O cooperativismo é um modelo de negócios fundamental para enfrentar as dificuldades que o cenário de pandemia impõe ao mundo, mas existem alguns desafios que precisam ser superados, como acelerar iniciativas inovadoras, atrair uma base maior de jovens empreendedores e retirar obstruções legais que travam uma maior expansão do modelo cooperativista, como a captação de recursos no mercado internacional. Esta avaliação foi feita durante a live “O Cooperativismo durante e pós-crise”, transmitida no YouTube nesta segunda-feira (27), dentro da programação do Goiás Coop Live. O debate contou com a participação do presidente nacional do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas, da jornalista Lúcia Monteiro, especializada na cobertura econômica, do acadêmico, consultor, conferencista e escritor José Luiz Tejon; e teve como mediador o presidente do Sistema OCB/SESCOOP-GO, Luís Alberto Pereira.
“Em momentos de graves crises, o cooperativismo costuma sempre se fortalecer. Tem sido assim desde a primeira revolução industrial (a partir de 1760). Foi assim após a 2ª Guerra Mundial. O grande capital das cooperativas é gente e o grande produto é a confiança. E com confiança fica mais fácil superar as crises”, afirmou o presidente do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas. “Vejo que temos condições de dar algumas respostas que a humanidade não conseguiu com o mercado. Podemos oferecer resultado econômico com justiça social, aliados a uma maior intensidade de participação dos públicos nos processos. Não estou querendo falar como salvador da pátria, isto não existe, mas o fato é que o cooperativismo é um modelo que pode mitigar algumas das perdas que estamos vivendo atualmente”, completou.
Para o consultor José Luiz Tejon, já havia uma percepção desde a última virada do século de que o cooperativismo tendia a ganhar mais protagonismo na economia mundial, mas o cenário atual pode precipitar este processo. “O livro Re-Imagining Capitalism (“Reimaginando o Capitalismo”, numa tradução livre), que é assinado por vários estudiosos, ao falar sobre o futuro das grandes corporações diz que o modelo cooperativista será vital para o século XXI e ganhará cada dia mais relevância. A Covid-19 acelera esse processo, pois vivemos num momento do qual não há superação sem cooperar”, defendeu Tejon, que fez questão de frisar que o crescimento do modelo cooperativista não pressupõe o enfraquecimento dos demais modelos de negócios. “Pelo contrário, as cooperativas tendem a se integrar a outras companhias dentro das cadeias produtivas”.
A jornalista Lúcia Monteiro colocou que a crise do Covid-19 tem exigido das empresas não só inovação, mas às vezes uma transformação quase completa do modelo de negócios, e perguntou sobre os impactos destas adaptações no cooperativismo. Os participantes afirmaram que esta também tem sido uma realidade do setor, para se adaptar à nova realidade, e que o cenário desafiador é também uma oportunidade para se investir em inovação e atrair mais jovens para o cooperativismo. “O jovem quer propósito. E quem pode oferecer mais propósito do que o cooperativismo? Acho que o momento é propício para buscarmos essa juventude”, colocou o presidente do Sistema OCB/SESCOOP-GO, Luís Alberto Pereira, que defendeu também que as cooperativas levantem melhor seus quadros de associados para que o sistema conheça com maior profundidade o perfil dos cooperados. “Temos hoje uma grande oportunidade de atrair jovens para esta filosofia da cooperação. O mundo digital é um instrumento muito rico para fazer esta ponte“, afirmou o professor José Luiz Tejon.
Uma das propostas colocadas para fomentar a inovação no sistema e fortalecer as diversas cadeias de negócios foi a criação de uma plataforma de marketplace para conectar cooperativas que queiram vender seus produtos ou serviços para outras. Esta ferramenta digital acentuaria o princípio da intercooperação em todo Brasil ao estimular a conexão entre os diversos cooperados. O pilar da intercooperação é, segundo Luís Alberto Pereira, um dos que mais tendem a se fortalecer nos próximos meses, como forma de superar o momento de crise sanitária e econômica.
Mais investimentos em educação e qualificação, utilizando as ferramentas digitais, também foi um ponto que todos concordaram que deve ganhar mais força neste momento. Com as medidas de isolamento, o Sistema OCB vai antecipar projetos de educação à distância que estavam previstos para o próximo ano. “É hora de ousar, e não de se retrair. Inovar é fundamental para a sobrevivência e fazer mais do mesmo não vai resolver nosso problema”, disse Márcio Lopes.
*** Na foto: presidente nacional do Sistema OCB, Márcio Lopes de Freitas (Divulgação)