O setor cooperativista em Goiás pode ser considerado um exemplo de sucesso no avanço da participação das mulheres em cargos de gestão. Em apenas um ano, de fevereiro de 2022 ao mesmo mês de 2023, o número de mulheres na presidência de cooperativas registradas no Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras no Estado de Goiás (OCB/GO), cargo de maior nível gerencial, aumentou de 25 para 33. O crescimento é de 32%.
O número de mulheres com atuação nos conselhos fiscais subiu de 244 para 306, acréscimo de 25,4% no mesmo período; nos conselhos de Administração, a participação das mulheres saltou de 217 para 256, aumento de 18%. No entanto, o número de mulheres em cargos de presidência ainda representa apenas 13,98% do total de dirigentes das 269 cooperativas registradas na OCB/GO. Nos conselhos Fiscal e de Administração das empresas do setor em Goiás, elas representam 24% e 18%, respectivamente.
Para o presidente do Sistema OCB/GO, Luís Alberto Pereira, os avanços recentes no sentido de promover a equidade de gênero e atenuar a discrepância entre os números de homens e mulheres em cargos de direção nas cooperativas são importantes, mas frisa que é preciso avançar mais. “O Sistema OCB/GO tem estimulado essa participação por meio do comitê de mulheres, mas é necessária uma conscientização maior dos dirigentes para que abram mais espaço para as mulheres mostrarem o seu valor e, assim, contribuam ainda mais com nosso movimento”, enfatiza.
Segundo Francynelly Pessoni, assessora Executiva e de Governança da Central Sicredi Brasil Central e coordenadora do Comitê Elas Pelo Coop OCB/GO, o projeto de representação feminina no cooperativismo foi idealizado em 2020 e implementado em 2021. No ano passado, o comitê desenvolveu ações que impactaram quase mil mulheres do cooperativismo em Goiás. “Nos últimos anos, houve um aumento no reconhecimento da importância da igualdade de gênero no setor. Muitas cooperativas agora estão se esforçando para garantir que haja igualdade de oportunidades e tratamento justo para todas as pessoas, independentemente do gênero. Isso inclui a implementação de políticas e práticas que promovam a inclusão, diversidade e igualdade salarial”, explica.
Além disso, destaca Francynelly Pessoni, muitas cooperativas agora têm políticas e programas específicos para ajudar a capacitar mulheres e garantir que elas tenham uma voz ativa nas decisões. Isso inclui o estabelecimento de comitês de mulheres nas cooperativas e a realização de treinamentos e programas de liderança, realizados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de Goiás (SESCOOP/GO), que é o braço educacional do Sistema OCB/GO. “Embora ainda haja muito a ser feito para garantir a igualdade de gênero no cooperativismo, esses são exemplos de avanços importantes”, frisa.
De cooperada a presidente
Presidente da Central Uniforte e diretora administrativa e financeira da Cooperativa de Trabalho de Catadores de Materiais Recicláveis Dom Fernando (Cooprec), Nair Rodrigues Vieira acredita que o crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho, inclusive na atividade de reciclagem, está relacionado à necessidade de uma atuação profissional mais plural. “Tem que ter pessoas (no ambiente de trabalho) com uma visão social, que saibam administrar, mas sem esquecer do lado humano, da paciência e da compreensão. É preciso saber ouvir o outro e isso está muito contido na mulher”, observa.
A Central Uniforte congrega seis cooperativas de reciclagem de resíduos e quatro delas contam com mulheres na presidência; as diretorias, em sua maioria, também são ocupadas por mulheres.
Em 1998, quando começou na atividade de reciclagem, Nair não se achava capaz de ocupar um cargo de direção, pensava que era um trabalho mais adequado para os homens. “Mas comecei a perceber que o trabalho social não estava sendo desenvolvido como poderia e resolvi me candidatar à diretoria comercial. Logo fui eleita diretora financeira e, em seguida, assumi a presidência da cooperativa”, lembra.
Nair diz acreditar em um futuro em que as mulheres se tornem cada vez mais empoderadas. “A mulher precisa acreditar em seu potencial, sem competir com o homem e, sim, trabalhar lado a lado. Com exceção da força física, somos iguais, temos as mesmas capacidades e podemos fazer um mundo melhor, sem nunca esquecer que o outro também é importante”, ensina.