Estamos exterminando a população brasileira já excluída?

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O executivo Marcos Freitas Pereira reflete sobre os resultados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (Crédito da imagem: Freepik/jcomp)

Por Marcos Freitas Pereira

No início de abril de 2021 foi divulgado o relatório: Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede PENSSAN (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). Segurança alimentar é a existência do acesso físico e econômico à alimentação nutritiva, saudável e em quantidade suficiente para atender suas necessidades de uma vida ativa e saudável. A falta dela denomina-se insegurança alimentar. A insegurança alimentar é classificada em três níveis: leve, moderada e grave.

Os resultados que aparecerem no relatório são assustadores, aparentemente pode ser visto como um extermínio dos já excluídos brasileiros. O termo extermínio é forte, porém, ao analisar o relatório é a impressão e a conclusão que se percebem. A evolução da população na faixa da insegurança alimentar vem crescendo desde 2014 com as políticas de austeridade adotada pelo Brasil, acarretando a redução de investimentos relacionados às políticas sociais. Tudo isso agravado mais ainda pela pandemia do Covid-19.

O relatório representa a gravidade do momento: dos 212 milhões de habitantes no Brasil, 117 milhões convivem com algum grau de insegurança alimentar (leve, moderada ou grave), destes, 43 milhões de habitantes não contam com alimentos em quantidade suficiente para atender suas necessidades (moderada e grave).

Os 117 milhões que estão em insegurança alimentar representam 55% da população brasileira. Essa é a média nacional, porém, quando se analisa por região, o Nordeste tem 72% da população em insegurança alimentar; o Norte 64%; o Centro-Oeste, 53%, e o Sudeste/Sul, 47%. Quando se divide a população em urbana e rural, a insegurança alimentar representa 60% na região rural, enquanto registra 54% na região urbana.

Tendo em vista a vasta área agrícola brasileira, não é admissível que 60% da população rural encontra-se em insegurança alimentar, já se passou da hora de uma política agrícola brasileira para os pequenos agricultores.

No gráfico abaixo, através dos dados do IBGE e da pesquisa em referência, demonstra-se a evolução do percentual da população brasileira em estado de insegurança alimentar.

Constata-se no gráfico que a tendência era de queda a partir de 2004, reduzindo 12 pontos percentuais no período 2004 a 2013, porém, com as medidas de austeridade econômica a partir de 2014, mais propriamente a partir de 2015, o problema se agravou muito. Houve um crescimento de 14 pontos percentuais de 2013 a 2018 e se agravou ainda mais com o surgimento da pandemia. Em dois anos, 2018 a 2020, houve crescimento de 18 pontos percentuais. Cada ponto percentual representa 12 milhões de pessoas.

Diante do contexto atual, as expectativas e projeções futuras não são nada animadoras, por isso, precisamos refletir: estamos ou não exterminando a população brasileira mais pobre?

De um lado, praticando políticas econômicas neoliberais – comprovou-se no mundo que não beneficia as camadas mais carentes da sociedade, pois provoca cada vez mais desigualdade social e perda do valor aquisitivo dos salários e, de outro lado, a falta de medidas eficientes de combate ao Covid-19, o que provocará ainda mais esse ano mortes e aumento da pobreza.

Não se pode acreditar que a situação melhorará no Brasil. Os sinais são de piora, a falta de compromisso do presidente Jair Bolsonaro com os excluídos e com o combate a Covid-19 resultará em um país que corre o risco de exterminar a sua população mais pobre, hoje já excluída.

Somente uma mudança de governo, uma mudança de política econômica e uma mudança de política sanitária pode trazer o Brasil de volta aos trilhos.

Que Deus nos proteja.

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Natural de São Paulo, Marcos Freitas Pereira acumula mais de 25 anos de experiência de mercado. Doze destes anos foram como administrador em cargos de comando na Pousada do Rio Quente Resorts.

Exerceu as funções de Gerente de Orçamento e Finanças, Controller, Diretor Estatutário Administrativo Financeiro e Diretor de Relações com o Mercado. Além disso, dois anos como Diretor Superintendente, principal executivo da empresa. Atualmente atua como Sócio da WAM Brasil.

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