Nas últimas semanas, a privatização da Eletrobras entrou na pauta econômica (e política) e não saiu. De prioridade deste governo e do anterior (período da gestão Michel Temer), foi passando para segundo plano, não evoluiu, e já na metade do atual mandato, a saída do presidente da estatal, em meados de fevereiro, jogou um revés, balde de água fria no setor e nos investidores.
A verdade dos fatos é que a privatização da Eletrobras foi anunciada em 2017, com projeto encaminhado ao Congresso no ano seguinte. Este projeto sequer avançou nas comissões da Câmara. A última estimativa do governo previa arrecadação de R$ 18 bilhões com a privatização. Diante da incerteza política, o valor não foi incluído no Orçamento de 2021. Por outro lado, o governo prevê gastar R$ 4 bilhões para criar a nova empresa que ficará responsável pela hidrelétrica de Itaipu e as usinas nucleares de Angra, após a privatização da estatal.
Corre o risco de criar uma nova estatal, gastar R$ 4 bilhões, sem mesmo concretizar a privatização da Eletrobras. A notícia desta semana, me corrijam se eu estiver errado, não é “Centrão já disputa Presidência da Eletrobras”. Ou seja, se esse guerra partidária – mesmo que as Diretorias e Presidência sejam indicações técnicas, com esse apadrinhamento, privatizar, pode ser jogado para depois de 2022.
O Ministério da Economia mantém firme sua posição em prol da privatização. É o que alenta a expectativa do setor, que espera por mais investimentos e uma expansão via iniciativa privada.
A privatização da Eletrobras é um dos calcanhares de Aquiles da energia no Brasil e não deveria ser uma escolha política ou ideológica. Está sendo há muitos anos. Especialistas apontam que a estatal trava o setor, pois investe cinco vezes menos que uma empresa privada poderia estar investindo por não ter capacidade sem se expor a riscos de liquidez ou insolvência.
Com menos investimentos, menos energia disponível. A conta, no fim, fica para o consumidor, pois menor oferta, maior preço. Poderíamos estar com maior equilíbrio no setor energético brasileiro se a condução não tivesse sido política na última década – só lembrar o subsídio tarifário da gestão Dilma, entre outros momentos lamentáveis.
Pensar diferente este setor já não é uma necessidade ou desafio, mas uma emergência econômica de alta prioridade. Ou a conta ficará mais cara para todos.