Em uma famosa campanha de marketing, a revista The Economist, uma das mais prestigiadas publicações do mundo e referência do liberalismo nos seus 177 anos de existência, brincava com a ideia de solidão de quem exerce a liderança. Com uma imagem da revista ao lado o anúncio dizia: “o topo é solitário, mas pelo menos há o que ler”. Certamente nem todos os bons líderes a leem, mas seja na Inglaterra ou aqui nos trópicos, o fato é que a solidão dos líderes é uma realidade bem pouco mencionada e muitíssimo subestimada.
Estando à frente das nossas empresas, de qualquer grupo ou organização em geral, nenhum de nós ao sonhar com a liderança, ainda muito glamourizada no imaginário coletivo, dela se recorda como sendo algo penoso, feito no silêncio de um escritório ou na calmaria de uma madrugada insone. Acontece que a realidade é quase sempre menos radiante do que nossos sonhos e o fardo da solidão é uma constante na vida de um líder. De tão comum, essa solidão se manifesta com igual intensidade no burburinho de uma linha de produção barulhenta e em uma rotina vivenciada sempre com mil pessoas à volta. Muito além do que física e objetivamente perceptível, essa solidão é mental, emocional e psicológica.
Mais do que alguém que sobe no pódio na hora da comemoração, líder é aquele que cria as razões para que o próprio pódio se torne possível e alcançável. Na vida empresarial, coordenar equipes, definir rumos e fazer escolhas verdadeiramente impactantes cotidianamente nos impõe um fardo pesadamente silencioso. Decisões individuais de um líder, e que na maioria das vezes precisam ser tomadas no calor da hora, isto é, sem um longo tempo de análise e maturação, determinam o sucesso ou o fracasso de um negócio, alteram destinos e pior: impactam diretamente nas vidas de seus colaboradores e seus familiares.
A própria noção de liderança como a atividade exercida no topo é bem mais idealizada do que real. Esqueça a imagem comumente ilusória de um líder por cima da carne seca. Ele está de fato sempre no meio, acima dos seus liderados, mas igualmente abaixo daqueles a quem ele presta contas, sejam eles os acionistas, o conselho administrativo da organização ou, quiçá, a sua própria consciência, muitas vezes mais dura e implacável do que os demais. O peso, no fim das contas, é sempre maior do que a percepção de quem vê de fora – e que, portanto, não ajuda a carregá-lo.
Como se não bastasse, toda solidão da liderança tem que ser vivida em certo silêncio, já que queixar-se do peso de estar à frente de um time nunca é uma alternativa. O líder que muito lamenta suas condições termina por desacreditar suas próprias credenciais para liderar. Resta, por fim, a resiliência, que é sua maior arma e também seu melhor instrumento de trabalho. Liderando e convivendo diariamente com líderes dos mais diversos perfis há mais de duas décadas, estou convencido de que a arte da liderança não é a de lançar fora os pesos que vão se avolumando nas costas. Antes, é saber a hora de parar para recobrar o fôlego e retomar a caminhada com ainda mais vigor.
Palavra de quem tem os ombros calejados.