Alta nos custos dos insumos de construção deve causar reajuste nos preços

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Mercado imobiliário alerta que aumento dos valores pode atrapalhar lançamento de empreendimentos (Imagem: Divulgação)

O impacto da pandemia do coronavírus nos preços dos materiais de construção acende um alerta no mercado imobiliário: a situação preocupa empresários do setor e o valor de venda do imóvel vai subir. O reajuste dos principais itens, como o aço e o cimento, está ligado a diversos fatores, dente eles a alta do dólar sobre produtos importados e commodities, a baixa taxa de juros que facilitou o acesso aos imóveis, o desabastecimento por fornecedores que tiveram suas atividades interrompidas em decretos e ao auxílio emergencial, que elevou a procura por esses insumos para reformas e construção de casas. Produtos importados como aço, alumínio, cobre, assim como elevador e outros equipamentos, acompanham a alta do dólar. Segundo levantamento feito pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o aço, por exemplo, acumula alta de 14,5%, em setembro em relação a março deste ano.  No mesmo período, o PVC teve reajuste de 73,6% e, o cimento, aumento de mais de 32%. Segundo algumas construtoras, até mesmo o bloco cerâmico chegou a ter alta de aproximadamente 40%.  

Diante do atual cenário, o mercado ainda sofre diante do aumento de preços de forma indiscriminada de quem ainda possui estoque para venda e tenta se aproveitar do momento de desajuste. Outro problema enfrentado pelas empresas de construção tem sido também o prazo de fornecimento. Algumas indústrias não têm conseguido atender às construtoras no prazo necessário, o que tem gerado impacto em atraso nos cronogramas das obras. 

Presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), Fernando Razuk explica que algumas indústrias tiveram que reduzir suas produções nos últimos meses em função da pandemia, pelo cumprimento de decretos estaduais e pelo afastamento de operários com Covid-19. “E como as construções não paralisaram na grande maioria dos estados brasileiros, houve um descompasso entre a demanda por materiais para as obras e a oferta de materiais produzidos pelas indústrias”, compara. 

Razuk lembra ainda que a maioria do cobre utilizado pelo Brasil é importado do Chile. Como é produto importado, teve impacto direto do câmbio e, além disso, as indústrias chilenas sofreram paralisação na produção em função da pandemia. Outra situação preocupante é que o Brasil depende praticamente de apenas um produtor de matéria-prima para PVC. Algumas indústrias de Goiás também sofreram paralisação em função de decretos governamentais, reduzindo assim sua produção de blocos cerâmicos. 

Tendência de aumento do preço dos imóveis  

O presidente da Ademi-GO acredita que a consequência do aumento no custo de construção pode ser o aumento do preço de venda dos imóveis nos próximos meses. “É um grande desafio para as incorporadoras. A alta nos custos dos materiais de construção está tornando os empreendimentos inviáveis. É possível que alguns lançamentos sejam cancelados em função disso, o que seria ruim para a recuperação econômica do Brasil e, também, de Goiânia”, comenta Razuk. “Desde a crise de 2014, as incorporadoras estão trabalhando no limite do que é viável. Os preços de venda dos imóveis em Goiânia estão bastante defasados. As nossas pesquisas comprovam que o mercado imobiliário está muito aquecido atualmente. Portanto, acredito que haverá uma reposição dos preços dos imóveis em Goiânia, para acomodar a alta no custo de construção. Na minha visão, os preços dos imóveis vão subir nos próximos meses”, destaca.   

O mercado imobiliário, lembra, passou por crise desde 2014 e teve o seu pior ano em 2016. A recuperação vem acontecendo nos últimos cinco anos, porém sem grande crescimento do preço de venda nesses anos. “Com base no banco de dados que temos na Ademi-GO, pudemos verificar que os imóveis se valorizaram em torno de 20% ao ano nos anos de mercado aquecido, em especial em 2010 e 2011”, comenta Razuk. “Nos últimos cinco anos, a valorização dos imóveis em Goiânia ficou em torno de 5% ao ano, pouco acima da inflação. As incorporadoras não têm margem para absorver o aumento do custo de construção. Ou deixa de lançar ou terá de repor o preço de venda, que está muito defasado. Como o mercado está aquecido, acredito que muitos farão a opção de lançar com preço maior”, aposta. 

A oferta de imóveis em Goiânia caiu nos últimos meses. De acordo com a pesquisa da Ademi-GO, a oferta de unidades era de 9.363 unidades no final de 2019. Como o número de unidades vendidas está superando o número de unidades lançadas, esse estoque caiu para 8.287 ao final do mês de julho/2020, queda de 14%. “A oferta de imóveis na Capital, historicamente, gira em torno de 10 mil unidades e, em 2010, passou de 13 mil unidades. A oferta está relativamente baixa quando comparada ao número histórico”, observa.  “Se houver adiamento dos lançamentos, a oferta pode cair ainda mais. E oferta baixa com demanda alta, também pressiona preço de venda para subir. Estou convicto de que o preço dos imóveis tende a subir, de uma forma ou de outra”, complementa Razuk. 

Razuk aponta ainda que a demanda de compra por imóveis está alta, puxada por fatores como queda da taxa de juros do financiamento imobiliário, que reduziu o valor das parcelas e fez com que mais pessoas tivessem condição de comprar. Diante da pandemia, com maior permanência em casa, explica, muitas pessoas decidiram comprar imóvel maior para oferecer mais conforto para a família, a chamada compra de upgrade. “E, com a taxa Selic baixa, as aplicações financeiras de baixo risco estão rendendo muito pouco, e as aplicações de maior risco estão oscilando muito com o cenário incerto, o que deixa o risco alto. Portanto, os imóveis voltaram a ser a melhor alternativa de investimento: além de seguro, é rentável”, complementa. 

Com o cenário de demanda alta e oferta baixa, e custo de construção subindo muito, é bem provável que os preços dos imóveis tendem a aumentar nos próximos meses. Quem comprar imóvel agora ganhará também com a valorização dos imóveis em curto prazo, além de ser considerado um investimento seguro e ser altamente rentável. “Não é mais questão de ganhar mais dinheiro, é questão de sobrevivência das incorporadoras. Com o custo de construção atual, a produção de novos empreendimentos ficará inviável, pois Goiânia ainda tem um dos metros quadrados mais baratos do Brasil e ainda tem espaço para aumento nos preços”, conclui. “O momento nunca foi tão oportuno para se comprar imóveis. A compra está facilitada tanto pelo crédito abundante e juros baixos como também com planos de pagamentos facilitados oferecidos pelas construtoras para compra de apartamentos na planta. E quem comprar agora vai ganhar com a valorização imobiliária dos próximos meses. Os imóveis em Goiânia ainda são muito baratos quando comparados com outras capitais do Brasil. Arrisco a dizer que, em pouco tempo, não haverá mais apartamentos no Setor Marista com valor abaixo de R$ 6 mil o metro quadrado”, prevê Razuk. 

Propostas 

O aumento desenfreado dos preços dos materiais de construção e a preocupação dos empresários do setor levaram a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) a entregar um documento com propostas para minimizar os efeitos da alta dos preços de materiais de construção à Secretaria de Advocacia da Concorrência e Competitividade do Ministério da Economia. O material apresenta causas e consequências para os aumentos e apresenta propostas para mitigar os seus efeitos, e reúne inclusive evidências sobre os abusos no aumento de preços de materiais de construção durante a pandemia. 

Na carta da CBIC enviada ao Ministério da Economia, entre as propostas apresentadas para auxiliar o mercado está o reequilíbrio urgente do abastecimento interno de materiais; redução da capacidade ociosa dos setores com reativação dos fornos que estão inoperantes e limitação da cota de exportação enquanto os fornos não voltarem a operar nos mesmos níveis de março de 2020. 

O documento também sugere a liberação de cota de importação, em condições excepcionais, dos materiais mais impactados, como aço, cimento e PVC; redução a zero do imposto de importação desses materiais pelo prazo de 12 meses;  proibição da verticalização da produção até que sejam garantidas condições iguais aos fornecedores de produtos e serviços; e verificação de abuso econômico por parte da fornecedora da resina utilizada para a fabricação do PVC. 

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