Na coluna da semana anterior, foi analisada a economia brasileira em 2024, os seus fundamentos macroeconômicos e a tendência para o final do ano. Como foi dito, a economia brasileira irá para o seu 3º. ano consecutivo com crescimento médio em torno de 3% ao ano.
Contrapondo o histórico imediatamente anterior a estes três anos (2022 a 2024), os sete anos (2015 a 2021) tiveram queda no PIB de 1,12% no período, ou seja, uma queda média anual de 0,16%. Este período foi marcado por uma recessão séria em 2015 e 2016 e depois uma estagnação entre 2017 a 2021, incluindo a pandemia nos anos de 2020 e 2021.
Gráfico 1: Histórico Variação anual do PIB
O gráfico 1 demonstra a variação anual do PIB, a economia brasileira cresceu praticamente nos 13 anos de 2002 a 2014, recessão em 2015 e 2016, estagnação entre 2017 a 2021 e volta a crescer no período de 2022 a 2024, sendo o ano de 2024 projetado. Esse crescimento de 3% nos últimos 3 anos aproxima do crescimento médio de 3,45% no período de 2002 a 2014.
Só foi possível crescer, nos últimos 3 anos, a média de 3% ao ano, sem provocar nenhum surto inflacionário: i) em função da capacidade ociosa existente nas empresas depois de 7 anos entre recessão e estagnação e ii) em função da alta taxa de desemprego existente nesse período 14% e 13% nos anos de 2020 e 2021.
O gráfico 2, abaixo, demonstra a evolução da taxa de desemprego que chegou ao topo em 2020 com o índice de 14% após ter atingido, o que os economistas denominam de Pleno Emprego, no ano de 2011 com o índice de 4,7%. Após esse período complicado da economia e da política brasileira o crescimento dos últimos anos trouxe a taxa de desemprego para 7,8% no final de 2023 devendo ficar próximo de 7% até o final de 2024.
Portanto, o uso da capacidade ociosa das empresas e o a ocupação da mão de obra desempregada possibilitaram o crescimento de 3% em média nos últimos 3 anos sem causar inflação.
Gráfico 2: Evolução Taxa de Desemprego
E, a partir de 2025, a economia brasileira terá condições de manter esse crescimento?
A resposta é não, não se sabe com precisão até onde o uso dessa ociosidade dessa desocupação não acarretará inflação, porém, de um modo geral, a economia não pode crescer somente à base do aumento do consumo privado e público. Ela precisa crescer a oferta de bens e serviços para acompanhar o aumento do consumo, isso só ocorrerá se houver crescimento da taxa de investimentos da economia.
Para isso precisamos recorrer à história da economia brasileira. O financiamento ao crescimento e desenvolvimento econômico sempre foi o grande déficit do capitalismo brasileiro. Após esgotado o modelo de crescimento econômico, via dívida externa, durante a ditadura militar, o mercado financeiro brasileiro não foi capaz de desenvolver para as empresas linhas de crédito de longo prazo. Primeiro pelo processo inflacionário que o país viveu após a ditadura, sempre o curto prazo foi o alvo da atuação do mercado, segundo as altas taxas de juros praticadas pelo Banco Central, alvo de várias críticas dessa coluna, inibia os bancos a emprestarem a longo prazo pelo risco e pela possibilidade de aplicação nos títulos do tesouro nacional com juros elevadíssimos e liquidez diária.
As grandes empresas têm no mercado acionário possibilidade de financiamentos a longo prazo, através de abertura de capital na Bolsa de Valores, bem como, emissão de novas ações. Porém, o número de empresas, atualmente listadas, é de menos de 400, ou seja, não tem representatividade no contexto do total das empresas do país. O acesso a maioria das empresas ainda é muito difícil.
Sabedor dessa dificuldade desde há muito tempo o Governo Getúlio Vargas criou em 1952 o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), hoje BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para preencher a lacuna do mercado financeiro e de capitais do Brasil, oferecendo às empresas financiamento a longo prazo com recursos oriundos do governo federal.
A atuação do BNDES está longe de uma unanimidade, alguns economistas, analistas e políticos, acham que a atuação do BNDES no financiamento às empresas tem caráter de intervenção do governo no livre mercado e de concorrência desleal como o mercado financeiro privado. Outros acham que a intervenção é necessária e vital para dar ao desenvolvimento econômico linhas de créditos que o mercado financeiro não oferece e quando oferece com taxas abusivas praticadas por spreads acima do mercado internacional. E ainda esses lembram que as grandes nações desenvolvidas, quando do seu desenvolvimento industrial, todas utilizaram desse expediente de um banco fomentador.
Como essa coluna é baseada em dados e não em ideologias, o gráfico abaixo apresenta a importância dos recursos do BNDES na formação da taxa de investimentos da economia.
Gráfico 3: Correlação entre desembolso BNDES e Taxa de Investimentos
Para certificarmos a importância dos desembolsos do BNDES na formação da taxa de investimentos da economia brasileira, a coluna criou o gráfico acima, onde no eixo x contém os dados dos desembolsos anuais do BNDES em relação ao PIB e no eixo y contém a taxa de investimentos da economia. Pela ferramenta de correlação linear constatamos que há uma relação positiva linear entre o desembolso BNDES (x) com a taxa de investimentos (y), ou seja, o aumento do desembolso BNDES está associado ao aumento da taxa de investimentos.
O indicador dessa correlação é de 76,4%, estatisticamente significativa. Com esses dados esclarece definitivamente a importância do BNDES na economia brasileira e mais ainda a importância da atuação do Banco nesse momento econômico. Para detalhar um pouco mais, o maior desembolso do BNDES no período de 2002 a 2023 foi de R$ 190,4 bi, 2013, onde a taxa de investimentos chegou a 20,9%, a maior do período. Esse valor reduziu para R$ 55,3 bi no governo Bolsonaro (2019) e a taxa de investimentos reduziu para 15%. Já no 1º. ano do governo Lula, 2023, o desembolso foi de R$ 114,4 bi e taxa de investimentos elevou-se para 16,5%.
Utilizando a ferramenta econométrica correlação linear pode ser estimar para os próximos anos, caso o desembolso volte a atingir a cifra de R$ 200 bi, a taxa de investimentos atingirá quase 22% e com isso o aumento da oferta de produtos e serviços pelas empresas poderá seguir o aumento do consumo sem a preocupação de inflação. A taxa de investimentos de 22% ficará mais próxima da taxa de investimentos da média mundial que é de 26%.
As projeções realizadas no relatório Focus divulgado no dia 19 de julho trouxeram variações em relação à semana anterior. Para o PIB de 2024, aumentou de 2,11% para 2,15%, para 2025 houve redução de 1,97% para 1,93% e manutenção das previsões para os anos de 2026 e 2027 em 2%. Já para a inflação, a previsão de 2024 aumentou de 4,00% para 4,05%; 2025 manteve em 3,90%, 2026 manteve em 3,60% e 2027 manteve-se a projeção de 3,50%.
As projeções da Taxa Selic, 2024 manteve em 10,50%, 2025 manteve em 9,50%, 2026 e 2027 mantiveram-se 9,00%. Com as previsões da Selic e o aumento da previsão da inflação para os próximos 12 meses de 3,68% para 3,74%, a taxa de juros reais da economia, calculada pela coluna reduziu para 6,27% ao ano. A taxa prevista para o final do ano, com Selic em torno de 10,50%, equivalerá taxa de juros reais de 6,52%, ainda acima da taxa de juros reais neutra divulgada pelo Banco Central que é de 4,5%.
Quando se analisa a curva de juros do Brasil para os próximos anos, o mercado aumentou as suas previsões: janeiro de 2025 em 10,69%; janeiro de 2026 em 11,59%; janeiro de 2027 em 11,85%; janeiro de 2028 em 12,03%; janeiro de 2029 em 12,14% e janeiro de 2034 em 12,14% (Cotações – Juros Futuros – Ferramentas | InfoMoney), os juros reais inclusos nessas taxas são de 7,25% ao ano. Já as taxas dos títulos dos Estados Unidos negociadas para 2 anos são de 4,447% e para 10 anos são de 4,238% ao ano, apresentando redução em relação à semana anterior.
Ainda pelo relatório Focus as previsões do resultado primários foram, 2024 de -0,70% do PIB, 2025 de -0,67%, 2026 de -0,55% e 2027 de -0,41%.
Abaixo, a tabela das projeções dos indicadores econômicos para 2024 com a atualização do Relatório Focus e a manutenção das previsões da coluna.
E, por fim, o quadro de projeção do IPCA até o final de 2024 para eventuais cálculos de projeções.
Marcos Freitas Pereira
Natural de São Paulo, acumula mais de 40 anos de experiência no mercado. Doutorando em Turismo, Mestre em Finanças e economista. Fundador e atual sócio da AM Investimentos e Participações que investe em clínicas médicas, turismo, gastronomia e lazer e entretenimento. Foi também fundador da WAM Brasil maior comercializadora de multipropriedade turismo imobiliário do mundo.
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