Mesmo vivendo em um emaranhado de normas técnicas, regulamentações complexas, cenário assombrado por inseguranças jurídicas, conselhos profissionais atuantes, sindicados impondo suas políticas “pró-trabalhadores” e, principalmente, por uma das cargas tributárias mais altas do mundo, o Brasil postula entre as nações com o maior número de empreendedores no cenário mundial.
O que faz o empreendedor brasileiro ser visto como um “ponto” fora da curva em um cenário macroeconômico tão complexo, dispendioso e competitivo?
A resposta poderia ser resumida com um simples “clichê” como “O brasileiro nunca desiste! ”.
Acontece que o empreendedorismo pode ser percebido como um fruto de duas demandas que estão interligadas de forma direta, por mim aqui definidas como “econômicas” e “sociais”, em razão das políticas públicas serem em “tese” as responsáveis em gerarem ambientes propícios para geração de “trabalho e renda”, e obviamente para boas expectativas de resultados, que favoreçam um cenário ideal para o investimento do setor privado.
Dentro da nossa atual realidade e sem muitas delongas, sabemos que o trabalhador brasileiro custa ao empregador uma cifra que beira o absurdo e, consequentemente, uma remuneração média ao trabalhador, insuficiente de garantir minimamente as condições básicas das famílias. Conclusão: Criam-se duas pontas no aspecto socioeconômico, e claro, cada uma puxando para seu lado.
Em uma leitura lógica e dentro da normalidade, o empreendedor brasileiro tende a ser fomentado pelo fato de muitos dos indivíduos não concordarem com esta posição de “duas pontas” e, de forma espontânea, despertarem um desejo de garantir condições básicas ou de crescimento profissional de forma autônoma. Ou seja, estamos falando do profissional que possui uma capacidade técnica já consolidada e abre mão da posição de “empregado” para montar seu próprio negócio.
Por outro lado, de uma forma geral, sabemos que a falta de postos formais de trabalho sempre influenciou o indivíduo a empreender, às vezes de forma informal e desorganizada, afinal, no popular “as contas vencem e as barrigas roncam” e cabe a todo provedor de família dar “seus pulos”.
De quem estamos falando? Estamos falando dos milhões de autônomos da informalidade que finalmente foram percebidos pelas autoridades quando decretado o período de pandemia e foram proibidos de exercer suas atividades. De acordo com os números do IBGE, foram mais de 9,5 milhões de cidadãos que estiveram aptos a receber o auxílio emergencial. O tamanho deste gargalo na nossa sociedade e sobretudo, na economia brasileira, só teremos condições de mensurar com exatidão, quando este período passar e aí somarmos os pequenos empreendedores formais que não conseguiram reestabelecer seus sonhos (pequenos negócios). Estamos falando dos “autônomos e empreendedores”, porque os “indivíduos” que necessitaram de auxílio passaram de 65 milhões.
Com a apresentação de um simples dado, dá-se para imaginar o tamanho do buraco que sempre esteve nesta “autovia” chamada Brasil, afinal, como ignorar os vendedores dos produtos diversos que aglomeram nos semáforos? Como ignorar os catadores dos recicláveis? Como ignorar o Sr. “Fulano” (Pedreiro)? Como ignorar Sr. “Ciclano” (Eletricista)? Como ignorar os comércios de rua que lotam desorganizadamente os espaços públicos diariamente em todo e qualquer lugar neste país?
Nunca deixo de lembrar a frase: “Fiquem em casa, a economia a gente vê depois”… e como teria que ser, estes “empreendedores” ficaram em casa e de sobra mostraram para todos os “cantos do mundo” o que há décadas os governantes acreditavam estar “assistindo” e que, só agora conseguiram mensurar.
O auxílio promovido pelo governo não foi e não será suficiente para garantir as mínimas condições de bem-estar social a estes guerreiros do dia a dia. Porém, mais do que os programas de empreendedorismo e os mais variados cursos disponibilizados pelo sistema “S”, bem como as inúmeras linhas de créditos com juros mais baixos, e que, cujo o acesso é extremamente burocrático e limitado, estes empreendedores merecem um Brasil unido pelo bem comum e favorável para bons negócios.
O Estado não gera riqueza. Quem gera riqueza e paga impostos é o POVO.