Abandono do tratamento preocupa médicos em meio à pandemia

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Man eating a big hamburger

Com o início da pandemia do novo coronavírus, as consultas e procedimentos eletivos foram completamente suspensos enquanto o Brasil tentava entender como reagir à pandemia. Embora clínicas e hospitais tenham se adequado para permitir a retomada dos atendimentos, muitos pacientes ainda não retomaram o acompanhamento. “A persistência da interrupção do acompanhamento para doenças crônicas é muito preocupante”, explica o médico gastroenterologista e presidente da Sociedade Goiana de Gastroenterologia, Luiz Henrique de Sousa Filho.

Recentemente, um levantamento feito pelo instituto de pesquisas Ipsos mostra que 70% dos brasileiros são contrários à reabertura do comércio por medo de contaminação. Em outro estudo da organização, a mesma porcentagem de pessoas afirmou estar mais preocupada com a saúde das pessoas mais vulneráveis à COVID-19 do que com si mesmos.

O risco da falta de acompanhamento

É dentro desse recorte que pacientes com doenças crônicas interromperam seus acompanhamentos indefinidamente pelo receio de contaminação pelo novo coronavírus. Preocupada com esse cenário, a Associação Médica Brasileira (AMB) tem reunido dados com a classe médica sobre o aumento inesperado de óbitos causados por essas doenças.

“A AMB deu início a uma campanha de conscientização para informar à população brasileira sobre a importância da busca por atendimento médico, quando necessário, e para controle de doenças crônicas. A obesidade, por exemplo, é uma doença crônica com alto fator de risco para agravamento da COVID-19. Outras doenças cardiopatias, diabetes, hipertensão e asma também deixam pacientes mais vulneráveis aos quadros mais graves”, afirma Luiz Henrique.

Alerta para a obesidade

O cenário acende uma luz de alerta sobre a percepção que os brasileiros têm de seu próprio estado de saúde. O Ministério da Saúde apontou a obesidade, presente em pelo menos 20% da população, como um fator de risco para o vírus e constatou a maior presença da doença entre óbitos de pessoas jovens do que em idosos.

Segundo dados apresentados pela Novo Nordisk, a obesidade foi registrada em 60% dos pacientes hospitalizados com COVID-19 entre 18 e 49 anos de idade. Para a médica endocrinologista Fernanda Braga, é importante ressaltar que a condição está associada a outras comorbidades e pode ser subnotificada. “Muitos diabéticos são obesos. Muitos doentes cardíacos também. Boa parte desses pacientes não têm a obesidade registrada em seus prontuários”, alerta.

Além da relação entre o Índice de Massa Corporal (IMC) acima do adequado e o maior risco de hospitalização, a médica destaca também o comprometimento pulmonar diante da ocorrência elevada de apneia do sono, síndrome de hipoventilação, maior risco de asma e redução do volume dos pulmões.

Cuidados importantes

Nesse período turbulento, Fernanda reconhece que é comum que o cuidado com a alimentação e o peso deixem de ser prioridades. “Temos dois tipos de fome: fisiológica e hedônica. Esta última é ligada ao sistema de prazer e recompensa e tende a desregular em períodos de estresse, principalmente quando vem de um fator externo e fora do nosso alcance de resolução”, avalia.

Com a retomada dos acompanhamentos, a especialista conta que seus pacientes tiveram facilidade em ajustar suas rotinas alimentares. Além disso, ela recomenda alguns pontos de atenção, como evitar alimentos ultraprocessados e priorizar alimentos naturais, manter a prática de exercícios, cuidar do sono e usar o humor como sinal de alerta. “Ele é o mais fácil de sair do controle neste período e, consequentemente, desequilibra todos os outros pilares (alimentação, prática de exercícios, sono e função intestinal) que também interferem na qualidade do humor”, completa a endocrinologista.