*** Por Marcos Freitas Pereira
Tem sido lembrado no noticiário econômico, neste momento de crise da COVID-19, o Plano Marsall, implantado pelos Estados Unidos no ano de 1947 para recuperar a economia da Europa no pós-segunda guerra mundial. Os dados da Europa do pós-segunda guerra são assustadores: a produção industrial reduziu 40% e o setor agrícola reduziu 50% em relação ao período anterior. No total, 17 países foram beneficiados com o plano. Em três anos de duração os resultados foram satisfatórios: o Reino Unido cresceu 3% ao ano em média; a França mais de 6%, a Itália 7% e a Alemanha 12%. Foi aportado pelos Estados Unidos no Plano Marsall o valor, atualizado hoje, de US$ 180 bilhões, correspondente a 4,6% do PIB americano da época.
Como estaria a Europa hoje se este plano não tivesse acontecido após a guerra? Independente de interesses econômicos e ideológicos, o plano foi um sucesso e garantiu uma economia de primeiro mundo ao bloco europeu.
Por que a lembrança agora do Plano Marsall? Alguns analistas citam que este momento, de crise mundial, guarda algumas comparações com o momento do pós-segunda guerra. As nações envolvidas na COVID-19 precisam de um “Plano Marsall” para recuperarem e retomarem o crescimento no futuro próximo.
A economia mundial e, em consequência, a economia brasileira, não sofrerão somente pela quarenta imposta pelos países aos seus cidadãos. Dependendo de cada governo a economia sofrerá mais ou menos em função das medidas tomadas de políticas econômicas, bem como, da velocidade das mesmas, no combater a crise.
As medidas estão sendo tomadas pelos governos e os números são impressionantes, o que denota a gravidade da situação. Comparados com o Plano Marsall de 1947 e com as medidas tomadas na crise de 2008, elas são significativamente maiores.
Os Estados Unidos, o maior país capitalista do mundo, reduziram a sua taxa de juros para menos de 1% ao ano pela primeira vez e promoveu o maior pacote na sua história para estimular a sua economia. Mais de US$ 2 trilhões estão sendo aprovados para: ajuda direto a pessoas de baixa renda; crédito para companhias aéreas; para pequenas e médias empresas; para hospitais e sistemas de saúde e para ajuda a governos locais e estatais. Esta quantia corresponde a 9% do PIB, o dobro do valor usado no Plano Marsall de 1947.
Os países da Europa não ficaram atrás, o Reino Unido vai oferecer 330 bilhões de libras, o que equivale a 15% do PIB. França, Portugal, Itália e Alemanha também abriram os cofres com o objetivo de atenuar e estimular a economia durante e após a crise da Covid-19. Na Ásia, Japão e China estão fazendo o mesmo.
As economias do mundo foram surpreendidas com o efeito devastador da crise sanitária que cobriu a face da terra.
O lado humanitário tem se destacado nas ações destes governos, dinheiro será enviado diretamente para o cidadão que deixou de ter a sua renda de uma hora para outra, em função da quarentena obrigatória. E neste caso mais uma comparação tem sido citada, que é a aplicação da política econômica de renda mínima protagonizada por muitos economistas e cientistas sociais do mundo todo.
As políticas econômicas ditarão o tamanho da crise econômica que viveremos nos próximos meses, enquanto a quarentena tem como objetivo reduzir o contágio, protegendo os cidadãos e evitando um colapso do sistema de saúde, os governos devem agir e agir rapidamente para amenizar este impacto. Na crise financeira de 2008, os governos foram ágeis, inundaram o mercado financeiro de dinheiro, salvaram bancos e agora precisam novamente inundar o mercado de dinheiro para salvar vidas e empresas.
No Brasil, as ações não podem ser diferentes. Vivemos em um mundo globalizado, elas precisam ser focadas, ágeis e competentes no sentido de fazer chegar o mais rápido possível aos beneficiados, cidadãos e empresas.
Preocupações com o aumento da dívida interna, com papel do Estado na economia e com a emissão de moeda em momentos de crise não podem inibir as ações do governo brasileiro para amenizar e para superar a crise. Como o nosso governo tem como referencial o governo americano, conclamo que se livre destes dogmas e copie com eficiência e eficácia as ações dos Estados Unidos, bem como, as ações das grandes nações do mundo.
Esta é a grande oportunidade ao capitalismo demonstrar que a vida humana é mais importante do que os ganhos econômicos e financeiros. Sem vida humana não tem capitalismo, já diria Karl Marx.
Que Deus nos ajude!
** Natural de São Paulo, Marcos Freitas Pereira acumula mais de 25 anos de experiência de mercado. Doze destes anos foram como administrador em cargos de comando na Pousada do Rio Quente Resorts. Exerceu as funções de Gerente de Orçamento e Finanças, Controller, Diretor Estatutário Administrativo Financeiro e Diretor de Relações com o Mercado. Além disso, dois anos como Diretor Superintendente, principal executivo da empresa.
Mestre em Finanças pela Universidade Alcalá – Espanha – 2011, MBA Executivo Internacional – Unip e Universidade de Alcalá – 2011, graduado em Economia pela PUC-SP 1988, pós-graduado na Universidade Corporativa do Grupo Algar, e doutorando em Turismo. Atualmente atua como Sócio da WAM Brasil.