divulgados mostram que o esforço do produtor rural goiano tem trazido bom resultado para o setor. “Se o Estado consegue atingir essa produção é graças ao trabalho do citricultor, que eleva o Brasil como líder no mercado mundial, tornando a citricultura motivo de orgulho, tanto para a economia brasileira, como goiana”, destaca.

Expansão e desafios

Citricultura é o nome dado ao setor que realiza o cultivo de pomares de laranja, tangerina, limão, lima e cidra. São frutas consideradas entre as principais atividades agrícolas do mundo, dado ao elevado consumo em quase todos os países. “Independente da classe social, as frutas são consumidas. Aqui, a citricultura brasileira está ligada com a chegada dos portugueses ao Brasil. Foi Portugal que trouxe em suas embarcações sementes de laranja doce”, situa o técnico do Ifag, Alexandro Santos.

De acordo com o Instituto, o Brasil possui 1,44 milhão de estabelecimentos rurais que produzem variedades de laranja, limão e tangerina. Ao todo, são 14,9 milhões de toneladas a partir de uma área plantada em 2,9 milhões de hectares. A produção bruta, em 2019, foi de R$ 14,8 bilhões, o que representa alta de 15% em comparação ao ano anterior. “Os números demonstram que a citricultura brasileira é líder mundial, capaz de contribuir para o crescimento socioeconômico, balança comercial nacional e ainda gerar empregos”, avalia Alexandro Santos.

Essa liderança mundial é comprovada com o dado de que o País é responsável por 30% de toda a produção mundial da fruta e de 80% das exportações mundiais de suco de laranja, voltadas especialmente para o mercado americano, europeu e canadense. “Ano após ano, o produtor rural tem produzido frutas de excelente qualidade, o que garante destaque do País no mercado interno e externo”, pontua o técnico do Ifag.

O engenheiro agrônomo e representante comercial da empresa Microgeo, Rafael Calixto, avalia que a produção é elevada no Brasil e em Goiás por conta da flexibilidade do mercado de fruticultura e citricultura na etapa de venda do cultivo. “Pequenos, médios e grandes produtores possuem fácil acesso nas etapas da cadeia produtiva. Existe a possibilidade de destinar a produção para o turismo ecológico, pode também escolher vender para as agroindústrias ou acessar o mercado varejista ao receber feiras e supermercados, por exemplo”, resume.

Inclusive, conforme especialistas, um desafio enfrentado pelo setor é em relação à etapa de venda no atacado, em supermercados e frutarias. “O preço do produtor é 40% menor que o valor praticado pelo atacadista. Uma diferença alta, que torna a citricultura injusta, principalmente com o pequeno agricultor”, considera o analista técnico do Ifag.

Representante da Associação Goiana dos Citricultores (Agocitros) e membro da Comissão de Fruticultura da Faeg, Raimundo Maia acredita que a citricultura em Goiás precisa de uma linha de crédito especial para setor. “Este mercado não é para amadores e o produtor está sozinho fazendo investimento do próprio bolso. Não há linha de crédito que consegue suprir a necessidade de cultivo. A citricultura é um investimento com margem de risco elevado, mesmo sendo um produto de grande consumo”, desabafa.

Além disso, produtores reclamam da dificuldade de encontrar mão de obra qualificada. “Na região Sul de Goiás é complicado encontrar mão de obra qualificada nesse setor. Há uma defasagem no mercado de profissionais com conhecimento sobre pragas quarentenárias”, afirma o produtor rural e engenheiro agrônomo, João Ricioli.

Diante desse cenário, com o intuito de melhorar a qualificação técnica profissional no setor, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Goiás) realiza diversos cursos de capacitação que são direcionados para o setor de fruticultura nas cidades de São Miguel do Passa Quatro, Palestina de Goiás, Nova Crixás e Alto Paraíso de Goiás. Todas as atividades técnicas possuem, em média, uma carga horária de 24 horas, com vagas limitadas de número de alunos para garantir a qualidade das aulas. As disciplinas oferecidas na qualificação estão ligadas à atividade prática e, por isso, atendem as necessidades do homem do campo.

Além dos cursos, também é possível participar de eventos como palestras, workshops, minicursos, simpósios, congressos, reuniões e dias de campo que são desenvolvidos pelo Sistema Faeg Senar, e que levam informação e conhecimento de qualidade, junto com o que há de mais moderno no setor agropecuário. Também há possibilidade de visitas técnicas especializadas, feitas diretamente na propriedade do produtor rural pelo quadro de profissionais altamente qualificados e preparados da instituição,para prestar assistência de qualidade para o pequeno, médio e grande produtor rural.

Pesquisa

Enquanto o Sistema Faeg Senar desenvolve atividades mais próximas do homem do campo, Goiás também tem demonstrado aptidão para pesquisa, inovação e desenvolvimento de tecnologias voltadas para o setor agropecuário e agroindústria brasileira. Este cenário tem avançado por conta do elevado número de Instituições de Ensino Superior (IES) e Instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTIs), públicas e privadas, que são responsáveis pelo trabalho constante de formação de novos profissionais e desenvolvimento de novas soluções para o homem do campo, por meio de experimentos, pesquisas e desenvolvimento de inovação e tecnologia.

Exemplo disso são pesquisas, experimentos, estudos, formação acadêmica e técnica que vem sendo colocada em prática pelos polos de pesquisa e universidades. Em Goiânia, a Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFG) desenvolve um estudo destinado ao setor de citricultura, dentro do Núcleo de Pesquisa em Clima e Recursos Hídricos do Cerrado (NUCLIRH) em parceria com instituições chinesas. “Estamos fazendo um experimento com plantas de bambu inseridas entre o pomar de frutíferas cultivadas no Cerrado”, explica o pesquisador e acadêmico de Agronomia, Maurício Cavalcante. O objetivo da pesquisa, conforme ele explica, é avaliar como as citriculturas respondem ao sombreamento feito pela planta do bambu. Também é observada a interação das raízes entre os dois cultivos. “A técnica ainda não é difundida em Goiás e decidimos fazer o estudo para impulsionar sua aplicação na região Centro-Oeste do País”, explica. São acompanhadas todas as etapas do cultivo, incluindo umidade, temperatura do solo e pluviosidade no local onde o experimento está instalado. “Daqui a alguns anos teremos resultados concretos sobre essa técnica que é disseminada na China. Espero que o experimento consiga colaborar com o desenvolvimento da agricultura do Estado”, finaliza.

Fotos:Fredox Carvalho

Comunicação Sistema Faeg/Senar

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