ClubHouse: Já é hora de a minha marca estar lá?

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(Crédito da foto: Thomas Trutschel/Photothek via Getty Images)

Por Altair Camargo

Imagine estar em uma roda de conversa em que várias pessoas — incluindo superespecialistas — trocam ideias sobre temas de seu interesse. Nessa roda você tem a oportunidade de ouvir, aprender e trocar experiências com pessoas de todos os lugares do mundo. Se você quiser montar a sua roda de conversa e torná-la pública para que qualquer pessoa ouça, a possibilidade também existe. Basicamente isso é o que o ClubHouse, uma nova rede social que está crescendo exponencialmente, faz.

O ClubHouse foi criado em março de 2020. Dentro dele, os usuários criam salas em que escolhem quem tem direito a voz (literalmente). Dentro dessas salas, os usuários selecionados podem conversar entre si – sobre qualquer assunto – e qualquer outra pessoa pode entrar nessas salas e ouvir as conversas. O grande diferencial dessa rede em relação às outras é o foco no conteúdo: lá não tem imagem, então não há a preocupação com a roupa, a maquiagem, o cabelo. Somente a voz das pessoas é compartilhada. Isso faz com que a rede se torne, de certo modo, democrática, pois a aparência não importa, mas sim as ideias.

Embora tenha sido lançado há praticamente um ano, apenas recentemente o aplicativo se tornou popular. Isso aconteceu por dois motivos principais: o primeiro é que, nos meses iniciais de lançamento, a plataforma estava passando por testes e poucas pessoas podiam utilizar (até hoje só tem acesso ao ClubHouse quem tem iPhone e recebe convite de outro participante). A  segunda razão é que, como diversas outras redes sociais que surgem e morrem, poucas pessoas com muita influência estavam utilizando o ClubHouse. Isso mudou quando Elon Musk, fundador da Tesla, participou de algumas conversas lá dentro. A presença dele ajudou o aplicativo a se popularizar, outras celebridades (como Oprah Winfrey, Ashton Kutcher, Boninho e Luciano Huck) também passaram a usar a rede e isso com fez que ela explodisse em número de usuários, o que é fundamental para que qualquer rede social sobreviva. O crescimento do ClubHouse foi exponencial nos últimos meses: em maio de 2020 havia 1500 usuários cadastrados. Em janeiro de 2021 já eram 2 milhões e atualmente, em fevereiro de 2021, são 10 milhões de pessoas registradas na plataforma.

É claro que um local com tanta gente, e que está causando tanto burburinho, atrai a atenção das empresas, que se perguntam como utilizar o ClubHouse a seu favor. A resposta mais óbvia é a utilização da rede para ouvir o que outros profissionais têm a dizer sobre suas áreas, obter insights, ouvir dicas e, claro, fazer networking com pessoas dos mais diversos setores, regiões e níveis de especialização. Uma das grandes vantagens citadas por diversos usuários do ClubHouse é justamente a oportunidade de ouvir um de seus ídolos de negócio, expondo suas opiniões sem edição – afinal, tudo que acontece no ClubHouse é ao vivo, sem edições e sem gravações para que se possa ouvir novamente depois.

Embora, sem dúvida, fazer networking e ouvir o que outros profissionais têm a dizer são duas vantagens para quem tem um negócio, a plataforma oferece outros benefícios para as empresas. Um deles é promover encontros para fortalecer a imagem e o posicionamento das marcas. Por exemplo, no Brasil a Audi já organizou uma reunião para trocas experiências e discutir possibilidades, tendências e usos dos carros elétricos, ou seja, um bate-papo diretamente relacionado com os produtos que ela oferece. A Nestlé promoveu o “Nescau Sports Talk”, que foi uma conversa com atletas para tirar dúvidas sobre esportes e promover o posicionamento da marca Nescau na mente dos consumidores.

Vale notar que, dentro do ClubHouse, as marcas não fazem uma propaganda direta de venda ao consumidor, mas desenvolvem diálogos para que as pessoas tomem consciência da marca e se interessem por ela. Como é preciso que o bate-papo seja atraente para conquistar e manter a audiência, não é uma boa estratégia para as marcas focar apenas em apresentar seus produtos e tentar fechar vendas. Nos tempos atuais, antes de vender é preciso criar um relacionamento e conquistar a confiança do consumidor.

Outra possibilidade para as marcas dentro do ClubHouse é conhecer melhor seus clientes. É possível, de forma extremamente simples, dar voz a usuários dos produtos para entender suas experiências com a marca, ouvir sugestões de melhorias e até mesmo críticas. Utilizar a rede social para conversar diretamente com o cliente, em um espaço público, sem censuras, tende a aumentar a percepção de transparência da marca com o consumidor, o que faz melhorar a sua imagem e, consequentemente, incrementar as vendas.

Por ser uma rede relativamente nova, as empresas ainda estão tateando e tentando entender como podem utilizar melhor o ClubHouse. Sem dúvida, ela tem enorme potencial de ganho para as marcas, especialmente nos dias atuais, em que não há tanta concorrência lá dentro e as pessoas estão empolgadas em experimentar a novidade. É sempre importante que gestores de marketing tenham a curiosidade de conhecer e explorar as possibilidades de todas as novas redes sociais, porém sem apostar todas as fichas nelas. O Facebook e o Twitter já estão preparando novas funções para concorrer com o ClubHouse e não sabemos qual plataforma ganhará  a batalha das novas redes baseadas somente em voz. Não se sabe nem mesmo se esse é o tipo de aplicativo que veio para ficar. De qualquer forma, antes de se ter essa decisão, é recomendado que as marcas registrem seus nomes de usuário no ClubHouse para garantir seus lugares nas discussões.

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Altair Camargo é co-fundador da Escola de Mentes Empreendedoras Sempreende, consultor, empreendedor e PhD em Administração e Marketing pela USP.

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