Por Marcos Freitas Pereira
O título desse artigo surgiu depois de depararmo-nos com a capa do jornal Extra do Rio de Janeiro do dia 29 de setembro de 2021 apresentando uma fotografia de um caminhão de ossos e restos de carne que estavam sendo distribuídas às pessoas necessitadas, e mais recentemente, 18 de outubro de 2021, um vídeo que circulou na internet de um caminhão de lixo onde as pessoas buscavam comida descartadas de um restaurante em um bairro nobre de Fortaleza. As cenas são fortes e nos remetem as imagens que circulam na rede do povo Venezuelano que tanto nos indignamos, porém, no nosso “quintal” algo parecido está acontecendo. O artigo tem como objetivo analisarmos criticamente o nosso problema atual.
Ainda pela imprensa foi divulgado no dia 10 de outubro de 2021 pelo Globo que o número de moradores de rua na cidade de São Paulo multiplicou por 3 em 2 anos para 66 mil pessoas, mesmo o PIB do Estado de São Paulo crescendo a 7,5% nesse ano e sendo o único Estado que que o PIB não foi negativo em 2020. E não indo muito longe, o número de moradores de rua na cidade de Goiânia cresceu 33% nos últimos 5 meses.
O que dizer diante desse quadro sombrio que estamos envolvidos na nossa cidade, no nosso estado e no nosso país? Não se pode ficar omisso, não se pode deixar de emitir opinião, não se pode deixar de cobrar responsabilidades dos governantes, federal, estadual e municipal e ao mesmo tempo, fazer a nossa parte, por menor que ela seja, como cidadão, como executivo e como empresário.
O governo acerta em estabelecer o Auxílio Brasil de R$ 400 para atender aproximadamente 17 milhões de famílias a ser pago a partir de novembro de 2021 até dezembro de 2022, mesmo sendo uma medida temporária. É uma ação que evitará aproximarmos da situação da Venezuela. O Brasil e o capitalismo precisam incorporar nas suas economias a Renda Mínima, muitos países já adotam, só assim o capitalismo terá um futuro mais tranquilo. Essa medida (Auxílio Brasil), pelos meus cálculos, custará cerca de R$ 81 bilhões em 1 ano, acima do orçamento do Bolsa Família em torno de R$ 40 bilhões, ou seja, adicionalmente essa medida urgente, necessária e temporária, custará aos cofres públicos 0,5% do PIB, só para se ter comparação, o orçamento público prevê para 2021 redução de arrecadação de mais de 4% do PIB de isenção fiscal concedida a empresas e grupos específicos e mais de 4% do PIB em pagamentos de juros da dívida pública com tendência a aumentar em função da recente elevação da taxa de juros básica da economia, a SELIC.
Ao contrário do que se tem dito por economistas fiscalistas e pelo mercado financeiro, o valor a ser gasto não afetará a relação dívida/PIB, indicador que mede a solvência do país. A fonte de receita para esses recursos, sem entrar no mérito do Teto de Gastos, deve ser a busca pelo crescimento econômico da economia. Em 2020, a economia brasileira teve a queda do PIB amenizada em função da contribuição da política do auxílio emergencial que juntamente com a Bolsa Família aumentaram o consumo de bens básicos.
A relação dívida/PIB em 2019 foi de 75,8%; em 2020, de 88,8% e, até julho de 2021, 84%. O crescimento da dívida em 2020 deveu-se aos gastos para enfrentar a pandemia e pela queda do PIB, já em 2021 a relação reduz em quase 5 pontos percentuais em função do crescimento do PIB acumulado.
Portanto, o foco do governo tem que ser o crescimento econômico em 2022 – as últimas previsões tem sido pífias, menor do que 1%. Além do Auxílio Brasil, o governo tem que adotar um Plano Econômico focando o crescimento, a geração de renda e a geração de emprego. Com isso, essa conta ficará bem barata no futuro e mais: salvando muitas vidas e famílias.
A atuação do Estado na economia para resolver esse problema crônico de pobreza atual, da fome, é imprescindível e devem ser rebatidas as críticas de economistas e do mercado financeiro. É uma atuação política e necessária em favor dos excluídos.
E quanto a nós, cidadão, executivo e empresário? Devemos juntar-nos ao governo, solidarizando com essas famílias que não tem teto e muito menos comida. Tenho visto em Goiânia diversas ONG’s, diversos voluntários, oferecendo a essas pessoas alimentação diária, além de cestas básicas. Oferecer a essas ONG’s e as esses voluntários a ajuda financeira seria um bom começo para ajudarmos. Vamos fazer a nossa parte também.
Por último, gostaria de acreditar que essa pandemia que se abateu no mundo tenha valido alguma coisa, que podemos extrair de tudo isso algumas coisas que podem ajudar o mundo: solidariedade; fim do preconceito de raça, sexo, classe social; fim do ódio ideológico e que possamos colocar o ser humano acima de qualquer coisa. A vida importa, só ela importa!
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Natural de São Paulo, Marcos Freitas Pereira acumula mais de 25 anos de experiência de mercado. Doze destes anos foram como administrador em cargos de comando na Pousada do Rio Quente Resorts.
Exerceu as funções de Gerente de Orçamento e Finanças, Controller, Diretor Estatutário Administrativo Financeiro e Diretor de Relações com o Mercado. Além disso, dois anos como Diretor Superintendente, principal executivo da empresa. Atualmente atua como Sócio da WAM Brasil.
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