*** Por Marcos Freitas Pereira
Vivemos na maior crise da nossa geração, bem maior do que a crise bancária e financeira de 2008. Hábitos serão mudados e a forma de encarar a vida por nós será mudada também, acredito que a solidariedade será muito maior após superarmos este momento.
Infelizmente o combate a este vírus causará transtorno para muitas pessoas e muitas empresas. A demanda por produtos e serviços praticamente desapareceu, com ela a oferta destes também tem se reduzido muito em função da paralisação de indústrias, comércios e prestações de serviços.
O papel do Estado será de extrema importância e dará o tom da sobrevivência à crise e o tom da retomada após a crise. Os neoliberais do nosso governo não podem se aprisionar nos seus conceitos econômicos, pois o momento é o momento do Estado. Chama-se isso de política progressista, heterodoxa ou keynesiana, não importa, a verdade é que o Estado não pode fugir da sua responsabilidade.
Na Europa países estão promovendo programas com gastos acima de 10% do PIB, o mesmo acontece com os Estados Unidos. O Brasil divulgou gastos da ordem de 2,6% do PIB, ainda menor do que o governo gastou para salvar os bancos no Programa Proer no governo Fernando Henrique Cardoso.
Foi comparando os gastos com o Proer e os gastos anunciados para combater a COVID-19 que lembrei do finado ex-vice-presidente da República por dois mandados o Sr. José Alencar. Ele foi sempre um crítico acirrado das altas taxas de juros. Infelizmente não viveu para ver estas taxas despencarem no mundo e tardiamente no Brasil. No governo dele as taxas de juros eram em torno de 9% ao ano, em média (2003 a 2010), hoje não ultrapassa a 1% ao ano, taxas à níveis dos países de primeiro mundo. A queda das taxas de juros foi um movimento iniciado na Europa em função da alta liquidez da economia. No Brasil, a redução ocorreu no governo Temer, tardiamente, poderíamos ter economizado bilhões de reais no pagamento de juros da dívida.
Mesmo com a queda das taxas de juros o setor financeiro do Brasil tem batido recordes e mais recordes nos seus resultados de balanços. Sem dúvida alguma é o setor acima de qualquer crise. E quando tem crise o governo vai lá e salva-o.
O que estamos vendo neste momento de crise? Os bancos têm restringidos créditos às empresas, pior, tem tirado crédito já concedidos a elas, o que tem agravado ainda mais a situação das mesmas. Sem receita e agora sem crédito e pior sem renovação de crédito, sendo chamado para antecipar a quitação dos mesmos. Como antecipar se elas não tem tido receita?
Mais uma vez faz-se necessário a intervenção do Estado para normatizar a atuação dos bancos, exigindo deles a contrapartida das liberações dos compulsórios e das liberações das provisões dos novos créditos. E vamos novamente para uma discussão ideológica, os bancos públicos devem assumir este papel, fazendo concorrência com os bancos privados, obrigando-os a cumprirem o papel que é dado pela sociedade de suprir a produção através de créditos.
José Alencar com certeza, se tivesse vivo, estaria nesta luta de combater a inércia e ao oportunismo dos bancos privados brasileiros. Não é mais possível que este setor seja sempre o mais lucrativo e o mais beneficiado, sem riscos de quebrar, em qualquer situação, seja no crescimento econômico, seja nas crises econômicas e seja na crise COVID-19. Alguém dúvida que os balanços dos bancos privados sofrerão queda nas rentabilidades?
Por fim, segundo o economista Rezende (2020) o Estado não tem limites de gastos, a política neoliberal tem sido questionado por ele desde a crise de 2008, pois a solução desta crise não foi através do receituário liberal, houve uma derrama de recursos financeiros no mercado por parte dos países, o mesmo que acontecerá agora.
Segundo ele, o governo não pode poupar recursos para salvar a economia, quanto mais rápido for estas ações, mais rápido a economia volta a normalidade. E associado a inércia e ao retrocesso do sistema bancário brasileiro, a presença do Estado é de suma importância.
** Natural de São Paulo, Marcos Freitas Pereira acumula mais de 25 anos de experiência de mercado. Doze destes anos foram como administrador em cargos de comando na Pousada do Rio Quente Resorts. Exerceu as funções de Gerente de Orçamento e Finanças, Controller, Diretor Estatutário Administrativo Financeiro e Diretor de Relações com o Mercado. Além disso, dois anos como Diretor Superintendente, principal executivo da empresa.
Mestre em Finanças pela Universidade Alcalá – Espanha – 2011, MBA Executivo Internacional – Unip e Universidade de Alcalá – 2011, graduado em Economia pela PUC-SP 1988, pós-graduado na Universidade Corporativa do Grupo Algar, e doutorando em Turismo. Atualmente atua como Sócio da WAM Brasil.