Escolas preparam a maior alta de mensalidade desde início da Covid-19

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Sala de aula após a retomada: esforço para recuperar o atraso (Alex Silva/Estadão Conteúdo/AE)

Após um longo período de colégios fechados, com o valor das mensalidades sem alteração ou com reajustes modestos, o próximo ano deve começar com uma herança pesada da inflação de 2021 para o orçamento das famílias com filhos na escola.

Mais da metade (53%) das escolas de ensino fundamental e médio planejam aumentar as mensalidades e as matrículas do ano que vem entre 7% e 10%, aponta pesquisa com 65 estabelecimentos em cinco Estados da consultoria Meira Fernandes, especializada em educação.

“Acredito que o reajuste vai ficar um pouquinho maior até porque a inflação deste ano está em dois dígitos”, diz o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), Benjamin Ribeiro da Silva. Ele espera alta entre 10% e 13%.

O reajuste da mensalidade escolar é um dos principais canais de transmissão da inflação de um ano para o ano seguinte. “É a inércia inflacionária, a inflação de 2021 se materializando na inflação de 2022”, afirma o economista André Braz, coordenador de índices de preços da Fundação Getúlio Vargas.

Esse movimento, segundo ele, torna mais difícil o trabalho do Banco Central (BC) de trazer a inflação para mais próximo da meta de 3,5% de 2022, porque aumenta a persistência da alta de preços.

Com a inflação esperada para 2021 em 10,15%, segundo o Boletim Focus do BC, a expectativa de escolas e outros prestadores de serviços é incorporar aumentos de despesas de 2021 nos preços de 2022.

Rogério Caramante, gestor comercial da consultoria, argumenta que em 2020 e 2021 as escolas fizeram investimentos em tecnologia por causa do ensino a distância.

“Muitas usam a plataforma do Google, com preços em dólar”, exemplifica.

Também houve gastos com Equipamentos de Proteção Individual e infraestrutura para trazer os alunos e professores presencialmente para as salas de aula de forma segura, sem contar com os reajustes salariais, na faixa de 6% para auxiliares e de 11% para professores, argumenta Caramante.

Além disso, as escolas terão de ampliar os quadros de pessoal para cumprir a nova grade curricular do ensino médio prevista para 2022, que aumentou o número de disciplinas e a carga horária. Nas contas do consultor, os aumentos de custos das escolas hoje, no geral, variam entre 15% e 20%.

Silva diz que 60% da mensalidade correspondem a gastos com pessoal. Ele diz que a conta luz aumentou 70% este ano, fora os aluguéis, que tiveram reajustes na faixa de 30%. Mas, segundo a prévia oficial da inflação, o IPCA-15, as variações foram mais modestas. No ano até novembro, o aluguel subiu 6,11%, e a energia elétrica, 26,13%. Em 12 meses a alta foi de 31,28% na conta de luz.

“A escola é intensiva no uso de energia, só que uma parte desse aumento não é permanente”, alerta Braz. O reajuste da tarifa ocorreu por causa da escassez de chuvas que levou à cobrança de uma bandeira mais cara. A perspectiva é de que essa bandeira de escassez hídrica acabe a partir de maio. “Uma parte desse aumento é transitório”, diz o economista.

Flexibilidade

Negociar é a saída para compatibilizar a queda no poder de compra das famílias com a pressão de custos das escolas. Com a pandemia, a evasão chegou a 15%. Com temor de perder alunos, as escolas estariam mais flexíveis. A pesquisa mostra que quase 25% das escolas pretendem reajustar as mensalidades em até 7%, índice inferior à inflação projetada para o ano.

Apesar da menor concorrência nos ensinos médio e fundamental, comparados ao superior, Braz acredita também que a negociação entre pais de alunos e escolas nesse segmento seja a solução. Ele adverte que a alta no gasto com educação vira permanente, a partir do momento que o contrato com a escola é assinado. “Não é um serviço com preço flutuando ao longo do ano.”

Com informações Estadão Conteúdo

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