Por Sandro Souza
Começo minha análise com a seguinte questão “ser ou não ser, eis a questão”. Essa frase vem da peça A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, de William Shakespeare. Embora seja de 1623, e não tenha nada a ver com o tema que tratarei aqui, traz um dilema de nossos dias, onde cada minuto surge uma nova profissão e, com passar dos tempos, outras tantas desaparecem e a dúvida fica cada vez mais latente: ser somente um especialista bastará? Pois o mundo passa muito acelerado e tudo muda o tempo todo e bem rápido. O Lulu Santos, lá nos anos 1980, já capturava essa realidade que o futuro nos reservava, na música “Como uma onda”, ele cantava:
“Nada do que foi será
De novo do que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará”
Embora essa análise seja minha e não do Lulu, vejo como se ele estivesse nos passando uma mensagem que reflete a necessidade de nos adaptarmos aos novos tempos, ou “tempo modernos”, e nos desapegarmos do “estigma” de especialistas. O escritor Eric Hoffer dizia que, em tempos de mudanças, os aprendizes herdarão o futuro, enquanto, os PERITOS/SABE TUDO “especialistas” estarão perfeitamente equipados para um mundo que já não existe.
Vou voltar um pouco para analisar um ponto: o que se ensina nas universidades! E o mergulhar somente em sua área de futura atuação, com isso não se desenvolve uma capacidade cognitiva, ou a “inteligência crítica”, para que os alunos percebam a complexidade do mundo moderno em constante mudanças, e os conhecimentos recebidos ficam restritos à sua área de formação, não havendo as interações com outras áreas conhecimento como artes, filosofia, história etc. Que dê certa forma ampliaria a visão e percepção das mudanças constante e contínua do modo do mundo em que vivemos. Esse aprender de forma restrita e profundamente especializado, é o mesmo que creditar que há uma chave mestra que abriram todas as portas no futuro, ou uma ferramenta que resolverá todos os problemas, “nenhuma ferramenta é onicompetente”. Segundo o historiador Arnold Toynbee, em vez das pessoas utilizarem apenas uma ferramenta, a “especialização”, essas pessoas conseguiriam acumular e proteger um armário intenso de equipamentos, e elas terão um poder da amplitude em um mundo de hiper especialistas.
Segundo David Epstein autor do livro Porque os generalistas vencem em um mundo de especialistas. A crescente especialização criou um “sistema de trincheiras paralelas” na busca pela inovação, todo mundo está cavando mais fundo em sua própria trincheira e raramente se levanta para olhar a trincheira ao lado, mesmo que a solução para o problema esteja lá. E esse fato é preocupante, pois segundo alguns futurologistas há muitas profissões que hoje não existem, existiram no futuro e muitas de hoje que são consideradas importantes não existirão mais no mesmo futuro, e isso nos provoca a pensar, que saber demais de uma única área do conhecimento poderá nos levar para um futuro que não existirá para nossa especialização. O historiador Israelense Yuval Noah Harari, autor de Sapiens – Uma breve história da Humanidade, escreve que até 2050, existirá no mundo em torno de 50 milhões de inúteis, e que boa parte das especialidades serão substituídas pela inteligência artificial. O que você pensa sobre isso?
Lembro-me sempre de um trecho da música índios da Legião Urbana que lá nos anos 80, que cantava:” E o futuro não é mais como era antigamente”, de fato não há dúvidas sobre esse futuro que virá, será totalmente diferente do presente, e aí que entra minhas convicções sobre aprender sempre e mais. No livro de David Epstein, ele traz uma analogia do físico e matemático Freeman Dyson sobre o pássaro e sapo, onde o pássaro consegue ter uma visão mais ampliada, onde ele consegue ver a lagoa de cima, ver o que está em volta, ver o tamanho da lagoa, e assim por diante. Porém, o sapo que reside na lagoa e limitado a ver aquilo que ele é especializado, que aquilo que está ao seu alcance, ou seja, o sapo é hiperespecializado sobre o que está a sua volta. Em meus estudos sobre o assunto identifiquei outros meios de identificar os especialista e generalista, ou seja especialistas pessoas em “I” e generalistas pessoas em “T”, ou seja pessoas em “I”, possuem profundidade em suas especializações e pessoas em “T”, além ser especializados em algo, ainda possuem “largura”, conhecimentos de outras áreas, que de certa forma amplia sua visão e passa a ter uma grande chance de ser um solucionador de problemas complexos, usando assim sua amplitude de conhecimentos, e atualmente cada vez mais empresas pagam salários maiores os profissionais que resolvem problemas inesperados e que saibam trabalhar em grupos interdisciplinar.
Ser um generalista sabe tudo, de certa forma, abre uma grande possibilidade de criar as conexões com os conhecimentos diversos, onde nos casos dos generalistas, afasta as certezas que somente os especialistas normalmente empregam na área de sua especialização, e essa certeza em alguns casos impedem de utilizar soluções inovadoras à problemas antigos, trocando em miúdos, os generalistas são como uma “Air fryer”, podem fazer vários tipos de alimentos em um mesmo recipiente.
Ser um especialista é um problema para os dias atuais? Não é bem isso que estou levando como reflexão, na prática o que estou propondo a partir dos conhecimentos estudados, é que cada dia que passa, teremos que ter nos conhecimentos ampliados e é fundamental nos afastarmos de ser só especialista. Vamos ver um exemplo: Um Gestor de crédito que possui uma visão mais localizada da operação de crédito que é o só aprovar ou negar as propostas créditos, sem saber dos impactos nas vendas, no fluxo de caixa da empresa, nas receitas geradas, na inadimplência que poderá ocorrer oriunda dos créditos aprovados, do nível serviço que afeta a satisfação do cliente. Enfim olhando apenas essa atividade já temos a dimensão da entender o quanto é importante ter uma visão sistêmica, e essas características são muito peculiares de generalistas, que não se limitam há um único conhecimento.
Portanto, minhas convicções sobre a importância dos Generalistas nos negócios são bem sólidas e indubitavelmente, considero um dos maiores generalistas de todos os tempos Leonardo da Vinci ou simplesmente da Vinci, Italiano de nascimento, uma das figuras do Renascimento, que se destacou como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. Considerado polímata, Leonardo tinha uma capacidade gigantesca de atuar em várias áreas de conhecimento de forma surpreendente e possivelmente incomparável até os dias atuais.
Que conclusão chegamos? O mundo está mudando? Ser um especialista no futuro, talvez não seja mais o suficiente? Os Generalistas são a solução para o presente e para o futuro? Não saberemos até chegar no futuro, um ponto é o fato de que o conhecimento diversificado é uma vantagem competitiva em nosso concorrido mercado de trabalho e no mundo dos negócios.
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Sandro Souza
Administrador, MBA Projetos – FGV. Especialista em Gestão Financeira e Planejamento Orçamentário em operações de Crédito e Cobrança, Cursos de extensão em Inovação Estratégica – INSPER, Negociações de Sucesso – Estratégias e Habilidades Essenciais – University of Michigan, Gestão Para Resultados – Falconi Consultores, Metodologia Ágil e Framework Scrum – IPOG.