Goiânia recebe nesta quinta e sexta-feira, 19 e 20 de setembro, a primeira edição da Bienal dos Negócios Florestais em Goiás. O evento busca promover a melhoria do ambiente de atuação dos produtores e demais empresários inseridos na cadeia produtiva de florestas plantadas no Estado, além de provocar reflexões, fortalecer a cadeia produtiva florestal na região, para apresentar ao mercado o potencial que a silvicultura goiana tem no agronegócio, gerar negócios entre produtores e demais empreendedores da cadeia florestal e, ainda, estabelecer canais de comunicação entre os elos desta cadeia.
A iniciativa busca atender uma preocupação de empresários do setor produtivo, sobretudo na disponibilidade de matéria-prima para a indústria de base florestal no Estado e para o setor de bioenergia. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017 mostram que Goiás plantou cerca de 166.458 hectares de florestas (grande parte de eucalipto, voltado à indústria da bioenergia) e que a produção de lenha por meio da silvicultura cresceu mais de três vezes, saindo de 679.755 m³ no ano 2000, para 2,81 milhões de m³ em 2017. No entanto, os números ainda são pequenos, frente à demanda existente dentro do próprio Estado. Há relatos, inclusive de produtores comprando madeira de outros estados, pela insuficiência de oferta local.
De acordo com o secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Carlos de Souza Lima Neto, a silvicultura é uma área importante para a economia goiana e o Estado tem buscado dar a atenção necessária para o seu desenvolvimento. “O setor começou a se mobilizar mais fortemente neste ano de 2019, como quando realizamos em maio um seminário na Secretaria para tratar do potencial do setor florestal para o Estado. É uma questão estratégica de interesse de produtores, empresários do segmento industrial e da população como um todo. Essa integração em prol do segmento florestal é importante e com certeza trará resultados a todos os envolvidos. A Bienal dos Negócios Florestais é mais um passo nesse fortalecimento extremamente necessário para a economia do Estado”, afirma.
Segundo especialistas do setor, se planejado e devidamente estruturado, o potencial de crescimento da cadeia é vasto e inclui questões econômicas, ambientais e sociais. “Desde o aumento de plantios florestais à consolidação de novas fronteiras florestais brasileiras, passando pelo desenvolvimento de novos mercados – indústrias de transformação, bioenergia e serviços ambientais – até a consolidação do modelo de cluster florestais e da utilização do eucalipto como multiproduto, o potencial pode ser visto a curto, médio e longo prazo”, explica o superintendente de Produção Rural Sustentável da Seapa, Donalvam Maia.
Ele completa o raciocínio destacando, ainda, o “aumento da importância da silvicultura no controle das mudanças climáticas, com reconhecimento e a valoração dos créditos de carbono gerados pelas florestas em crescimento e a maior representatividade do setor florestal para a economia do País”. Outro ponto observado pelo superintendente é o potencial edafoclimático do Estado para a produção de florestas plantadas e a possibilidade de utilização de áreas degradadas ou subutilizadas.
Cenário
Se observada a cadeia em nível nacional, é possível notar que as florestas plantadas respondem por 91% de todo o produto industrial nacional produzido a partir de madeira e o restante vem de manejos legais de baixo impacto para retirada de madeira de altíssimo valor. Os dados são do Anuário 2018 da Indústria Brasileira de Árvores (IBA), que apontam superávit desse setor de 9 bilhões de dólares, em 2017 – um aumento de 15% em relação ao ano anterior.
Nas exportações, o Anuário indica, ainda, que 3,9% do total é proveniente das indústrias de base florestal. A receita bruta, em 2018, do setor foi de R$ 73,8 bilhões, correspondendo a 1,1% do PIB Nacional e 6,1% do PIB industrial, contribuindo para a geração de 508 mil empregos diretos e 3,19 milhões de empregos indiretos. Quando se trata de investimentos, a cadeia soma montantes de R$ 3,2 bilhões sobre florestas e R$ 3,5 bilhões nas indústrias de base florestal.
“Com relação a Goiás, o Estado ainda desenvolve pouco o setor, se observado o potencial de culturas agrícolas baseadas nas florestas plantadas. Mas o Governo de Goiás, por meio da Seapa, tem atuado na promoção de desenvolvimento de cadeias produtivas, incluindo o setor florestal, além de ter representante no Grupo Gestor da Silvicultura Goiana”, acrescenta o secretário Antônio Carlos.
O Grupo Gestor inclui, além da Seapa, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Goiás), Sistema Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Sistema Faeg Senar), Sistema Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Associação Goiana de Engenheiros Florestais (Agef), Universidade Estadual de Goiás (UEG), Universidade Federal de Goiás (UFG).
Potencial produtivo e rentabilidade
Em termos de rendimento e produtividade, o superintendente de Produção Rural Sustentável da Seapa, Donalvam Maia, explica que o eucalipto, por exemplo, com sete anos pode ser cortado para bioenergia (lenha, cavaco e carvão). “Esse tempo é considerado uma vantagem competitiva do Brasil, se comparado a qualquer outro player florestal no mundo, dado ao nosso clima e ainda tem a questão do valor de venda”, considera. Segundo o gerente, existem registros do eucalipto com uma base de R$ 700 por hectare ao ano no fluxo de caixa ao fim do ciclo, com produtores lucrando de R$ 1.000 a R$ 1,2 mil por hectare ao ano.
Para o superintendente, números expressivos como esses envolvem manejo adequado da cultura, com uso do clone correto e técnicas assertivas. “Entre os desafios do setor, está o desenvolvimento de cultivares por meio de melhoramento genético, com pesquisa e investimentos no setor. Mas temos como vantagem sistemas como Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) que proporcionam incremento na lucratividade a médio e longo prazo, com redução no custo de produção, manejo adequado de solo e água, bem-estar animal e aumento produtivo vegetal e animal”, salienta.
Outro fator de impacto positivo tem a ver direto com a questão da sustentabilidade. Conforme explica Maia, o setor florestal contempla vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) fundamentados pela Organização das Nações Unidas (ONU), por ser economicamente viável, ambientalmente sustentável e socialmente justo. “A profundidade das raízes, por exemplo, proporciona drenos que reabastecem as camadas mais inferiores, retendo umidade no solo contribuindo para o ciclo hídrico local. Tem ainda a questão dos créditos de carbono, que é um mercado ainda pouco explorado pelo Brasil. Com tudo isso, a visão de longo prazo e o valor agregado da madeira propiciam menor desperdício, enfatizando a sustentabilidade das culturas florestais”, completa.
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