As mudanças no mundo do trabalho e o estilo de liderança disruptiva

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Após a aprovação da Reforma Trabalhista (Lei n 13.467/2017), muito mudou no mundo do trabalho e os rumos do governo de Jair Bolsonaro indicam que a tendência é que as transformações na relação empregador/trabalhador continuem a ocorrer. Além disso, a indústria 4.0 possibilita novidades que obrigam as duas partes do relacionamento a ser reinventarem constantemente. Nesse contexto, como deve ser a postura dos líderes no âmbito dos negócios?

O CEO do Instituto Mazini, analista de sistemas, psicólogo, mentor e especialista em mudanças comportamentais, João Solér, falou com o Goiânia Empresas sobre as mudanças nas relações formais de emprego, o futuro do mundo do trabalho e o estilo de liderança disruptiva que pode ser adotado frente a tais questões. Confira a entrevista com Solér, que é também colunista do Brasília Empresas.

Goiânia Empresas: As regras formais do emprego mudaram e ainda se discute mais mudanças? Como estão as relações de trabalho atualmente?

João Solér: A reforma trabalhista chegou com aproximadamente uma centena de alterações na CLT. A atenção principal fica, agora, naquilo que é pactuado entre patrão e empregado. Certamente, isso pode causar alterações ou até mesmo suprimir direitos trabalhistas. Contudo, o que limita essa nova sistemática é a Constituição Federal, ou seja, as cláusulas pétreas que são protegidas pelo disposto no parágrafo 4º. do artigo 60. Não se espera mais mudanças de curto prazo na CLT, mas perceberemos que a competitividade, a busca por redução de custos e o falido modelo de 40 horas semanais forçarão que pactos diferentes entre patrão e empregado comecem a acontecer.

Uma nova relação de trabalho é esperada, pois o empregado, agora, passa a comportar-se como empresário dele mesmo: exigindo novos conhecimentos e novos comportamentos. Acredito que isso trará uma grande evolução nas relações de trabalho, possibilitando que seja bom para ambas as partes.

G.E.: As mudanças foram além do formalismo das leis, mas ocorre atualmente uma nova onde de mudanças com as inovações tecnológicas? Os operários da indústria hoje são entregadores ou motoristas de aplicativos. Para onde caminhamos?

J.S.: As leis são elaboradas por pessoas e ninguém tem ideia do que virá com as inovações tecnológicas. Impossível pensar leis que permaneçam inalteradas. Assim, estaremos sempre lidando com novas necessidades de adaptação ao novo.

O que estamos vendo, hoje, certamente acomoda a necessidade de soluções para um período de transição. Ainda temos os cobradores de ônibus e frentistas de postos de gasolina, pois nosso país não conseguiu pensar uma solução para esse trabalhador, e esse grupo de trabalhadores não conseguiu agir para buscar uma solução. Note que tem que ter boa vontade de ambos os lados. Nesse caso, isso não aconteceu. No caso dos motoristas de aplicativos, a relação está diretamente associada ao consumidor, e esse é implacável. Hoje, vejo os jovens comprando hambúrguer nos totens. Eles preferem, pois é o estilo destes clientes.

No caso da indústria 4.0, isso só ocorrerá quando o fabricante perceber que está perdendo competitividade, e isso pode afetar sua receita. Caminharemos mais rapidamente em alguns segmentos e mais lentamente em outros, mas, no fim do túnel, estaremos lidando com robótica, inteligência artificial, business intelligence, etc. Isso exigirá que repensemos as atividades que ficarão para nós seres humanos.

G.E.: Está mais fácil ser um líder disruptivo?

J.S.: Eu diria que já é uma exigência do mercado. Aquelas organizações que não contam com líderes disruptivos estão condenadas a lidar com a mesmice, significando perda de competitividade, de mercado e de receita.

Tudo o que funcionou bem até cinco anos atrás, pode não funcionar mais hoje. Há uma demanda por novos “modelos de negócios”. Essa demanda é da sociedade; ou seja, é uma linha direta entre clientes e produtos/serviços. O líder disruptivo é a solução para buscar por novos “modelos de negócios” o tempo todo. Mantendo a equipe perceptiva às necessidades que surgem, conseguindo por intermédio de muita criatividade e inovação, adaptar sua organização às demandas que foram percebidas.

Não é uma tarefa simples. Creio que se trata de mais de uma tarefa necessária.

G.E.: Um autônomo pode ser o seu líder disruptivo, tipo exército de um homem só, e mesmo assim revolucionar?

J.S.: Ele será um líder disruptivo! Caso contrário estará condenado a viver à margem do mercado de trabalho. Contudo, não será um exército de um homem só. Ao contrário, ele trabalhará de forma colaborativa e terá bastante apoio. Há anos já convivemos com produtos e serviços assim. O sistema operacional Linux é um bom exemplo do século 20. Hoje, temos plataformas como “GetNinjas” que permite que um cliente contrate um profissional para a entrega de um produto ou serviço desejado. Temos lojas colaborativas de artesanatos e muitos outros exemplos do que virá por aí.

Porém, a atenção deste autônomo deve estar na qualidade, no prazo, no formato do relacionamento, na construção da credibilidade, etc. Essa é a revolução esperada. Isso o tornará um profissional desejado pelo mercado e exigirá que ele esteja bastante antenado às mudanças.

G.E.: O empresário ou trabalhador médio, aquele que toca sua vida sem interagir com a mudança de comportamento social, está sendo atingido rapidamente pelas mudanças e usufruindo delas. A tecnologia e acesso ao conhecimento pode tirá-lo do sofá e fazer com que avance de consumidor de inovações para melhorar seu ambiente de negócios?

J.S.: Na verdade, aqui, o tom é mais severo. Creio que esse empresário ou trabalhador não sobreviverá às mudanças que já estão acontecendo. A tecnologia pode ajudá-lo bastante. Mesmo porque estão bastante disponíveis e acessíveis. Aqui devo citar, ainda, metodologias e ferramentas. Hoje, temos tudo disponível. Muitos dizem que virou commodities – são fáceis de achar, baratos e fácil de consumir.

Porém, o que pode causar impacto para esse empresário ou trabalhador é o comportamento. Aqui eu estou me referindo ao comportamento que lida com essas mudanças que estão ocorrendo. Com a velocidade e com a forma. De nada adianta ler quatro livros por mês – uma boa base acadêmica ajuda muito. Contudo, levantar-se da cadeira e fazer o que tem que ser feito, isso sim causa impactos importantes.

G.E.: O que difere do líder de hoje para o líder de ontem?

J.S.: Se fosse para citar uma única palavra. Eu citaria “estratégia”. Perceba que eu não estou querendo dizer que o líder do século passado não utilizava estratégia. Quero dizer que a exigência para uso da estratégia é muito maior e necessária hoje. Constantemente esse novo líder deve testar e repensar seu modelo de negócio.

Seu fosse possível utilizar outras duas palavras, citaria “ritmo” e “resiliência”. O ritmo é imperativo para fazer o que tem que ser feito no tempo certo. Desta forma, unir ritmo e estratégia passou a ser muito importante para entender novas demandas e adaptar-se a elas. Já a resiliência é um diferencial significativo para o líder de hoje, porque muito, e quero dizer muito mesmo, de tudo aquilo que se pensa, repensa, testa e pivota, pode ser um equívoco. No minuto seguinte, esse líder deverá ter energia, motivação e musculatura psicológica para começar tudo novamente.

G.E.: Uma grande novidade é o trabalho intermitente, no qual um empregado recebe pelo período trabalhado, ou seja, salário-hora. Ainda temos como destaque a forma de remuneração, na qual pode ser feito um acordo estabelecendo quais os itens que passarão a integrar o salário.

J.S.: Sim, é uma novidade muito interessante. Para a Pessoa Jurídica, será um alento. Contudo, isso se configura como mais um desafio para o trabalhador e para o líder disruptivo.

Um empregado que ganha pelo período trabalhado (salário-hora) passa a ter noção de seu valor-hora. Passa a ter noção, também, de planejamento, pois será questionado sobre quantas horas terá que trabalhar para garantir determinada entrega. Isso o forçará a traçar um plano (pois o acordo pode conter cláusulas de responsabilidades e multas). Finalmente, esse novo modelo o forçará a ser mais produtivo, a partir do momento que ele entende que o principal limitador que possui é o tempo. Isso já dá uma ideia do que pode passar a integrar o salário.

O líder disruptivo será aquele que irá fazer a gestão desse relacionamento entre empregado, entrega, o que integrará o salário, cláusulas contratuais e necessidades da Pessoa Jurídica.

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