*** Por Marcos Freitas Pereira
O setor de turismo do Brasil resistiu a última grande crise da economia brasileira dos anos de 2015 e 2016 quando o PIB caiu em torno de 7%, e na contramão, não só resistiu como o setor cresceu nos últimos anos.
Um dos motivos do crescimento do setor foi em função do acesso de milhões de famílias brasileiras ao mercado de consumo através do aumento significativo da classe média. Este período de crescimento no número de passageiros embarcados na aviação brasileira foi significativo, principalmente, embarques domésticos, favorecendo o turismo interno.
A figura abaixo demonstra o crescimento da classe média no Brasil saindo de 30% da população em 2000 para mais de 50% em 2013, demonstra também crescimento em vários outros países. Este período coincide com o fim da alta da inflação destes países, inclusive no Brasil, bem como, com governos progressistas que focaram a melhor distribuição de renda da população, através de programas de inclusões sociais.
Não se tem mais dúvidas no Brasil da importância do setor de turismo para a economia nacional. Ele é um setor propulsor de renda e de emprego, além, de ter uma cadeia de negócios extensa ao seu redor, (Petrochi, 2001). Segundo o autor, o turismo é o setor mais dinâmico do século XXI.
O turismo é um dos setores mais empregadores de mão de obra na economia de um país. Alguns apresentam no turismo um dos seus principais geradores de renda, entre eles são exemplos: os Estados Unidos, Espanha, México e, mais recentemente, Portugal.
Nos últimos anos, o Brasil tem perdido oportunidades por não privilegiar o turismo como forma de geração de renda e de emprego para o país. O segmento de turismo no Brasil não tem sido pensado estrategicamente pelos seus governantes. O turismo no Brasil é eminentemente interno, o seu potencial é muito grande, já são mais de 208 milhões de habitantes, um mercado consumidor muito atrativo. Além deste mercado consumidor, o Brasil possui muitos encantos naturais, longa extensão de praias tropicais, destinos de serras, destinos ecológicos, ou seja, um cardápio vasto de opções de regiões turísticas. Trata-se de uma indústria recente e que demanda maior profissionalização (Lage e Milone, 2000).
Este cenário mudou completamente com a crise da Covid-19. Desde o último dia 20 de março de 2020, com a decretação da quarentena, hotéis, parques aquáticos, parques temáticos e museus foram fechados, obras de novos hotéis foram interrompidas, as cidades turísticas foram as mais prejudicadas porque o direito e ir e vir foi abolido neste momento de crise.
Por um lado, entende-se que foi uma medida necessária para evitar que o sistema de saúde do Brasil seja saturado e com isso outras doenças e acidentes não possam ser atendidas no sistema. A quarentena tem como objetivo evitar o colapso do sistema de saúde do Brasil.
O setor de turismo atendeu prontamente as medidas, colocando a vida em primeiro lugar, não obstante todas as dificuldades que o setor irá enfrentar nos próximos dias, semanas e meses.
Por outro lado, todo o setor está arriscado a ser desestruturado. Como dito acima, ainda faltava muito para termos um setor de turismo aos moldes dos países da Europa e dos Estados Unidos, agora, teremos que reestruturar após a quarentena, para depois pensarmos em ser uma referência mundial no turismo.
O setor precisa de uma atuação forte do Governo Federal no sentido de amenizar os impactos da falta de receita das empresas. A demora destas medidas pode ser mais um agravante para o setor. O governo gastou, nos anos de Fernando Henrique Cardoso, quase 3% do PIB com o programa PROER para salvar os bancos, agora, precisa gastar um pouco mais para salvar a economia brasileira. Países da Europa já anunciaram planos de gastos acima de 10%, os Estados Unidos acima de 5% do PIB.
Portanto, o setor de turismo, conclama ao governo federal, agilidade na implantação e implementação nas medidas econômicas que salvarão o Brasil e o setor de turismo, evitando mais desemprego.
** Natural de São Paulo, Marcos Freitas Pereira acumula mais de 25 anos de experiência de mercado. Doze destes anos foram como administrador em cargos de comando na Pousada do Rio Quente Resorts. Exerceu as funções de Gerente de Orçamento e Finanças, Controller, Diretor Estatutário Administrativo Financeiro e Diretor de Relações com o Mercado. Além disso, dois anos como Diretor Superintendente, principal executivo da empresa.
Mestre em Finanças pela Universidade Alcalá – Espanha – 2011, MBA Executivo Internacional – Unip e Universidade de Alcalá – 2011, graduado em Economia pela PUC-SP 1988, pós-graduado na Universidade Corporativa do Grupo Algar, e doutorando em Turismo. Atualmente atua como Sócio da WAM Brasil.