Em Goiânia, organizações apostam na honestidade do brasileiro

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Notícias diárias sobre pagamento de propina, desvio de verbas públicas, superfaturamento de obras e outros crimes reforçam um triste estigma de que a corrupção no Brasil está impregnada em nossa cultura. Dado da organização Transparência Internacional aponta que o País passou a ocupar a 105ª colocação no ranking de percepção de corrupção. Entre 2018 e 2017 caímos nove posições no levantamento e desde 2012, quando ocupávamos a 69ª colocação, o País caiu 27 posições. O levantamento é feito entre 180 nações.

Mas apesar deste prospecto negativo, iniciativas querem mostrar que a honestidade é um valor para muitos brasileiros. Em Goiânia, empresas estão apostando que as pessoas não só prezam esse valor social, como o praticam no dia a dia. É o caso, por exemplo, da Dinâmica Engenharia, que recentemente cedeu um de seus terrenos para servir como uma praça de convivência para a prática de pingue-pongue, na Rua T-30, no Setor Bueno. No local foi disponibilizado, gratuitamente, uma mesa para prática da modalidade, bem como raquetes e algumas bolinhas, e para tomar conta desse equipamento e empresa não deixou ninguém, e conta com o senso de honestidade e responsabilidade da população que frequenta o espaço.

O diretor da construtora, Mário Valois, explica que, além de proporcionar um novo espaço de convivência para a família, em especial para estudantes e pais que frequentam as várias escolas naquela região, outro objetivo foi demonstrar que a honestidade faz parte da cultura dos brasileiros. “Estou certo que as pessoas vão entender e preservar o espaço”, comenta.

A aposta de Valois tem dado certo. Desde o lançamento do espaço, há pouco mais de duas semanas, não houve nenhum furto dos materiais disponibilizados no local. “É mais uma prova de que não podemos perder as esperanças no povo brasileiro. Acredito que estamos evoluindo como sociedade e teremos bons resultados nos próximos anos”, explica.

Iniciativa

Ainda em Goiânia, outras iniciativas também apostam e incentivam a prática da honestidade. É o caso do projeto “Valor da Honestidade” desenvolvido pela organização não-governamental (ONG) Mais Ação. A iniciativa disponibiliza em vários pontos da cidade bancas, com várias guloseimas como chocolates, balas e chicletes, que são ofertadas ao valor de R$ 2,00. Assim como na praça disponibilizada para a prática de pingue-pongue, as bancas não possuem nenhuma pessoa vigiando ou fiscalizando os produtos. Quem se interessar pega o produto que deseja e deposita o valor referente num repartimento da banca, voluntariamente.

As 22 banquinhas do projeto, que existem há sete meses, estão localizadas em cartórios, faculdades, Vapt-Vupts e empresas privadas. De acordo com o idealizador da iniciativa, Leandro Sena, a taxa de “esquecimento” de pagamento chega a 35%, o que demonstra que a grande maioria entende a proposta do projeto. “A honestidade não é uma virtude, mas uma obrigação de cada cidadão. O principal objetivo do projeto é despertar a importância de agirmos com ética e honestidade, inclusive quando não estamos sendo observados”, diz Sena.

Percepção

Ambas as iniciativas citadas acima têm o objetivo de despertar a reflexão sobre a importância da honestidade entre os cidadãos. Para o professor de ética do programa de pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Adriano Correia Silva, os brasileiros reconhecem o valor e a importância em ser honesto, mas segundo ele, grande parte da nossa população tem uma percepção distorcida sobre o que é de fato a honestidade.

“Geralmente, tem-se sempre um ‘bode expiatório’ que são os políticos. Então, tudo que há de errado é deslocado para os políticos e acaba provocando uma cegueira sobre os nossos próprios atos”, alerta  o professor.

Para ele, a corrupção não está apenas no ato de dar ou receber propinas, situação que envolve, geralmente, grandes quantias de dinheiro envolvendo políticos e empresários, mas também nos pequenos atos. “Passar no semáforo vermelho, por exemplo, parece ser uma corrupção menor, mas isso tem relação direta em compreender a dimensão do espaço comum”, diz o acadêmico. “Deve-se respeitar o simples princípio que faz o semáforo ser vermelho e a sociedade que eu faço parte”, completa.

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