Em Goiás, produtores fazem fila de espera por máquinas agrícolas

No momento, você está visualizando Em Goiás, produtores fazem fila de espera por máquinas agrícolas
(Foto: Divulgação)

O produtor rural que quiser comprar uma máquina ou um implemento agrícola terá que entrar numa fila de espera pelo equipamento, que pode durar meses, e pagar mais caro. A demanda por maquinários mais modernos foi puxada pelo aumento dos preços agrícolas, mas chegou num momento de falta de vários componentes usados na fabricação. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) registrou um crescimento de 40% nas vendas no ano passado. O crescimento nominal do faturamento do setor foi de 81%.

O produtor rural Bruno Silvano Correa, que produz soja, milho e leite em Bela Vista de Goiás, conta que comprou duas máquinas agrícolas, uma colheitadeira em 2020 e um trator no ano passado, e precisou esperar seis meses para receber os dois equipamentos.

“Todas as revendas pedem um prazo grande, por isso não é possível fazer nenhum planejamento”, conta. Segundo ele, hoje, até quem compra um simples pneu de trator tem que esperar meses.

Bruno Silvano informa que conseguiu manter o mesmo preço das máquinas do dia do pedido. Pouco depois, os valores já haviam subido entre 30% e 35%, resultando numa valorização de cerca de R$ 500 mil. “Maquinário virou investimento. Quem comprar uma máquina hoje, já terá que pagar o preço do dia da entrega”, diz o produtor. A informação foi confirmada pela reportagem com vendedores do ramo. O resultado, segundo Bruno, é que já tem muita gente vendendo máquinas seminovas para lucrar em cima.

O diretor da Planalto Tratores, Marco Elísio Nunes Cunha, conta que já tem máquinas vendidas para entrega em julho. Segundo ele, as vendas de máquinas cresceram 47% em 2021. Considerando as vendas de todos os produtos, incluindo peças, o crescimento geral foi de 72%. Para ele, este desempenho é resultado do maior faturamento no campo, com a valorização das commodities e aumento das exportações.

“Mais capitalizado, o produtor passou a investir mais em mecanização e tecnologia para aumentar sua produtividade”, destaca.

O presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq, que reúne os levantamentos de 500 empresas do ramo, Pedro Estevão, lembra que o crescimento das vendas foi de 17% em 2020 e de 40% em 2021. Considerando a inflação, o incremento nominal do faturamento chegou a 81%. “Tivemos uma ampliação da carteira e um recorde histórico de vendas. Mesmo assim, entregamos muito mais do que imaginávamos”, garante.

Para conseguir atender a demanda, o número de trabalhadores nas fábricas de máquinas e implementos subiu de 45 mil para 60 mil e foram criados mais turnos de trabalho. Mas Pedro Estevão lembra que este aumento da demanda chegou num momento de falta de componentes, como aço, pneus e semicondutores ao longo do ano, o que elevou o prazo de entrega.

Segundo o presidente da Abimaq, levantamentos feitos junto aos fabricantes mostraram que o tempo médio de entrega chegou a 80 dias em 2021, contra uma média habitual de 50 dias. Os maiores atrasos são registrados para máquina que utilizam semicondutores. “Mas o pior período já passou e a média já caiu para 68 dias”, destaca. Para Marco Elísio, da Planalto, o crescimento das vendas teria sido maior se as fábricas não tivessem tido problemas com sua cadeia de suprimento de peças.

Na Rimaq Máquinas e Implementos Agrícolas, a procura cresceu 28% em 2021. O gerente comercial da empresa, Elton Murta, conta que as fábricas não enfrentam só a falta de componentes eletrônicos, mas também de peças feitas de borracha e rolamentos, ainda reflexo da pandemia. A empresa comercializa mais implementos para plantio e pulverização e o atraso para entrega dos pedidos tem sido de 90 dias. “O resultado foi uma elevação dos preços de alguns itens em mais de 200% de 2020 para 2021”, destaca.

A procura continua e as vendas poderiam estar ainda melhores se houvesse produto para entrega. Elton informa que alguns itens já não estão mais disponíveis para entrega em 2022. “Alguns fabricantes já estão com as vendas suspensas para entrega até fevereiro de 2023. Por isso, os agricultores devem se programar com antecedência”, alerta.

Produtores chegam a oferecer valor maior

Vendedores de máquinas agrícolas confirmaram para a reportagem que alguns produtores rurais chegam a oferecer valores maiores que os cobrados para passarem seus pedidos na frente das filas de espera. Isso teria ajudado a inflacionar ainda mais os preços dos equipamentos. A informação também foi confirmada por lojistas do ramo e pelo coordenador institucional do Instituto para Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado.

Segundo ele, há muitos relatos de produtores sobre esta dificuldade para comprar as máquinas e equipamentos, pois a tendência é de agregação de mais tecnologia à produção. Para Leonardo, a primeira razão para o problema foi a existência de uma demanda represada no ano 2020, quando as fábricas ficaram paradas, que acabou sendo empurrada para 2022. “Mas isso aconteceu num momento de falta de muitos componentes, como o aço”, ressalta.

Para piorar, a alta cotação do dólar também acabou estimulando as exportações de máquinas e ajudando a reduzir a oferta no mercado. Ao mesmo tempo, o produtor rural também melhorou sua rentabilidade e ficou mais motivado a realizar investimentos para agregar mais tecnologia na propriedade.

A safra goiana de grãos chegou a quase R$ 14 milhões de toneladas em 2021. Além disso, houve uma significativa alta nos preços dos produtos agrícolas. Um bom exemplo é o da saca de soja, cujo preço médio subiu de R$ 111 em 2020 para R$ 158,20 no ano passado. O preço médio da saca de milho também subiu de R$ 47,77 para R$ 77,13. As exportações também continuaram crescendo com a cotação do dólar em alta.

Preços

“Os produtores também reclamam que os preços das máquinas subiram bastante no ano passado”, completa o coordenador do Ifag. Mas o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq, Pedro Estevão, afirma que os preços subiram apenas por causa do repasse da alta de custos, que foi de 25% em média. “Aumentamos até menos que isso, entre 23% e 24%”, destaca.

Ele garante que os reajustes de preços não foram provocados pelo aumento da demanda, mas apenas pela falta de materiais no mercado, principalmente o aço, que subiu mais de 100% entre 2020 e 2021. Para Pedro Estevão, um dos principais fatores de estímulo à demanda por máquinas e equipamentos foi a melhor rentabilidade do produtor, principalmente com as culturas de exportação, como soja, milho, café, algodão e carnes.

A expectativa da Abimaq é que a demanda por máquinas e equipamentos agrícolas cresça apenas 5% este ano. “Este ano, os prazos de entrega devem ser regularizados, mas alguns modelos mais específicos ainda podem ter mais problemas que outros”, prevê.

Com informações do jornal O Popular

Deixe um comentário