A pandemia provocada pelo novo coronavírus ainda está longe de ter um fim no Brasil. Diante de um cenário ainda muito nebuloso acerca do nosso futuro após todo esse processo, uma coisa é certa, iremos enfrentar, segundo especialistas, a pior recessão econômica da nossa história. O clima de esperança de que viveríamos tempos melhores, que permeou nossos sentimentos em janeiro de 2020, foi substituído por uma incerteza desoladora para nossa economia, que já está patinando desde 2014.
Os números do desemprego que davam sinais de melhora voltaram a patamares assustadores e poderão se agravar ainda mais, após esse período de paralisação. Só para se ter uma ideia, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o País perdeu 1,1 milhão de vagas de trabalho entre março e abril de 2020, atingindo uma taxa de desemprego de 12,6%, o que representa 12,9 milhões de pessoas desempregadas. Esse número, segundo estimativas do próprio governo, poderá chegar a 22 milhões de pessoas até dezembro de 2020.
Não podemos creditar todo esse desastre apenas a essa pandemia, precisamos entender que essas crises econômicas são recorrentes ao longo da história do capitalismo e um fato, até certo ponto, comum, posto que a economia capitalista é cíclica e, de tempos em tempos, passamos por crises. No caso do Brasil, a pandemia somente agravou ainda mais uma crise política e econômica que já se arrasta há um bom tempo.
Em tempos de crise e desemprego, percebemos que há um aprofundamento da desigualdade social e uma maior concentração de renda nas mãos dos mais ricos. Esse cenário é típico do modelo de economia capitalista e foi diante dele que o cooperativismo encontrou terreno fértil na Inglaterra, em 1844, quando foi oficialmente constituída a primeira cooperativa do mundo. Naquele período, a Revolução Industrial começava a provocar mudanças na sociedade mundial e o modelo capitalista dava seus primeiros passos, causando exclusão social e desemprego em massa.
Hoje, diante das incertezas e dos traumas causados por mais uma crise econômica do modelo capitalista, o cooperativismo pode emergir como um modelo de organização econômica que poderá dar respostas concretas às mais variadas demandas da sociedade. Assim como na Inglaterra do século XIX, o cooperativismo surge como uma via que busca combater a concentração de renda e o domínio econômico de grandes grupos, que acabam por monopolizar a produção e a economia. Nesse contexto, o cooperativismo pode ser visto como uma doutrina socioeconômica que visa corrigir o social pelo meio do econômico.
Entendendo que o trabalho é a fonte de toda riqueza e que essa riqueza seja concentrada nas mãos de quem a produz, por isso, o cooperativismo se mostra como a melhor forma de organizar os meios de produção, visando, entre outras coisas, justiça social. Esse modelo de organização da produção e do trabalho, a meu ver, é a melhor forma de superar o desemprego e falta de renda.
Investir no cooperativismo é investir em um modelo de economia solidária, que tem como objetivo não só a geração de emprego e renda, mas também uma forma de garantir inclusão social, através dos meios de produção, o que acaba formando uma integração entre quem produz e quem consome. Além disso, é um modelo econômico que tem a emancipação humana como um dos seus vários objetivos e serve de alternativa à ideia alienante do serviço assalariado proposto pelo capitalismo. O que prevalece é a união e o caráter humano da produção, sem perder o objetivo financeiro estipulado pelo capital.
Por esses motivos, vejo o cooperativismo como a opção mais viável no sentido de superarmos essa crise que se instalou em nosso País e que tem causado um grande desgaste no setor produtivo. Imbuído desse pensamento, a OCB-GO tem desempenhado um importante papel ao promover debates e apresentar soluções sempre pautadas nos princípios do cooperativismo, além da função social que tem desenvolvido, na tentativa de minimizar o sofrimento dos que mais precisam, levando conforto aos desamparados que, com a crise, são os mais vulneráveis.
Valdenor Cabral é diretor administrativo e financeiro da Coopmego (Cooperativa dos Condutores de Motocicletas de Goiás) e conselheiro de Administração da OCB-GO. É graduado e mestre em História, especialista em políticas públicas e possui MBA em Gestão. Atualmente, também é acadêmico de Direito.