Creme Mel fecha fábrica em Goiás

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Por Leandro Resende

A Creme Mel é daquelas empresas com uma história que marcou o imaginário de uma geração e se tornou orgulho da região: o ex-motorista de ônibus, que pediu demissão e montou uma pequena fábrica de picolés (na garagem da sua residência) e, que anos depois, se tornaria a maior indústria nacional de picolés e sorvetes, com geração de mais de mil empregos e vendas em todo território nacional. Aos goianos, motivo de orgulho por levar a bandeira do Estado tão longe e o endereço famoso, na rodovia dos romeiros, que guardava um apego tão forte com a comunidade (onde se formava longas filas de romeiros durante o período da festa de Trindade, na qual a fábrica distribuía sorvete gratuitamente).

O imóvel vai estar lá, mas a fábrica da Creme Mel, não. Nos estabelecimentos comerciais das cidades goianas, também terá picolé e sorvete Creme Mel, mas o endereço na embalagem vai ser de uma fábrica lá no Pernambuco.

A Creme Mel deixa de fabricar em Goiás.

A empresa, que foi fundada em 1987 pelo empresário Antônio Santos (seu Toninho), e que já chegou a gerar, em Goiás, 1.100 empregos diretos, transferiu sua produção para Pernambuco.

Distribuição de sorvete Creme Mel durante a Romaria do Divino Pai Eterno, em Trindade (Divulgação)

A direção da Creme Mel não comenta a transferência, mas consultores que conhecem bem a operação revelaram que a mudança se deu porque a empresa buscava condições mais competitivas de manter a liderança nacional do segmento e que os programas de incentivos fiscais pernambucanos superavam os de Goiás, que nos últimos cinco anos, tiveram vários ‘pedágios’, como aumento de alíquota do Protege, entre outros. Outro motivo apontado é que manter apenas uma operação fabril seria suficiente, com algum investimento, para a demanda nacional.

O incentivo fiscal goiano é tão inferior que compensa mais produzir em Pernambuco, para depois vender para Goiás ou outros Estados, e mesmo assim o preço final do produto fica mais vantajoso do que produzir por aqui. Como fábricas buscam mais competitividade de mercado, que exige menores custos, a Creme Mel decidiu tomar a decisão que dezenas indústrias menos conhecidas tomaram no Estado, que é transferir parte da produção da operação goiana para filiais fora do Estado. No começo, a Creme Mel transferiu a produção de sorvetes e agora, toda fábrica.

É a mesma regra das “vantagens competitivas” que Goiás usou, por mais de trinta anos, para atrair empresas e agora mal consegue segurá-las. É um processo de desindustrialização, com viés fortalecido nos últimos seis anos por dezenas de ações de redução da força dos programas Produzir/Fomentar e endurecimento do discurso fiscalista. Industrializar em Goiás usando incentivos fiscais, aponta um industrial que pediu para não se identificar, parece que estamos fazendo algo errado, que logo alguém vai te punir, que somos inimigos da economia. “Goiás está no risco de perder milhares de empregos e centenas de empresas se continuar neste rumo”, disse o empresário, que já mandou parte de sua produção, no interior do Estado, para São Paulo, onde tem filial.

Histórico

A Creme Mel comprou, em 2015, a pernambucana Zeca’s Sorvetes – que era a quinta maior do País no setor. De início, já anunciou investimentos da ordem de R$ 20 milhões. Com custo de produção menor em Pernambuco que em Goiás (que crescia a cada mexida nos programas de incentivos), a produção foi também migrando – assim como os empregos locais, extintos.

De 1.100 empregos em Goiás, foi caindo, até chegar a cerca de 300. Nesta semana, a empresa comunicou a vários fornecedores de insumos para a fábrica de que daria fim aos contratos porque a unidade de Goiás iria encerrar a produção. Entre manter duas fábricas, a Creme Mel optou por manter aberta uma que fosse mais competitiva. Nesta conta, Goiás perdeu.

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