Embora o avanço da tecnologia venha abrindo portas para que a medicina chegue a mais lugares há vários anos, a necessidade de restringir o contato social diante da pandemia de coronavírus está provando que a telemedicina, antes vista como algo saído da ficção, já tem lugar importante na vida real. Em Goiás, através do suporte da ConectMed, o Centro Médico Hospitalar Ânima e o Hospital Evangélico, ambos em Anápolis, são exemplos de unidades de saúde que já adotaram o modelo de atendimento remoto.
Seguindo essa tendência, o Conselho Federal de Nutrição (CFN) autorizou, até o dia 31 de agosto, a assistência nutricional exclusivamente por meio não presencial e, posteriormente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) também decidiu reconhecer a possibilidade da teleorientação e do telemonitoramento para os pacientes e a teleinterconsulta entre os médicos para troca de informações e opiniões. O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito) também autorizou teleconsulta, teleconsultoria e telemonitoramento e o Conselho Federal de Psicologia (CFP) permitiu que os profissionais façam atendimento online sem necessidade de aguardar confirmação de cadastro no e-Psi.
Na prática
Para a nutricionista Janaína Macedo, a medida é positiva porque permite ao profissional esclarecer especulações que circulam na internet e ajudar as pessoas nesse momento de reclusão. “Podemos fazer atendimentos e sanar as dúvidas das pessoas, inclusive com orientações para desmentir informações equivocadas. Por exemplo, não é que a vitamina D ou a vitamina C vão imunizar contra esse novo coronavírus. Mas podemos sim fazer uso de alimentos como essas vitaminas e a glutamina que sabemos que podem ajudar a melhorar a resposta do organismo ao combate do vírus. Então por que não fazer o que está ao nosso alcance nesse momento de reclusão em casa? Só ressaltamos que nada disso exclui a alimentação e o estilo de vida saudáveis. Vejo a medida como positiva porque no ambiente da internet a informação é mais disseminada”, afirma Janaína.
Já a fisioterapeuta e diretora da Rede Silvana Vasconcelos, que inclui o Centro Goiano de Reabilitação Neurofuncional (CGRN) e mais quatro unidades no Brasil, está capacitando a equipe para fazer acompanhamento on-line dos pacientes da terapia intensiva infantil realizada em todas as unidades.
Ampliando o acesso à saúde
Para Douglas di Bellis, sócio da ConectMed, as vantagens do sistema que a companhia tem implantado em Goiás há oito meses vai além da redução do risco de contágio. “Os ganhos são mútuos em agilidade de atendimento para pacientes e médicos”, explica. Além de aumentar a velocidade, a ferramenta, que funciona por meio de uma combinação de equipamentos digitais, softwares, internet e especialistas qualificados, serve ainda para ampliar o acesso à saúde.
“Com a telemedicina é possível levar atendimento principalmente a regiões mais distantes, onde não existem certas especialidades. Isso permite que essas pessoas muitas vezes não precisem se deslocar até outras cidades para serem atendidas”, ressalta Douglas. Com a superação de barreiras geográficas, o modelo torna possível, por exemplo, que o profissional de saúde tenha acesso ao paciente antes mesmo de ele ir à unidade de saúde ou que um exame feito em Goiás seja interpretado por um especialista em outro estado ou país.
Para Douglas, esse avanço promete transformar especialmente a maneira como a medicina lida com casos graves e, diante da pandemia, mostra que os benefícios são inegáveis. “Em casos de urgência, a telemedicina se torna fundamental, pois é possível realizar a triagem e interagir com plantonistas clínicos para os primeiros atendimentos e coordenadas. Além disso, a tecnologia colabora com a diminuição de aglomerações em ambientes altamente contaminantes. Essa é uma tendência mundial impossível de se ignorar”, reforça.
Mercado de telemedicina
Estimativas mostram que o segmento deve atrair de US$ 7 a 8 bilhões de investimentos nos próximos cinco anos. No Brasil, 57 milhões de pessoas dependem da saúde suplementar e o restante depende de serviços públicos. A sinistralidade médica, ou seja, o cálculo de reajuste dos planos de saúde em função do uso coletivo, chega a 84% e a previsão é de que nem o governo nem as empresas de saúde suplementar vão conseguir garantir atendimento sem tecnologia.
A Comissão Europeia, que havia estimado em 2018 que esse mercado alcançaria globalmente 37 bilhões de euros até 2021, acredita que os números projetados devem ser ultrapassados, mesmo depois de um início lento na Europa – em função da resistência dos próprios pacientes à novidade, dentre outros obstáculos. A telemedicina tem se mostrado como a válvula de escape para profissionais de saúde, governos e população na busca por driblar a sobrecarga de hospitais em meio ao surto.
Na foto: Telemedicina Conectemed (Divulgação)