Em um mundo onde a redenção parece ser uma realidade distante, a história do jovem Murillo Carizzio,  31 anos, fundador da El Patron Platas, desafia o senso comum e se torna uma ode à superação. Após um período na cadeia, ele teve uma reviravolta digna de filme, construindo uma marca de joias de prata que faturou R$ 4,5 milhões em 2023 e deve fechar 2024 com receita de R$ 6 milhões.

No mercado desde 2014, a El Patron Platas é referência em todo território nacional, especializada em pratas italianas. A linha de produtos inclui anéis, brincos, correntes, escapulários, pingentes e pulseiras.

Os planos são ambiciosos: além da matriz em Goiânia, responsável pelo e-commerce, vai abrir a primeira loja física até junho deste ano, em São Paulo, no Shopping Itaquera; e abrirá outras cinco unidades próprias para, no futuro, expandir a El Patron via o modelo de franquias, começando pelo Sudeste e Sul do país, onde a marca já é bastante conhecida.

Murillo também atua como atacadista, vendendo as peças com outra marca, e avalia a possibilidade de incluir produtos femininos em seu catálogo, ampliando os públicos-alvo. Além disso, pretende entrar no mercado norte-americano. Naquele país, segundo ele, faltam opções de peças de prata intermediárias – existem apenas bijouterias e joias de alto valor.

Um erro com consequências severas

Em 2013, a vida de Murillo Carizzio tomou um rumo inesperado. Na mesma época em que cursava direito, o jovem, então com 21 anos, cometeu um erro que o levou à prisão. Mas, longe de se entregar à resignação e às consequências de seu erro, ele enxergou na adversidade uma chance de recomeçar.

Ao ser libertado, em 2014, Murillo estava determinado a construir um futuro diferente. E uma vaga de emprego em uma grande empresa parecia a oportunidade perfeita para isso. No entanto, um dígito errado no número de telefone colocado no currículo levou o empregador a fazer uma busca online, que acabou revelando o passado de Murillo e fechando as portas para sua nova carreira.

Nesse momento, surgiu a grande virada. Um encontro com um fornecedor de sua namorada da época, que nas horas vagas vendia semi joias pela internet para pagar a faculdade, apresentou Murillo ao universo das correntes de prata, despertando seu interesse em empreender no segmento. Foi assim que, com apenas R$ 500, que obteve por empréstimo da própria namorada, ele iniciou a venda de peças masculinas em grupos do Facebook, ainda durante a faculdade de direito.

Na época, Murillo estava determinado a fazer a diferença e encontrou no empreendedorismo o caminho para a redenção e a realização pessoal. O jovem enxergava na criação de um negócio a oportunidade de gerar renda, oferecer oportunidades para outras pessoas e, principalmente, demonstrar que era capaz de construir algo positivo e significativo.

Em 2017, Murillo conheceu aquela que se tornaria sua esposa e, em pouco tempo de relacionamento, os dois descobriram que ela estava grávida. Naquele momento, ele fazia estágio em um escritório de advocacia para aprender o ofício e pagar sua defesa. A notícia da gravidez, porém, o levou a um choque de realidade e à necessidade de se dedicar integralmente à El Patron para garantir o sustento da família.

O nascimento da El Patron

Inicialmente chamada Dallas Joias, em busca de maior visibilidade e maior ganhos Murillo modificou o nome da empresa para El Patron, inspirado na série “Narcos”, que conquistava o público na época. Se o protagonista da série, o colombiano Pablo Escobar, usava o jargão “plata ou plomo” (“prata ou chumbo”), a El Patron adotaria a ideia de “Plata o Plata” (“prata ou prata”).

Em 2018, Murillo percebeu a importância do branding e firmou uma parceria com a empresa de audiovisual Strawberry Create. Essa união estratégica impulsionaria a construção de uma imagem de ostentação e conexão com o mundo do hip hop. Dentro da estratégia, a El Patron começou a firmar parcerias com MCs e influenciadores do mundo do hip hop, o que se tornaria um trunfo para o crescimento da empresa.

O vínculo com o artista Xamã se iniciou em 2018, abrindo portas para futuras colaborações com outros nomes conhecidos, como Hungria e Filipe Ret  . Hoje consolidada no meio do hip hop, a El Patron mapeia o público do skate, funk e toda cultura em torno desses movimentos, para expandir sua base de clientes, já que o público principal da marca tem entre 18 e 35 anos, com a maior concentração na faixa etária de até 25 anos.

Em 2019, a vida de Murillo sofreu mais um revés. Com o negócio em pleno crescimento e uma criança pequena em casa, um novo mandado de prisão o levou de volta ao cárcere. O processo do crime cometido em 2013 tinha chegado ao fim, gerando uma condenação de seis anos e dois meses de prisão. Ele ficou dois meses atrás das grades esperando a tornozeleira eletrônica ficar disponível para que pudesse cumprir o restante da pena em regime semi-aberto.

Preso por algo que não cometeu

Em janeiro de 2020, um novo mandado de prisão, desta vez por conta de um crime que não cometeu. Foi condenado injustamente a mais cinco anos e quatro meses. As condições precárias do presídio e as injustiças que presenciou o marcaram profundamente. Seu inconformismo e a insistência em lutar por seus direitos o colocaram em rota de colisão com o sistema prisional, o que chegou a resultar em uma breve transferência para o regime fechado, mesmo sem autorização judicial.

Graças à intervenção do advogado e à comprovação da irregularidade na transferência de regime, Murillo conseguiu retornar ao semiaberto, encerrando definitivamente seu ciclo prisional em 2020.

Leitura em busca de um futuro melhor

Durante o tempo na prisão, Murillo encontrou na leitura uma forma de buscar conhecimento para a nova fase que projetava para o futuro como empreendedor. E, na escrita, encontrou uma forma de expressar seus sentimentos, reflexões e sonhos. Escrever se tornou uma ferramenta de cura e de desabafo, além de uma forma de lidar com o passado e buscar a construção de um futuro melhor – na cadeia, compôs raps que relatam suas experiências e a transformação pessoal que vivia.

Sua história também o levou a escrever um livro. A obra, que acaba de ser lançada e tem como título “Da Prisão ao Milhão”, se tornou um testemunho de sua trajetória de esperança e resiliência.

“A história do Murillo me inspira”, diz MC Thiagão no prefácio do livro. “Alguém que passou pela cadeia, estudou lá dentro, buscou conhecimento para advogar em causa própria, conhecer seus direitos dentro de sua condenação, alguém que correu atrás de seu ganha pão honestamente e se tornou um empresário de sucesso, um homem de família e referência para muita gente.”

Apesar das dificuldades enfrentadas na cadeia e com o afastamento da família, Murillo saiu do presídio ainda mais motivado para recomeçar sua vida e recuperar o tempo perdido. Mais do que nunca, ele estava determinado a construir um futuro melhor para si, sua família e para todos que acreditavam em sua história. É assim que, impulsionada pelo talento e pela garra de Murillo, a El Patron – que começou com um investimento de apenas R$ 500 – cresce exponencialmente.

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