A Política atual e a Covid-19

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** Por Marcos Freitas Pereira      

Será que no mundo tem assunto mais importante na política do que a pandemia da Covid-19, o vírus que veio para matar?

Analisando as notícias através da imprensa internacional constata-se que não, o mundo está à volta dessa crise, todos os países buscam soluções, sejam elas econômicas ou sanitárias. Porém, dois países parecem viver outro momento, momento de eleição e reeleição, são eles Estados Unidos da América e o Brasil.

O que eles têm em comum? Os Estados Unidos terão eleições para presidente este ano, o presidente atual Donald Trump está tentando a reeleição, enquanto no Brasil, o presidente já está pensando na reeleição em 2022, ou seja, daqui 2 anos e meio.

Enquanto outros países buscam soluções técnicas da medicina para resolver o problema, esses países buscam amenizar a crise para evitar quaisquer tipos de estragos políticos para os seus objetivos. Eles sabem que a piora das economias prejudicará as suas intenções políticas este e nos próximos anos.

As primeiras pesquisas dos Estados Unidos apontam o favoritismo do candidato democrata, Joe Biden. Há um descontentamento da população norte americana com a forma com que Trump tem tratado da pandemia, sempre negando a sua gravidade e atacando a China pelo surgimento do vírus. Enquanto isso, até este momento (02/06/2020), com 1.874 mil casos e 108 mil mortes, os EUA são o epicentro da doença no mundo. Na semana passada a Universidade de Columbia apresentou estudos que se o isolamento dos EUA tivesse ocorrido uma semana antes, dessas 108 mil mortes, 30 mil poderiam ter sido evitadas.  A teimosia do presidente, a sua negação, a sua preocupação com a economia, e mais precisamente com a sua reeleição, tornaram os Estados Unidos como o recordista de casos e mortes do Covid-19.

Como os Estados Unidos são o referencial para o governo brasileiro, não seriam diferentes as atitudes do presidente Bolsonaro. Esse desde o início recusou-se a aceitar a gravidade da doença, menosprezando-a, a ponto de chamá-la de “gripezinha”. Dizendo que era inevitável que 60% da população brasileira seria contaminada. Imaginem, 126 milhões de pessoas, haja hospital, UTI’s e equipamentos para tantos contaminados. O país até o momento registra 558 mil casos (2º. do mundo) e mais de 31 mil mortes (4º. do mundo), dados de 02 de junho de 2020 e a curva da doença em plena ascenção. Como Trump, a maior preocupação do presidente do Brasil é com a economia e com a sua reeleição em 2022. Ele sabe que, para ser reeleito, tem que ter sucesso na condução econômica, através de reformas necessárias e, mais importante, do crescimento do PIB –  já que no primeiro ano do seu governo esse crescimento foi pífio e as previsões para 2020 são catastróficas, queda de dois dígitos.

Da mesma forma que Trump desvia atenção da crise jogando lenha na fogueira na guerra comercial com a China, o presidente Bolsonaro cria as suas próprias crises políticas com o objetivo de desviar a atenção do assunto mais importante do mundo atual, o combate a Covid-19, demostrando o seu desapreço pela vida humana.

Em um mês, o presidente Bolsonaro trocou dois ministros da saúde, e não foram trocas por competência que teriam uma explicação convincente em um momento de buscas de alternativas para combater o vírus, pelo contrário, foram trocas ideológicas. A primeira troca, do ministro Mandetta, foi porque ele defendia e insistia no prolongamento da quarentena para reduzir o contágio das pessoas, a segunda troca, do ministro Teich, foi porque o mesmo recusou-se a adotar o protocolo do remédio cloroquima, outro ponto em comum entre os dois presidentes.

Se não bastasse tudo isso, o presidente do Brasil ainda cria outras crises políticas em outras frentes, como o pedido de demissão do então ministro da Justiça Sérgio Moro acusando Bolsonaro de tentar intervir na polícia federal em benefício da família e amigos. Além da participação do presidente em movimentos contra o STF, contra o Legislativo e a favor da ditadura militar.

Coincidência ou não, as atitudes dos dois presidentes estão resultando em manifestações de ruas, tanto a favor como contra. Nos Estados Unidos há uma semana a população está nas ruas para protestar a morte de um cidadão negro por um policial branco. Artistas, desportistas e outros países (França,  Inglaterra e Brasil, por exemplo) fizeram atos de protestos contra o racismo, todos solidários ao cidadão George Floyd, vítima de um ato de violência absurdo. Há tempos a sociedade americana faz manifestos contra a violência policial, principalmente aos negros e manifestações contra aos desequilíbrios sociais, agravados com a pandemia. E mais uma vez o presidente americano investe contra as manifestações classificando-as como terroristas apelando para o seu perfil negacionista.

Enquanto isso no Brasil, no último domingo (31), iniciou-se uma manifestação a favor da democracia e contra atos liderados e promovidos pelo Presidente Bolsonaro contra as instituições. Torcidas uniformizadas de futebol do Rio de Janeiro e São Paulo foram às ruas e dividiram espaço com os manifestantes a favor do presidente. Confrontos ocorreram nas duas cidades. Outros grupos da sociedade civil estão se solidarizando com às manifestações a favor das instituições e da democracia através dos movimentos criados recentemente como: estamos juntos; somos democracia; basta; #somos70porcento e direitos já. Alguns analistas já comparam esses movimentos com o movimento diretas já da década de 80.

Tudo isso em plena pandemia!

As eleições dos Estados Unidos da América em novembro de 2020 vão dizer se a população aprova ou não as medidas e atitudes do presidente Trump e este resultado antecederá o que acontecerá no Brasil em 2022.

Vamos aguardar para ver e que Deus nos proteja!

** Natural de São Paulo, Marcos Freitas Pereira acumula mais de 25 anos de experiência de mercado. Doze destes anos foram como administrador em cargos de comando na Pousada do Rio Quente Resorts. Exerceu as funções de Gerente de Orçamento e Finanças, Controller, Diretor Estatutário Administrativo Financeiro e Diretor de Relações com o Mercado. Além disso, dois anos como Diretor Superintendente, principal executivo da empresa.

Mestre em Finanças pela Universidade Alcalá – Espanha – 2011, MBA Executivo Internacional – Unip e Universidade de Alcalá – 2011, graduado em Economia pela PUC-SP 1988, pós-graduado na Universidade Corporativa do Grupo Algar, e doutorando em Turismo. Atualmente atua como Sócio da WAM Brasil.

** Crédito da foto de capa: JIM WATSON / AFP

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