Por Cezar Mortari
Meus caros, neste 11 de fevereiro de 2023 a cultura brasileira amanheceu mais triste: um dos símbolos de nossa identidade fecha as portas e nos deixa menores. A Livraria Cultura encerra o seu reinado sufocada pelas dívidas e os jornais ilustram as suas prateleiras sendo soturnamente esvaziadas. Um baque para todos os amantes do livro. A Livraria Cultura do Conjunto Nacional na Avenida Paulista, número 2073, em São Paulo, agora será um caixote gigante e escuro guardando as lembranças de um período de esplendor de nossa literatura. Quem conheceu aquele lugar sabe que tínhamos uma livraria para rivalizar com as melhores do mundo. Ocupando o antigo Cine Astor, no primeiro arranha-céu de São Paulo, belíssimo exemplar do modernismo do arquiteto David Libesking, em 1955.
A família Hertz, judeus fugidos da Alemanha nazista, transformou o gosto pelos livros no maior negócio do setor no nosso país. Sucumbiu, porém, ao admirável mundo novo onde uma única empresa, a Amazon, detém 65% do mercado de livros no mundo. Essa concentração frenética e absurda na mão de uma única empresa está destruindo milhares de pequenos livreiros aqui, em Barcelona, em Mumbai.
Uma guerra silenciosa, com a concordância tácita de todos. Até as mais belas, famosas e estruturadas estão sob risco, então, vá logo visitar a El Ateneu em Buenos Aires, a Boekhandel Dominicanen em Maastrich, a Lello no Porto ou a City Lights Books em São Francisco antes que cerrem definitivamente suas portas. A Cultura foi fechada mesmo sendo um negócio que chegou a ter 13 lojas e 1500 funcionários: uma tragédia para os empreendedores, uma fatalidade para os entusiastas de folear livros.
Ignácio de Loyola Brandão diz que poucos podem imaginar o que representa a perda da Livraria Cultura para todos nós, lancei 12 livros ali. Razão não lhe falta. José Saramago, visitando a Livraria Cultura no Conjunto Nacional ficou emocionado e afirmou tratar-se de uma Catedral de Livros. Como duvidar do gênio?
Verdade é que enquanto enriquecemos mais ainda Jeff Bezos, um pouco de nossa cultura e do nosso jeito de viver morre junto com a destruição das livrarias.
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Cezar Mortari é presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado de Goiás (Sinduscon-GO)