Desde a chegada da internet, o mundo tem passado por transformações cada vez mais rápidas e complexas. De acordo com dados da IBM Marketing Cloud de 2016, mais de 90% de todos os dados da história da humanidade foram criados entre 2014 e 2015. Já a pesquisa da International Data Corporation (IDC) aponta que o conteúdo digital dobra a cada dois anos no mundo e, em 2020, esse montante imaginário – que compreende filmes, músicas, livros e dados comunicacionais – pode atingir 6,6 vezes a distância entre a Terra e a Lua.
Diante desse crescimento exponencial do conhecimento, a agilidade de aprendizagem, de acordo com a especialista em gestão organizacional e desenvolvimento humano, Karina Duarte Lopes, é a nova competência do mercado de trabalho. Diz respeito à capacidade de estar aberto ao novo e aprender de forma contínua e rápida com as experiências. O investimento em tradicionais formas de aquisição de conhecimento, como cursos de aprimoramento, graduação, pós-graduação são uma alternativa, mas, com as mudanças velozes provocadas pelas inovações, essa busca por atualização passa a ser quase que diária, e inclui novas formas de aprendizagem, como inputs decorrentes do contato com profissionais de diferentes áreas, das redes sociais, entre outras alternativas.
“Com as mudanças velozes, temos de estar sempre na condição de eternos iniciantes. Quem resiste, já está em desvantagem. O aprendizado tem de ser contínuo e rápido”, esclarece a especialista ao sugerir que a mentalidade deve ser como a das crianças, que não tem resistência em aprender o novo. Essa iniciativa demanda tanta importância que ganhou uma palavra de ordem, o “shoshin”, palavra japonesa que significa “mente de principiante”, sempre aberta para aprender o novo sem a imposição de preconceitos.
Porém, essa habilidade tão exigida no mercado de trabalho, ainda não é fácil de ser encontrada. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Korn Ferry em 2014, apenas 15% da força de trabalho no mundo desenvolveu a agilidade de aprendizagem. Já as companhias que contam com executivos com alta agilidade de aprendizagem apresentam lucratividade 25% maior que as concorrentes. A pesquisa ainda destaca que os executivos com alta habilidade de aprendizagem são cinco vezes mais engajados na empresa e costumam ser promovidos duas vezes mais rápido.
Mas por que essa habilidade, tão facilmente dominada pelas crianças, é difícil de ser encontrada em que está no mercado de trabalho? Para Karina, o que torna mais fácil para os mais jovens é justamente o que eles não têm e nós adultos temos: uma maior vivência e um maior leque de percepções registradas ao longo da nossa trajetória, que ao invés de agregar, tornam-se barreiras para se aprender com novas experiências. A especialista afirma também que a facilidade de aprendizagem existe nas crianças porque elas não têm barreiras, não têm preconceitos com o que é novo. Não temem em errar e aprendem rápido com os erros. Já os adultos, pela vivência que têm e pelo grande temor em errar, apresentam automaticamente uma resistência ao novo e não se abrem a novas formas de pensar, “não aprendem com novas oportunidades”.
Para desenvolvermos a habilidade de agilidade de aprendizagem, devemos estar sempre numa condição de iniciantes, sabendo sobressair-se num ambiente incerto, ambíguo, complexo e volátil”, defende Karina. A especialista em comportamento humano ainda destaca cinco dimensões para se alcançar uma agilidade de aprendizagem: agilidade mental, habilidade para lidar com pessoas, agilidade para mudanças, resultados e autoconhecimento.
Mentalidade
Karina também destaca que a habilidade de aprendizagem não está diretamente relacionada ao quociente de inteligência (QI), mas ao aspecto comportamental. “O profissional que tem habilidade de aprendizagem não necessariamente é o mais inteligente, mas o curioso, que possui iniciativa e está aberto a novas ideias. São aqueles que estão impacientes com o status quo e sempre estão assumindo desafios dos quais não tem todas as habilidades necessárias”, completou. As consequências para aqueles que possuem essas habilidades são as chances de promoção mais rápidas e frequentes e possuírem salários maiores.
Para Karina, os principais obstáculos para se ter a habilidade da agilidade de aprendizagem é a mentalidade, que pode impor um comportamento mais defensivo e baseado no medo. Porém, os profissionais também podem contar com aliados para superar essas barreiras. “Temos que focar em nossos aliados para superar aquilo que nos impede de crescer. Para isso, podemos contar com a curiosidade, a coragem, aceitar feedbacks sinceros e não temer assumir novos desafios”, explicou.
A especialista também afirma que as pessoas que possuem agilidade de aprendizagem também aceitam feedbacks com mais facilidades. Para ela, ouvir o retorno de pessoas experientes ou com conhecimento sobre as tomadas de decisão faz parte do aprendizado contínuo. “É muito comum nos fecharmos quando recebemos um retorno sobre as nossas ações, mas é muito importante quando conseguimos extrair o que há de positivo nos feedbacks sinceros para conseguir superar os erros”, disse Karina.
Karina ainda argumenta que, quando a conversa é sincera, honesta e franca, o profissional pode refletir sobre a própria atuação para melhorar o desempenho. “Todos precisam de aprimoramento e o objetivo do feedback é justamente ampliar a percepção da outra pessoa, para que ela perceba os pontos fortes que podem ser ainda mais usados e os pontos fracos que precisam ser melhorados. A pessoa que dá o feedback deve saber o momento adequado e aquele que recebe não deve construir barreiras para ouvir”, completou.